O mês de junho se encerrou indicando uma queda de tão somente 0,25% no preço da moeda americana no mercado de câmbio brasileiro, acumulando no semestre findo valorização de 16,90% frente ao real.
A variação de 0,25% deixa a impressão de um ambiente extremamente calmo, mas, ao contrário, houve uma volatilidade constante que chegou a atingir até 2,5% no dia, o que deixa evidente que há uma atipicidade na formação do preço do dólar no nosso mercado.
O ajuste na taxa cambial ocorrido só foi possível quando o Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, bradou que o preço do dólar não devesse ser artificializado em prol do controle da inflação, e então o preço foi ajustado pelo mercado agregando rapidamente a parcela do preço que estava sendo contida e não se reproduzia no preço.
O governo brasileiro focava então dar um grande estimulo à indústria nacional bastante deteriorada para ganhar atividade, sendo pelo fato de aumentar substantivamente a sua competitividade com o produto importado no nosso mercado interno e/ou pelo aumento da competitividade dos produtos brasileiros no mercado externo.
Além disto, na medida em que ofertava uma remuneração recorde aos capitais estrangeiros com a taxa SELIC bastante elevada, buscava neutralizar o fator que poderia contingenciar a atratividade pelo país por parte de investidores especulativos, ou seja, o risco cambial que era muito latente.
Lamentavelmente, a exemplo do que também ocorre com o ajuste fiscal que leva a atividade econômica do país a ampliação da sua deterioração e a uma profunda recessão com todos os seus efeitos consequentes, o ajuste do preço da moeda americana não foi estimulo bastante para que a indústria nacional restabelecesse o clima de otimismo, muito pelo contrário, um tanto quanto descrente no governo, a indústria passou a revelar-se cada vez menos ativa em linha com o ritmo que se presencia na economia brasileira.
Observemos então os dados do setor externo.
Dos ingressos financeiros líquidos ingressados no 1º semestre até 26 de junho da ordem de US$ 16,19 Bi líquidos já foram retornados ao exterior US$ 13,35 Bi líquidos, resultando um saldo liquido de fluxo financeiro de US$ 2,84 Bi. Se considerados os movimentos mais agudos ocorridos em março e abril com predominância de ingressos de capitais especulativos atraídos pela alta taxa de juro, dos US$ 12,07 Bi líquidos ingressados, observamos na sequência de maio e junho que saíram do país US$ 11,64 Bi líquidos, a quase totalidade. O país apesar do juro elevado desde abril deixou de atrair ingressos financeiros com superávits e o fato do fluxo cambial estar positivo em US$ 11,86 Bi até o momento se deve a participação relevante do saldo comercial positivo de US$ 9,03 Bi. Contudo, aqui cabe uma observação importante, há um saldo à contratar câmbio de importações efetivas ainda não pagas da ordem de US$ 14,5 Bi, que tende a tornar o fluxo comercial liquido negativo na medida em que for sendo contratado.
Em perspectiva há grande probabilidade de o fluxo cambial total vir a se tornar negativo a partir do 2º semestre deste ano.
Em maio o fluxo cambial foi negativo em US$ 2,077 Bi e em junho até o dia 26 está negativo em US$ 3,933 Bi, e esta surge como uma tendência sustentável.
Este fato de ocorrência de fluxos negativos é que efetivamente tem permitido ao BC a redução gradual de oferta de contratos de swaps cambiais, pois a demanda diminui, mas reduzir a oferta do instrumento que compra a credibilidade para a moeda nacional evitando que dispare exacerbadamente o preço não é tarefa fácil e pode até ser revertida em caso de pressão maior sobre o preço da moeda americana decorrente de fatores diretos da economia brasileira e indiretos provocados por fatores externos impactando na fragilidade do país. A demanda por hedge por parte das empresas estrangeira pode se deslocar da CETIP (SA:CTIP3), onde protegem os riscos comerciais com contratos a termo, para a BM&F para proteger os ativos fixos, e então o BC terá que aumentar novamente a oferta dos contratos de swaps cambiais.
No atual contexto macroeconômico brasileiro onde ocorrem números desapontadores na política fiscal e que colocam em risco efetivo a perda do grau de investimento pela baixa perspectiva de ser alcançado o superávit primário e mais, aumento substantivo da divida bruta do país, a inflação já projetada em 9% para este ano, porém revelando potencial para superar esta projeção indo a 10%, juros SELIC com tendência de mais elevações, sinais de queda mais intensa do PIB consequente da perda de atividade econômica, desemprego, queda de renda e consumo, etc. e onde pontifica, mais uma vez, um enorme déficit em transações correntes, não há fator ou fatores que deixem de impulsionar a taxa cambial do dólar para cima.
Então, neste ambiente de temores drásticos com a perda do grau de investimento não é razoável a ocorrência de oscilações diárias da ordem de 1% até 2,5% e atribuir-se as mesmas causas externas.
Os problemas brasileiros são muito maiores e preocupantes do que quaisquer problemas externos no momento.
Todos sabem que o efeito da crise grega é limitado em nosso mercado de câmbio, até porque o problema em torno da Grécia é sobejamente conhecido e as repercussões maiores se ocorrer um “default” serão na euro zona e nos credores, com baixa repercussão no Brasil, mas no nosso mercado se maximiza todas as nuances das negociações para induzir ao entendimento de que a Grécia é a causa das mutações de preço no mesmo dia.
A perda do grau de investimento seria a consequência de causas geradas pelo Brasil, e provocaria uma saída obrigatória de recursos externos que não podem ser aplicados em países que não detêm esta referência. Portanto, é um fator que deve intensificar a precificação no preço da moeda americana, sendo um fator de alta.
A elevação do juro nos Estados Unidos parece ser um fato propenso a ser transferido pelo FED para o ano que vem, visto que o fortalecimento do dólar não é algo desejável pela economia americana neste momento, pois afetaria a competitividade de seus produtos no comércio exterior.
O que se viu ao longo do mês de junho foi a ocorrência de operações de daytrade no mercado de câmbio que provocaram as oscilações absolutamente atípicas ao longo dos dias, tendo como pano de fundo a valorização máxima de fatos até irrelevantes ocorridos no exterior para justificar os movimentos, que contudo foram orquestrados aqui mesmo para viabilizar as subidas e descidas desprovidas de fundamentos críveis.
Temos que relembrar a velha máxima: “Em câmbio nem tudo que se vê é exatamente o que parece”.
O BC precisa ser mais operacional na oferta de rolagem dos contratos de swaps cambiais, não manifestando previamente o quanto rolará no mês e, também, precisa rever os horários para fixação da Ptax diária visando neutralizar movimentos pontuais no mercado de câmbio.
O viés do preço do dólar continua sendo de alta, inexistem fatores que possam motivar reversão, e atualmente já é razoável projetar-se taxa para o final do ano superior a R$ 3,20, nossa projeção realizada em dezembro de 2014, pois o cenário vem se deteriorando com maior intensidade do que se projetava e a economia vem se revelando cada vez mais fragilizada e o país menos atraente aos investidores externos.
Não consideramos exagero revisar a projeção da taxa do dólar para o final do ano para R$ 3,40.