O hoje será óbvio amanhã
Investidores começaram o dia no front europeu preocupados. Ontem, Libra se desvalorizava ante a perspectiva de um discurso duro por parte de Theresa May quanto aos próximos passos do Reino Unido porta afora da União Européia...
Aí ela vem e faz precisamente o que, no plano das ideias, todos esperavam. O resultado? Libra se valoriza fortemente. Ué?
Não temam: não dou 24 horas para que os especialistas se recomponham para, equipados com suas gravatas Hermés e uma nova narrativa à qual o desenrolar dos fatos se encaixe com perfeição, afirmar que o efeito era óbvio ante a causa - igualzinho ao que se seguiu à eleição de Trump.
Jim, é você?
No mesmo espírito de montanha-russa, nossa Bolsa operava quase no zero-a-zero no começo do dia, acentuou perdas na hora do almoço e já voltou ao campo positivo. Destaques positivos são nomes de mercado doméstico. Para exportadoras, o dia é predominantemente ruim.
Lá fora, declarações da premier britânica dividem atenções com falas de Trump: às vésperas de sua posse, Donald declarou que dólar está supervalorizado - em parte, por conta da política cambial chinesa. As guerras cambiais de Jim Rickards mandam lembranças.
Tanto a Bolsa americana quanto o principal índice europeu operam sem oscilação significativa neste momento.
Merece algum destaque o ouro, que está na sétima sessão consecutiva de alta. Lembrei do Jim de novo...
Desencane de acertar na mosca
Mercado extraiu, da ata do Copom, leitura de que porteiras estão abertas para a queda continuada dos juros no ritmo da última reunião.
Com expectativas de juros de um dígito, a briga agora é pela inflexão do PIB (como falávamos ontem, aliás). Todos querem acertar a quanto vai e quando será a virada do indicador. Contribui para isso o discurso de Meirelles - que, com maior ou menor convicção a depender do momento, dá sinais de que o produto já deve mostrar crescimento no trimestre em curso.
A obsessão do mercado é acertar o traseiro da mosca: isso dá audiência; transmite ao leitor a sensação de que o cara SABE antecipadamente e com exatidão o que vai acontecer, quando e como. Não se iluda: eles não sabem, da mesma forma que nós não sabemos.
Eu quero é hoje
Todo mundo fica feliz com boas perspectivas de longo prazo — mas se tiver como ganhar dinheiro hoje, melhor ainda.
Salvo raras exceções, o pequeno investidor é curto-prazista. A despeito de ser amplamente sabido que os casos de maior sucesso na história do mundo dos investimentos são fruto de estratégias profundamente entediantes, é da natureza humana (e fenômeno muito bem estudado) buscar recompensas imediatas.
Não me entenda mal: isto não se trata de uma manifesto contra o trading. Pelo contrário: oportunidades selecionadas podem ser aproveitadas, mas como estratégia que visa gerar retorno adicional a um portfólio bem estruturado mas e não em substituição a ela. É perfeitamente ok usar parte do seu capital para girar no curto prazo se assim o quiser, mas não fazer só isso com seu dinheiro.
Se quiser fazer, faça direito: trading é coisa séria; requer disciplina e sangue frio. OTrader PRO está aí para ajudá-lo neste front.
Pedaladas fiscais
Atende por normalcy bias ("viés de normalidade") o viés cognitivo em função do qual nós, homens e mulheres sapiens, tendemos a subestimar a probabilidade e o potencial efeito de eventos adversos. É nosso impulso primal supor que algo jamais dantes visto nunca acontecerá. O entendimento deste comportamento é componente importante na prevenção de desastres y otras cositas más.
Autoridades da província chinesa de Liaoning reconheceram que dados fiscais foram objeto de adulteração no período de 2011 a 2014. Pedalada fiscal não é exclusividade brasileira.
Liaoning é uma das províncias mais industrializadas da China - e, por consequência, berço de parte dos excessos de capacidade aos quais há tempos o mercado dispensa atenção. Dentre outras coisas, detém as maiores reservas de minério de ferro do país e abriga a famigerada bolsa de commodities de Dalian, cujos preços de futuros de minério de ferro entraram no radar de investidores em anos recentes.
Mas não: tudo está maravilhosamente bem na China! Foi o que disse o presidente Xi Jinping em Davos! Não importa o que aconteça: o governo vai dar um jeito!