A ilha da fantasia
A Bolsa brasileira disparou ontem e sobe forte hoje, completamente desconectada da realidade.
Alô, alô, planeta Terra chamando...
o dólar bateu ontem no maior patamar dos últimos 12 anos, a R$ 2,38
- commodities voltam a despencar: o petróleo foi a US$ 42 por barril
os mercados do mundo todo estão em estado de apreensão para a reunião do Federal Reserve, hoje, que pode ter consequências traumáticas (falarei disso) A agência Fitch está no País e deve anunciar a sua posição sobre o rating brasileiro até a próxima semana
A popularidade da presidente Dilma atingiu o pior nível desde o impeachment de . , dificultando ainda mais o ajuste fiscal.
O Dil(e)ma
O gráfico abaixo talvez seja o mais enfático em muito tempo:
Por que raios isso tem, sim, desdobramentos sobre o PIB, os juros, a inflação, a taxa de desemprego?
Pois praticamente inviabiliza o ajuste fiscal, que já deparava grandes barreiras no Congresso. Como a presidente poderia inverter esse quadro e aliviar tamanha insatisfação popular?
Com medidas populistas.
Mas, por óbvio, isso custa.
Das duas uma:
1. Dilma toca o ajuste fiscal e vê sua popularidade derreter ainda mais, a níveis sem precedentes, ou
2. abandona o ajuste fiscal, agravando a situação da economia e voltando às políticas populistas que geraram o rombo nas contas públicas e a necessidade de alteração da lei de Responsabilidade Fiscal.
O desfecho
Só há um caminho possível, como Dilma bem disse (a Lula): acabou a verba.
Isso torna o ajuste fiscal condição sine qua non.
Ufa. É o caminho impopular, custoso no curto prazo e médio prazo, mas correto pensando no longo prazo e na recuperação da dinâmica e da capacidade de crescimento da economia brasileira.
Agora, "se não tem verba, que se use o verbo"?
Não foi justamente isso, a desconexão entre discurso e ato, que ajudou a destruir a popularidade da presidente?
A pergunta de um milhão de dólares
Agora, porque essa reunião do Banco Central americano gera tanto barulho?
No final das contas, todo mundo já não espera que eles tirem a palavra “paciência" do comunicado, mas mantenham os juros em zero pelo menos até julho, ou setembro?
Pois estamos diante de um evento de de consequências traumáticas e direção única (independentemente quando, o Fed irá subir os juros, e certamente não reduzirá o que está em zero).
Explico.
Há sete anos os Bancos Centrais assumem para si as mazelas da crise de 2008, das hipotecas de alto risco. Como? Injetando trilhões de dólares no sistema financeiro.
Isso impediu consequências desastrosas da crise sobre as economias, e inflou os mercados de liquidez.
No entanto, colapsou com o balanço dos principais Bancos Centrais do mundo, que atingiram níveis insustentáveis. É exatamente essa a polêmica tese do bode expiatório (10 anos de recessão), que lançamos essa semana.
Não podemos simplesmente abandonar o bode dos Bancos Centrais no deserto. Alguma hora isso voltaria para a sociedade.
Se acabou a “paciência" do Fed, vai acabar a farra de liquidez dos mercados, e a conta vai chegar.
Se vai chegar hoje, em junho, julho ou setembro é o que todos querem saber.
Mas vai chegar.
Eu vejo o futuro repetir o passado
Sabe a Grande Depressão, ou o crash de 1929?
É, grosso modo, a situação que acabei de descrever acima.
Qual a solução encontrada para lidar com as mazelas daquela crise? O “new deal”, um conjunto de medidas de injeção de dinheiro e intervenções do governo na economia para garantir o emprego dos trabalhadores e reviver a economia da depressão.
Oito anos depois, porém, veio a conta: o “double dip”, a recaída, ou o novo tombo no momento de reversão da política de estímulos.
Para os mercados, representou uma correção súbita de mais de 30%.
É o que temos alertado a algum tempo. É o que alerta manchete de hoje:
Déjà vu?