Coerência
Adentramos uma zona curiosa:
Depois de um bom tempo brigando pela necessidade de reajuste para cima no preço dos combustíveis no mercado interno, algo que (na falta de...) estava destruindo o fluxo de caixa da Petrobras.
Agora, com a estatal em frangalhos, defendemos um reajuste para baixo.
Pode parecer contraintuitivo, mas, na verdade, é o mínimo da coerência.
Petrobras e outros grandes players no mercado interno estão aproveitando de uma arbitragem gigantesca (superior a 30%) em relação aos preços internacionais das commodities para fazer margem no mercado interno.
Sob a ótica da Petro, funciona como uma espécie de “vingança”, devolvendo ao menos parte do gigantesco rombo de anos e anos de prejuízo imposto à sua política de importação de combustíveis.
Mas, sob ótica mais ampla, não pode haver tamanho desalinhamento para os preços internacionais. No fundo, só estamos pregando convergência, ou algum alinhamento. Congelar preços ignorando a existência de uma crise mundial de commodities é a grande discrepância aqui. O consumidor não pode pagar (mais essa) conta.
O Cartel
Entendo que um reajuste para baixo no preço dos combustíveis no mercado interno é algo inevitável, questão de pouco tempo.
Não é sustentável permitir um mercado extremamente oligopolizado balizando preços em total discrepância em relação aos níveis internacionais, beneficiando-se de uma oportunidade de arbitragem. Por conta de uma política econômica ruim do passado, o consumidor paga uma conta enorme agora? Não pode ser assim.
No caso de não reajuste para baixo, parece-me uma questão, inclusive, para intervenção do Cade.
Da mesma forma, quando a arbitragem era desfavorecia à empresa, a CVM ou junta de acionistas deveria intervir pela destruição de valor consentida à empresa.
O TAMANHO do problema...
O petróleo bruto (Crude) já é negociado abaixo de US$ 45 por barril no mercado internacional, colocando em xeque a viabilidade dos projetos do pré-sal e escancarando - para ontem! - a necessidade de Petrobras revisar o seu plano de investimentos.
Tenho batido nessa tecla, desculpem-me a recorrência, mas trata-se de questão de extrema urgência sim: a companhia dimensionou seus projetos e sua dívida a partir de um cenário que não existe mais, de petróleo acima de US$ 100 por barril.
Cenário que para alguns, como o príncipe saudita Talal nunca mais irá acontecer.
O problema é que o cenário esperado foi embora, mas a dívida fica.
A inversão do ciclo
Abaixo você pode ver o gráfico do índice de commodities globais da Bloomberg:
Para quem ainda ignora a inversão de ciclo das commodities, o gráfico é um tanto enfático.
Pelo gráfico, fica claro que as únicas vezes que o mesmo indicador caiu tanto em tão pouco tempo foram em 1999 e em 2008.
Ou seja: ambos antes de crashs das ações em nível mundial.
A disparada do medo
O índice VIX, tido como o índice do medo, subiu nada menos que 11,7% ontem, atingindo 19,60 pontos.
A coisa tem funcionado mais ou menos assim nos últimos anos: quando o Vix se aproxima de 10 pontos o mercado começa a dar sinais de euforia, quando ultrapassa 20 pontos, sugere um nível de estresse preocupante (em alguns casos, exacerbado).
Aqui chegamos novamente a um erro clássico dos investidores – confundir volatilidade com risco.
Fosse diferente, talvez o VIX, que mede o custo do uso de opções como proteção para um declínio no índice S&P 500, tivesse outro apelido.
Em finanças, “risco” geralmente é associado às grandes oscilações (variância, desvio padrão). Mas muitos ignoram que oscilações podem ser para cima e para baixo.
Você não gostaria do risco de alta?