O que está por trás da queda do bitcoin? Cinco fatores e o que esperar agora
Na semana passada, nós encerramos nossa análise com uma pergunta que pairava no ar como uma nuvem de tempestade: "A mágica acabou?". Descrevemos o rali mais insano da Bolsa em 30 anos como uma festa movida a um único e frágil pretexto – um dado de inflação surpreendentemente baixo. Apontamos as rachaduras perigosas na estrutura daquela euforia: o volume de negociação era fraco, a alta era perigosamente concentrada em poucas empresas como a Vale, e o colapso isolado da Hapvida era um sintoma de que a realidade para a maioria das empresas era bem diferente.
Fomos chamados de pessimistas. De estraga-prazeres. Fomos acusados de não entender o "novo momento" do mercado. A resposta para a nossa pergunta, no entanto, não demorou a chegar. E ela não veio como uma leve dor de cabeça. Veio como um terremoto que abalou os alicerces da confiança no mercado brasileiro.
A semana que passou não foi apenas uma semana de queda. Foi uma semana de desmascaramento. Foi a semana em que a realidade, cansada de ser ignorada, arrombou a porta da festa e apresentou a conta. E ela veio em três parcelas brutais e simultâneas.
Primeiro, a Realidade Econômica. Na segunda-feira, o primeiro soco. Saiu o dado do IBC-Br, uma espécie de prévia do PIB. O resultado? Uma queda de 0,20%. Foi a prova cabal, o atestado médico de que a economia brasileira não está nem perto da vitalidade que a Bolsa tentava vender. Aquele castelo de areia construído sobre a ideia de que o Brasil estava imune aos juros altos começou a desmoronar ali mesmo. O Ibovespa sentiu o golpe, o dólar voltou a subir e os juros futuros retomaram sua trajetória de alta, como um animal assustado que fareja o perigo.
Segundo, a Realidade Corporativa. Enquanto o mercado ainda gemia com o soco na economia, veio o escândalo. O Grupo Mateus, uma das gigantes do varejo, admitiu um "erro" contábil de R$ 1,1 bilhão em seus estoques. Um "erro" que custou o dobro disso em valor de mercado e destruiu a credibilidade de seu balanço. Foi o momento em que os investidores foram forçados a se perguntar: em quantos outros balanços por aí existem "erros" bilionários escondidos? A desconfiança, como um veneno, começou a se espalhar.
Terceiro, e mais devastador: a Realidade Sistêmica. Se os dois primeiros golpes abalaram a estrutura, o terceiro foi a implosão. O Banco Central decretou a liquidação extrajudicial do Banco Master. Isso não foi a quebra de uma empresa qualquer. Foi a quebra de um banco que se vendia como sólido, seguida pela prisão de seu controlador. O evento expôs uma ferida purulenta no sistema financeiro, com reportagens revelando que os riscos eram conhecidos e que alertas foram ignorados por anos. O pânico se instalou. O que era uma desconfiança virou uma crise de confiança, contaminando a percepção sobre todos os bancos médios e ressuscitando o fantasma do "risco-Brasil".
O resultado dessa tempestade perfeita? O Ibovespa registrou sua primeira perda semanal desde o início de outubro, devolvendo boa parte da euforia mágica. O dólar, que os otimistas juravam ter sido domado, disparou e chegou a superar os R$ 5,40, impulsionado também por ruídos políticos em Brasília que sempre aparecem quando a situação já está ruim.
A festa acabou. A ressaca é brutal. E agora, os mesmos que nos chamavam de pessimistas estão correndo para entender o que aconteceu. O que aconteceu foi simples: a realidade venceu. As rachaduras que apontamos se tornaram abismos. A alta com volume fraco e concentrada em poucas empresas se mostrou exatamente o que era: um castelo de areia, incapaz de resistir à primeira onda de notícias ruins.
E o que esperar da semana que começa? Prepare-se para mais tensão. A semana será mais curta por causa do feriado de Ação de Graças nos EUA, o que significa menos dinheiro circulando e maior potencial para movimentos bruscos. E a nossa agenda é uma verdadeira prova de fogo.
Na quarta-feira, teremos o IPCA-15, a prévia da inflação. O mercado rezará por outro número mágico para tentar se acalmar, mas a chance de uma nova surpresa positiva é pequena. Na sexta-feira, o grande teste: o governo divulgará os dados fiscais de outubro. Após uma semana em que a confiança foi para o ralo, os números da nossa Dívida Bruta e do nosso resultado orçamentário serão olhados com uma lupa de pânico. Qualquer número ruim pode ser a gasolina que falta para incendiar de vez o humor do mercado.
Nós avisamos. Não por pessimismo, mas por realismo. A euforia cega é o caminho mais curto para a perda. A semana que passou foi uma lição dolorosa, mas necessária. A questão agora é se o mercado aprendeu, ou se está apenas esperando a próxima desculpa para começar a construir o próximo castelo de areia.
É hora de entrar em AÇÃO!