O certo, por linhas tortas
A oferta de energia elétrica parece caminhar para uma situação mais confortável em 2016 e 2017.
Mérito ou resiliência do sistema?
Das duas, nenhuma.
O Ministério de Minas e Energia prevê um choque de oferta para o mercado nos próximos anos. Isso, porque os leilões realizados a 3 ou 5 anos atrás previam um consumo muito distante do praticado atualmente.
Demérito da projeção, ou da economia?
O lado bom da coisa
A informação, divulgada pelo secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético, Altino Ventura Filho, é resultado de um cálculo simples: aumento do preço de energia + desaceleração econômica = redução do consumo de energia.
Olhando o copo meio cheio, a boa notícia é que o baixo consumo, junto à entrada em operação de novos projetos, deve resultar no desligamento de algumas térmicas (energia cara) até o fim deste ano.
Melhor para o custo de operação do sistema, melhor para o preço de energia.
Apreensão
A proposta deste artigo sempre foi identificar os principais gatilhos que movem diariamente os mercados, e avaliar os seus potenciais desdobramentos.
Já estou há três anos nessa aventura, e confesso que a tarefa vem ficando mais difícil a cada dia...
Ué, o M5M não encontra mais motivo para os principais movimentos do mercado?
Tanto encontra que o motivo, único, torna a coisa toda um bocado óbvia (e repetitiva).
Mercados ao redor do globo respondem quase que estritamente a um elemento: os estímulos de liquidez fornecidos pelos Bancos Centrais. Você já sabe disso: é questão amplamente explorada por aqui.
Desde o estouro da crise de 2008 foram injetados US$ 12 trilhões de dinheiro fácil e barato na veia dos mercados. Dinheiro grande, que nos leva à questão chave: quando esse anabolizante irá acabar? Quando os juros começarão a subir nos EUA?
Por isso o movimento dos mercados hoje é todo escorado na divulgação da ata da última reunião do Banco Central americano, esta tarde.
Qualquer indicação de quando (e como) a ração diária dos mercados acabará pode por fim à festa dos ativos de risco.
Isso pode partir da ata do Fed hoje de tarde, ou, quem sabe, do pronunciamento da presidente do BC americano, Janet Yellen, agendado para a próxima sexta-feira.
Em busca de um meio termo
Barnaby Nelson, executivo do Standard Chartered (LONDON:STAN), afirmou que “parte do problema com os mercados de China e Hong Kong é que ambos estão sendo guiados pelo sentimento, e não pelos fundamentos”.
As Bolsas de Shanghai e Hong Kong estão entre as de melhor performance do mundo este ano, com altas entre 35% e 15%.
O que também preocupa é a composição dessa inflagem: com pouca participação de investidores qualificados e profissionais, 75% das posições no mercado local estão nas mãos de investidores pessoa física.
Se há um equilíbrio saudável nessa relação, muito provavelmente não está na China, tampouco no Brasil...
Por aqui, muuuito pelo contrário, apenas 13% das posições da BM&F Bovespa são de investidores pessoa física.
Por que estão ignorando isto?
Por aqui, questões como o petrolão e o ajuste fiscal dão ao nosso mercado contornos de autismo.
Obcecados pelo ajuste, simplesmente não produzimos nem texto relevante por aqui sobre temas recorrentes lá fora, como o secular stagnation: países industrializados tendo de escolher entre bolhas de ativos e baixo crescimento econômico. Das duas uma.
Ninguém parece ter percebido que há algo de abrangência muito maior se desenrolando.
Logo mais, a cena externa pode simplesmente inviabilizar o ajuste fiscal. Ou a economia global, em especial os EUA, se recupera e força subida dos juros; ou entra em um quadro recessivo.
Ambos os casos são problemáticos, pois ensejam condições adversas ao fluxo de capitais.
Não ignore a importância deste alerta: a catástrofe de US$ 100 trilhões.