O Brasil está focado em reconstruir a sua credibilidade perante seus nacionais e, em especial, perante o mercado financeiro internacional, onde estão as grandes corporações de influência e os grandes investidores estrangeiros detentores dos recursos de que tanto precisa como IED´s produtivos e para fazer face ao financiamento do seu expressivo déficit em transações correntes.
Para tanto, é necessário que não atenue e nem se deixe enganar acreditando que o simples comprometimento anunciado de meta de superávit fiscal revisada, cortes no orçamento, etc lhe trarão retorno imediato de restabelecimento da credibilidade fiscal e na política econômica, severamente criticadas com carimbos “fortes” que incluíram até o FED americano.
O BC havia sinalizado que iria ser menos intenso no ajuste da SELIC e o mercado financeiro criou o consenso de que 0,25% seria o tamanho ideal, com elevação para 10,75%. Não ficou esta leitura tranquila após a nota expedida pós reunião, tendo ficado aberto a possibilidade de novas altas.
Poderia ter aproveitado esta reunião para realizar um ajuste de 0,50%, sinalizando foco mais intenso com a reconstrução da credibilidade, em linha com os ajustes anunciados na quinta-feira passada.
Conviver com a ambição de mixar crescimento e inflação, sem fazer a necessária “escolha de Sofia”, pode provocar efeitos contraditórios e inviabilizar o sucesso em ambos os objetivos e, por fim, no todo da economia.
O PIB brasileiro cresceu 2,3% em 2013, conforme anunciou o IBGE ontem, No último trimestre (out/dez) o crescimento foi de 0,7% ante o trimestre imediatamente anterior e de 1,9% na comparação com um ano antes. Em números atingimos R$ 4,838 Tri, algo como US$ 2,0 Tri, sendo a riqueza gerada em torno de R$ 110,0 Bi, num cenário que ensejou dispêndios com juros em torno de R$ 230,0 Bi. No ranking geral das economias é bastante provável que tenhamos perdido posições, pois é mensurado em dólares americanos.
O consumo das famílias cresceu 2,3%, mas perde dinamismo, o que merece atenção face ao crescimento do endividamento já próximo de 50% e o modelo de crescimento que é ancorado no consumo estimulado a crédito. Em 2010 o consumo das famílias cresceu 6,9%; em 2011, 4,1%; em 2012, 3,2%; e no ano passado 2,3%.
Fica evidente que esta estratégia de crescimento está absolutamente superada, sendo necessário focar os investimentos de forma prioritária.
O Brasil que o ex-Presidente Lula encontrou que permitia crescer só atendendo a demanda reprimida facilitando o acesso ao crédito , sem necessidade de investimentos não existe mais, portanto, ou mudamos ou não crescemos.
Houve melhora na FBCF (investimentos) que cresceu 6,3% recuperando-se da queda de 4% em 2012. A indústria voltou a crescer depois da retração em 2012, porém de forma discreta algo como 1,3%.
A indústria vem perdendo participação no PIB tendo recuado de 28,1% em 2010 para 24,9% em 2013.
O destaque ficou com a agropecuária que cresceu invejáveis 7,0%, após queda de 2,1% no ano anterior, o maior crescimento da série histórica iniciada em 1996.
O Brasil fechou 2013 com uma necessidade de financiamento de R$ 195,463 bilhões. O resultado representa a maior necessidade anual de financiamento desde o início da série histórica calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2000.
Em 2012, a necessidade de financiamento havia sido de R$ 130,690 bilhões.
O aumento da necessidade de financiamento foi causado, principalmente, pelo saldo externo negativo de bens e serviços, de R$ 120,6 bilhões em 2013. Em 2012, o déficit havia sido de R$ 63,5 bilhões. Isto representou uma diferença de R$ 57,1 bilhões entre os dois períodos.
Esta é uma situação difícil de ser superada em 2014, o país continua com baixa atratividade e perspectivas de déficit em transações correntes elevado no entorno do registrado o ano passado, US$ 81,0 Bi, mas com sinais de que poderá ter menor fluxo de IED´s e empréstimos “intercompanies” face às poucas oportunidades oferecidas pela economia em ritmo de crescimento menor, e, a existência de economias emergentes em contextos mais favoráveis concorrendo com o Brasil.
Afora isto deverá conviver com refluxo de capitais estrangeiros aqui investidos como consequência da redução da liquidez internacional decorrente do “tapering” do programa “QE3” do FED e remanejamento de posições de investidores para outros mercados desenvolvidos e/ou emergentes.
O Presidente do BC, Alexandre Tombini, entendeu que o resultado do PIB confirma a gradual recuperação da economia, enquanto o Ministro Mantega mais eufórico como de hábito vê rota de crescimento para 2014.
Na realidade, acreditamos que o resultado do PIB e o “status quo” atual do país não sancionam perspectivas otimistas para o crescimento do PIB em 2014, que está se firmando na projeção entre 1,4% a 1,7%, muito baixo e que deve retroagir na medição em dólares americanos. Pelo desempenho do ultimo trimestre não nos parece que o resultado seja indutor de revisões do PIB para melhor performance do que as projeções atuais, que estão assimétricas em relação à projetada atualmente pelo governo que é de 2,5%.
Nos Estados Unidos, onde números desapontadores da economia vem se repetindo de forma contumaz, parece haver uma desconsideração de parte do FED aos mesmos, atribuindo-os aos severos problemas climáticos com que o país tem convivido nos últimos meses, e prevalece então o otimismo de que a economia está em recuperação. Janet Yellen assegurou que o “tapering” terá continuidade a cada reunião, mesmo que leve tempo para o mercado de trabalho se recuperar. Também repetiu o compromisso do FED de manter a taxa de juro baixa enquanto o nível de desemprego ficar acima de 6,5% e a perspectiva para inflação não exceder 2,5%.
Hoje é o dia da taxa PTax do dólar que será base para os ajustes e liquidações das operações no mercado futuro, e, normalmente, enseja disputas no pregão que criam volatilidade e movimentos de oscilação mais forte.
Parece que neste momento os “vendidos” estão mais fortes e conseguirão sustentar o real apreciado, o que, paradoxalmente, não deve desagradar os que estavam mais acentuadamente “comprados” e liquidaram suas posições, por lhes proporcionar oportunidade de as refazer em níveis interessantes os posicionamentos “comprados” com a convicção de que o preço da moeda americana deve sofrer impactos que a levarão à apreciação frente ao real.
Porém, a perspectiva permanece apontando tendência fundamentada de apreciação da moeda americana mais forte ainda neste 1º trimestre e projeção de R$ 2,60 para o final do ano.