E a Selic ó...
Tivemos enfim a confirmação da Selic a 11% ao ano ainda no primeiro semestre de 2014, algo que parecia improvável no começo do ano, quando as expectativas do mercado apontavam 10,5% em dezembro.
Depois de várias altas seguidas, no rali da pesquisa eleitoral, os mercados operam em queda nesta quinta-feira, mas aparentemente uma realização pontual, sem grande apego à subida (esperada) da taxa de juros.
Os Sherlock Holmes do mercado saem da toca, rumo à investigação. Está novamente aberta a temporada de caça às entrelinhas, de investigar toda e qualquer vírgula do comunicado da autoridade monetária que possa ser entendido como uma pista sobre o próximo passo do Copom...
O próximo passo do Copom
A fritação em cima do comunicado levanta novamente apostas de fim do ciclo de alta da Selic.
Mais uma vez prefiro apoiar a minha aposta em elementos materiais.
Acho que a Selic sobe mais, por tais motivos:
a pressão de preços dos alimentos num contexto de seca;
a dificuldade de se resolver a questão da energia, que virá com reajuste de preços ou pressão fiscal;
a chance real de que, entre o fim do primeiro semestre e o começo do segundo, superemos o teto da meta de inflação em 12 meses;
a recente escalada das expectativas de inflação (expectativa alimentando mais inflação)
No Globo Repórter de hoje...
Outro fator histórico de pressão sobre os índices de inflação, o setor imobiliário trouxe um dado interessante a partir da pesquisa Fipe/Zap: os preços dos imóveis seguem subindo, mas em menor ritmo, e abaixo do IPCA.
A queda no ritmo de alta do preços traz novamente aos holofotes o debate da bolha. Será enfim um indício de estouro?
Deixe-me dizer algo importante: não é nada inteligente ficar citando bolha daqui e dali. Aliás, esse papo é um baita clichê.
Aqui recorro a outros velhos lugares-comuns:
Primeiro, de tratar-se do problema de pequena amostra (um dado isolado, a partir de referência mensal, como indicativo insuficiente para uma tendência de preços?). Segundo, do próprio clichê da bolha. Mais uma vez: bolhas são algo inerente ao capitalismo. Se há desequilíbrio entre oferta e demanda, incitando variação de preços, em tese temos uma bolha no preço do determinado ativo. A questão é quando e como ela irá estourar. No caso, de que forma os preços irão cair.
Importante frisar, ainda, que o impacto mais relevante sobre a inflação segue nos aluguéis, que trata-se de um preço indexado ao IGP-M (inflação que gera mais inflação), este com dinâmica distinta.
Dançando conforme a música
Havia e há um claro desequilíbrio de preços nas ações de estatais, o que fica claro no rali das mesmas. Tenho recebido uma série de questionamentos a respeito desta escalada desprovida de elementos materiais da Bolsa brasileira. Uma mudança de ânimo da noite para o dia, baseada em uma expectativa para eleição alimentada por referências inconclusivas (no caso das pesquisas eleitorais também temos o problema de pequena amostra, por exemplo).
Mas isso não vem ao caso. Esse é o ponto.
Ainda temos um abismo entre a queda na pesquisa eleitoral e a troca de governo de fato. Mas não podemos ignorar a volatilidade engatilhada pelo acirramento da corrida pelas urnas.
A grande questão é que não precisamos ter a materialização do fato (derrota da Dilma) para a Bolsa subir ou cair. A mera construção das expectativas e os desdobramentos inevitáveis do noticiário relacionado à corrida eleitoral continuarão movendo o mercado. Ainda que desprovido de elementos materiais, o rali das ações de estatais é algo material.
Sobre os 400% de ELET
Recentemente apontamos as ações da estatal elétrica (ELET6) como aposta mais aguda para essa volatilidade atrelada às eleições, como de fato vem se provando na resposta posterior do mercado:
Neste ponto do rali, com algumas ações acumulando alta de 30% em 15 dias, a questão é justamente quem ficou para trás em primeiro momento mas ainda refletirá a mudança de patamar dos mercados, e quem ainda tem lenha para queimar neste rali.
Tenho recebido alguns questionamentos por email do tipo “porque Eletrobras e não Petrobras?” ou “qual o horizonte projetado para a alta de 400%?”
Aqui chego a um ponto importante a respeito da recomendação de ELET6, que não deixa de ser um exercício de interpretação de texto.
Em nenhum momento falei necessariamente de upside de 400% para Eletrobras. Ela pode subir isso? Pode. Mas tudo pode.
A aposta foi baseada na assimetria de retornos potenciais mais aguda de Eletrobras, e os 400% foram utilizados meramente como uma ilustração desta assimetria...
Partindo do pressuposto que as ações agora são negociadas a 0,2x valor patrimonial, Eletrobras tem um caminho muito maior a percorrer até 1x (por exemplo) do que tem até 0x.
Não que ela vá atingir 1x valor patrimonial, mas simplesmente que o espaço para subir é muito maior do que o espaço para cair. Os 400% são a estrada até estas ilustrativas 1x. E a preferência relativa sobre Petrobras se dá também por esta assimetria: enquanto ELET está em 0,2x valor patrimonial, Petro está em 0,6x.
Raciocínio simples, mas que tem funcionado.
Para visualizar o artigo completo visite o site da Empiricus Research.