Por Kathy Lien, diretora executiva de estratégia de câmbio da BK Asset Management
O mês de fevereiro tem sido ótimo para o dólar e as ações nos EUA. O Dow Jones atingiu máximas recordes e, apesar do recuo no fim da semana, as ações apresentaram declínios modestos em comparação com a valorização recente. O mais importante, em nossa visão, é que não tivemos dias sucessivos com desvalorização acumulada de três dígitos, o que poderia ser o primeiro sinal de uma aversão ao risco sustentada. O coronavírus deixou os banqueiros centrais, os investidores, as empresas e os cidadãos comuns nervosos, mas os investidores conseguiram ignorar o impacto do surto.
A força da moeda americana se deve ao coronavírus, que ressalta a resiliência do país e atrai demanda para ativos de segurança. Embora os dados econômicos nos EUA tenham sido medíocres, não houve uma deterioração ampla, o que, por si só, foi suficiente para aumentar a confiança dos investidores de que, embora não esteja imune aos problemas na China, a economia americana terá um bom desempenho. As vendas no varejo subiram 0,3% em janeiro, em linha com as expectativas. Excluindo o setor automotivo, o crescimento dos gastos desacelerou de 0,6% para 0,3%, o que também veio em linha com o esperado. O Índice de Confiança da Universidade de Michigan foi mais forte do que se esperava, apesar de todas as preocupações com o vírus.
Na próxima semana o foco principal do dólar será o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA). Estão previstos os pronunciamentos de diversos presidentes regionais da instituição, assim como a divulgação das atas do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), responsável pela política monetária no país. Na quinta-feira, o Fed anunciou que, a partir da próxima semana, reduzirá a quantidade de ofertas de recompra. Isso se deve às últimas três operações, que tiveram excesso de subscrição, com os bancos em busca de financiamento barato, o que é positivo para o dólar, na medida em que reduz a disponibilidade de dinheiro a baixo custo. Olhando para o futuro, esperamos que os formuladores da política monetária nos EUA minimizem o impacto do vírus, da mesma forma como fizeram os mercados. Os números do setor imobiliário e da indústria estão no calendário e não devem ameaçar o rali no dólar. Para responder à nossa indagação, a moeda americana podem ampliar seus ganhos nesta semana, mas também é importante salientar que o dólar apresentou uma forte valorização nas duas primeiras semanas de fevereiro, portanto pode haver uma correção dentro de uma tendência maior de alta.
Além dos EUA, a Zona do Euro, Reino Unido, Japão, Austrália e Canadá têm relatórios importantes para divulgar. Na Zona do Euro, temos no calendário a pesquisa do ZEW na Alemanha e os relatórios PMI. Como observamos na quinta-feira, os dados da região mudaram para pior, e a expectativa é que os PMIs mostrem uma continuidade dessa fraqueza. Dito isso, foi muito relevante que a economia alemã tenha crescido nos últimos dois trimestres em meio a preocupações com a recessão e o crescimento negativo. As vendas no varejo, o índice de preços ao consumidor (IPC) e os PMIs devem ser divulgados no Reino Unido, assim como o PIB do Japão no quarto trimestre, os números de emprego na Austrália, as vendas de varejo e o IPC no Canadá. Nossa previsão é que haja uma desaceleração no crescimento dos empregos na Austrália, mas, em vista da confiança do Banco do Canadá, pode haver uma melhora nas vendas de varejo e na inflação.