O fato da provável futura Presidente do FED americano, Janet Yellen, ter sinalizado que o programa de incentivo monetário, focado na recuperação da economia americana, possa ter o inicio da redução de seus volumes postergado até que a economia americana evidencie sinais mais consistentes de recuperação faz ressurgir euforismo no mercado financeiro global.
A rigor, a sinalização era uma possibilidade, mas também não era descartado um inicio já em dezembro, ainda na vigência do mandato de Ben Bernanke.
Dúvidas, projeções, percepções nesta ou naquela fala ou números fazem parte das estratégias e dinâmicas fomentadas pelos próprios agentes atuantes no mercado global focando estimular o giro dos negócios.
E no Brasil já há quem imagine que será a solução para o combalido fluxo de recursos externos que estão fazendo falta para que seja completada a necessidade de financiamento externo do expressivo déficit em transações presente neste ano.
Nos parece uma visão precipitada neste momento, naturalmente o real se aprecia em função desta circunstância, mas entendemos que o cenário pró Brasil sofrerá poucas mudanças.
A melhora do fluxo cambial ao inicio deste mês decorreu acentuadamente do fluxo comercial e menos do financeiro e é este que decepciona este ano e a melhora havida pode ter sido pontual até decorrente de venda de ativos brasileiros no exterior.
O Brasil, os números evidenciam, vem perdendo relativamente espaço na escolha dos investidores estrangeiros desde o final do ano passado e esta realidade acentuou-se mais a partir da percepção da deterioração da politica fiscal.
É preciso moderação para que não ocorram desapontamentos e equívocos iguais ao do passado recente, quando foram antevistos “tsunamis” de recursos para o país que acabaram não se materializando. Não há ambiente para mudanças radicais neste campo.
Criaram-se então à época barreiras normativas e tributárias para defender o país daquela imaginária “invasão” de recursos, que, por fim, não se consolidou e que com a perda gradual de atratividade do país acabou por determinar queda brusca nos fluxos de recursos externos imprescindíveis, que agora se revelam faltantes.
Não se pode perder de vista que a atratividade do Brasil perante investidores estrangeiros, mesmo os especuladores, mudou fundamentalmente com a fragilização notória dos seus fundamentos, com destaque para a deterioração da política fiscal, baixo crescimento e riscos sempre mencionados pelas agências de rating de rebaixamento e depois atenuados, mas que no fundo são efetivas sinalizações.
Então, já não pode ser considerada a hipótese de que a manutenção de liquidez acentuada de recursos no mercado internacional seja promotora de fluxos novos para o Brasil. A hipótese inicial deve ser a de que a retirada de recursos externos aqui presentes que se insinuava crescente possa ocorrer de forma mais moderada, o que nos parece um raciocínio mais efetivo do que imaginar-se grandes ingressos.
É preciso que nos acostumemos a olhar mais detidamente os problemas em que está envolvida a economia brasileira para entendermos que são muito mais pujantes do que os eventuais problemas externos impactantes no país. Desta forma, fica claro que é o próprio Brasil com seus problemas que provoca o recuo dos investidores estrangeiros, e esta visão conceitual não tende a mudar simplesmente pelo alongamento do tempo em que continuará prevalecendo a liquidez elevada no mercado internacional.
Tanto é que a mídia noticia que o rigor fiscal esta sendo foco da Presidenta Dilma, que claramente sabe dos seus impactos internos e externos na visão sobre o país. O país precisa neste momento mais atitudes firmes, pois discursos não conseguem alterar as expectativas.
Pioramos muito em vários fundamentos, enquanto outros emergentes melhoraram sensivelmente e hoje concorrem firmemente disputando os fluxos de investimentos internacionais com vantagem.
Em síntese, se postergado o inicio da redução do programa de incentivo monetário do FED o preço da moeda americana no nosso mercado poderia perder pressão de alta mais intensa, mas dificilmente ocorreria um movimento de apreciação do real mais expressiva.
Por isso, entendemos que o BC não deva interromper a tendência de rolagem total da posição vincenda de “swaps cambiais” de US$ 10,11 Bi no próximo dia 2 de dezembro.
O Boletim FOCUS, divulgado hoje com data de 14 último, aponta elevação da projeção do preço do dólar para o final do ano para R$ 2,27, que consideramos ainda baixa, sendo a nossa projeção mínima de R$ 2,30. Da mesma forma, eleva a projeção para o déficit em transações correntes para US$ 79,55 Bi, que entendemos deva fechar em torno de US$ 80,0 Bi ou ligeiramente acima. Mantém a SELIC em 10% e o PIB em 2,50%, enquanto reduziu de 5,85% para 5,84% a projeção do IPCA de final do ano.