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O Brasil está mais uma vez diante de um daqueles momentos que escancaram fragilidades. A tensão recente com os Estados Unidos pode até parecer algo pontual ou diplomático, mas não se engane: ela só evidencia o quanto ainda somos vulneráveis — economicamente, institucionalmente e, sobretudo, na mentalidade de quem empreende por aqui.
Vivemos uma era de extrema incerteza e volatilidade. E o que mais salta aos olhos nesse cenário não é o conflito externo em si, mas a falta de preparo interno. A maioria das empresas brasileiras segue despreparada para atravessar crises, como se elas fossem exceções raras, e não parte do jogo.
Crises não são surpresas. Elas são cíclicas. E toda vez que uma chega, faz uma seleção natural brutal: ficam de pé só as que têm gestão sólida, planejamento de risco e fôlego financeiro. As demais sucumbem. E isso não tem nada de aleatório — é pura lógica de mercado.
Vamos aos fatos: durante a pandemia, mais de 1 milhão de empresas fecharam no Brasil (IBGE). E agora, com o dólar beirando os R$ 5,50, temos uma nova leva de companhias entrando em pânico porque nunca se preocuparam em fazer hedge, se proteger ou ao menos entender a importância disso. Só agora, no susto, começam a perguntar o que poderiam ter feito.
E sim, já existem diversas ferramentas disponíveis no mercado. Mas seguimos com um número baixíssimo de empresas que usam hedge de forma recorrente — menos de 12% das que têm exposição cambial relevante, segundo dados da B3 (BVMF:B3SA3) e da CCEE. Isso diz muito.
O problema não é a falta de acesso à informação, é a ausência de cultura de proteção e de visão estratégica. É muito mais comum ver empresário apostando no “jeitinho” do que montando um plano de contingência sério. E aí, quando o câmbio vira, ou quando a política externa dá uma chacoalhada, sobra desespero.
Enquanto isso, quem se protege consegue respirar. Empresas que travam parte do seu câmbio conseguem tempo. Tempo para pensar, decidir com calma, buscar soluções. Tempo é um ativo valioso em qualquer crise — e hedge é o que compra esse tempo.
A verdade é dura: uma empresa desprotegida quebra com facilidade. E se isso ainda soa como exagero para alguns, é porque nunca estiveram de fato expostos à tempestade certa. No Brasil, o jogo da incerteza é cruel. E quem insiste em jogar de olhos vendados já começou perdendo.