Hoje é mais um dia para os mercados tal como ontem, tal como sexta, e por aí vai. Todos acompanham atentos à evolução (?) das conversas sobre o teto do orçamento do governo americano, até porque a agenda de indicadores não traz nada especial - tem pesquisa mensal do Comércio aqui e Empire Manufacturing Index lá fora.
Ou seja, nada. Há dois mundos possíveis, na cabeça do mercado:
(i) uma sobrevida à trajetória de recuperação da economia em caso de acordo, ou
(ii) a tragédia total, com calote na dívida e recessão econômica, no caso de desacordo. Verdade é que, a 48 horas do julgamento final, quase ninguém no mercado acredita em
(iii). Se acredita, não está pagando por isso.
O multiplicador de resultados
Ao menos encontramos alguma distração no purgatório: a temporada de resultados do terceiro trimestre começa hoje, com a apresentação dos números da Localiza, após o fechamento dos mercados. O principal tema dessa temporada sem dúvida é o câmbio. O dólar médio neste terceiro trimestre foi de R$ 2,28, o que por si só confere um fator de ganho da ordem de 10% na compação trimestral (sobre o 2T13) e de 12% no comparativo anual (sobre o 3T12).
Toda vez a mesma questão: quem ganha e quem perde com isso? “Ganho” para quem tem equilíbrio favorável entre receitas e despesas em dólares, obviamente. E fuja de empresas com muita dívida na moeda americana. Bom para Vale (VALE5), Embraer (EMBR3), papel e celulose, Weg (WEGE3)... Ruim para Gol (GOLL4), Petrobras (PETR4), Marfrig (MRFG3), General Shopping (GSHP3)... “Toda vez” indica que boa parte desse movimento já está embutido nas cotações.
As minhas apostas
Não pela questão do dólar, Cielo e Cyrela são exemplos de empresas que todos sabem que trarão resultados muito bons (CIEL3) ou mais fracos (CYRE3). Outros exemplos de resultado bom e ruim, mas estes fora do radar: Panamericano (BPNM4) e Positivo (POSI3).
Quiz do dia: adivinhe a ação milionária
Esta empresa terá nos resultados do terceiro trimestre um marco importante. Será a primeira vez que adotará um nova metodologia contábil, que promete conferir menor volatilidade ao seu Demonstrativo de Resultados. Ainda terá efeito negativo de câmbio (no resultado financeiro e preços dos insumos), mas as receitas vêm crescendo de forma bastante contundente, enquanto a gestão vai colocando a casa em ordem.
Não que este terceiro trimestre vá mudar o jogo - no caso, estaria mais preocupado com o 3T14 do que propriamente com este ou o próximo resultado. Aqui, a questão é pensar em um horizonte para multiplicar as cotações. Capisce? PS: a ação em questão é uma das série das Milionárias do Rodolfo. A proposta é multiplicação de capital e, para o caso, o potencial de valorização projetado é de 100%. Obviamente, isso não vem da noite para o dia, e a ideia é justamente apreciar ganhos consistentes, não basear essa multiplicação na tomada de riscos insensatos. Por isso, vale manter um monitoramento constante da série.
Um ano em um trimestre
Com cerca de 90% de suas receitas em dólar, Embraer é figurinha carimbada de ação que ganha com o dólar. Mas não fica só nisso. Hoje, por exemplo, ela anunciou a entrega de 44 jatos no terceiro trimestre, sendo 19 comerciais e 25 executivos. As entregas de aviões executivos quase dobraram, mas as de aviões comerciais caíram 30%. Será que a Embraer consegue bater sua meta de 90 a 95 jatos comerciais e 105 a 120 executivos em 2013? Faltando três meses para o fim do jogo, havia entregue 58 comerciais e 66 executivos.
Dejá vù
Outra figurinha carimbada do câmbio, mas para o mal, é a Petrobras. Como bem sabem, a companhia tem que importar gasolina e derivados para atender à demanda do mercado externo e, sem reajustes no preço dos combustíveis, o fez com defasagem próxima de 30% no terceiro trimestre. Comprou lá fora mais caro do que vendeu aqui dentro. Por que raios voltei a falar nisso? Pois temos aqui o gancho perfeito para a questão da autossuficiência, debate antigo...
Seção dicionário: autossuficiente
(au.tos.su.fi.ci:en.te) 1. Que se basta a si próprio, que vive ou sobrevive sem depender de nada ou de ninguém; AUTÔNOMO; INDEPENDENTE: [Antôn.: dependente. 2. Econ. Que, por ter em quantidade suficiente para seu consumo, não precisa importar certos produtos ou matérias-primas (diz-se de indústria, unidade política, setor econômico etc.)
Sangue Negro
O debate voltou à tona com a questão da autossuficiência americana por petróleo. Entre uma cutucada no Oriente Médio e uma bisbolhotada nos emails da Petrobras, os americanos se preocupam com a duração do seu boom do petróleo, e com o rápido declínio de seus poços baseados em xisto. Matéria do Valor de ontem chamou atenção para poço da Chesapeake Energy, que começou a todo vapor, produzindo mais de 1,2 mil barris por dia em 2009, e agora fornece menos de 100 bpd.
É o que tem mostrado os poços de xisto em geral, com produção declinando entre 60% e 70% no primeiro ano de operação. As reservas baseadas em xisto que representam hoje cerca de 30% da produção norte-americana de petróleo. Será uma produção sustentável? Este é, desde 1989, o momento em que os EUA estão mais próximos de atingir a autosuficiência energética. Por aqui, a estimativa da Petrobras é que o país será autossuficiente em petróleo em 2014.
Dejá vù!
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