Após levantamento efetuado em algumas das principais microrregiões produtoras de cana do Centro-Sul, percebemos que o longo período sem chuvas ou com chuvas insuficientes tem provocado estresse no canavial e começa a preocupar os produtores de cana. As quebras em algumas regiões pontuais chegam a ser alarmantes. Nossa análise apurou uma quebra média de 2.85% no volume da cana a ser processada este ano, embora alertamos que esse número ainda não é conclusivo.
Com efeito, reduzimos nossa previsão de moagem de cana da safra 2018/2019 para 563 milhões de toneladas (anterior 580), também alterando o mix de produção para 39.9% de açúcar (o número anterior era de 41.2%). Com isso, nossa estimativa da produção de açúcar foi reduzida em dois milhões de toneladas para 28.5 milhões de toneladas, ou uma redução de mais de 7.5 milhões de toneladas de açúcar em relação à safra 2017/2018. Mantivemos praticamente inalterada a produção de etanol em 26.5 bilhões de litros, um aumento de pouco mais de 400 milhões de litros em relação à safra passada.
Para um mercado mundial que está inundado de açúcar, reduzir a produção em 2 milhões de toneladas pode não ter muita relevância. No entanto, a previsão de várias usinas é muito pior do que está sendo divulgado. Nosso número que 563 milhões de toneladas de açúcar é considerado teto, segundo um especialista clima da região de Ribeirão Preto, que reforça o nosso ponto advertindo que o nível de biomassa verificado por satélites indica que a produção pode cair para 550 milhões de toneladas de cana. “O canavial melhor está sendo colhido agora nesse início de safra e a seca vai atingir muito mais a cana que vai ser moída em agosto e setembro”, diz ele. O canavial mais velho tende a sentir mais o estresse provocado pela estiagem e aumenta a possibilidade de cana bisada para o ano que vem.
Em outros tempos, essa notícia seria suficiente para aterrorizar o mercado. No entanto, estamos abarrotados de açúcar, não é mesmo? O preço do açúcar em NY não reage por alguns fatores já anteriormente discutidos aqui. Entre eles, o enfraquecimento do real em relação ao dólar (que nesta sexta-feira atingiu 3.7607, o valor mais baixo desde março de 2016), o que tem levado as usinas a ficarem atentas às oportunidades de operações de NDF (contrato a termo de dólar com liquidação financeira) buscando otimizar a fixação de preços em reais por tonelada. Assim, qualquer subida de preços em NY é imediatamente aproveitada pelas usinas que ainda possuem fixações em aberto de contratos comerciais carregadas de meses anteriores.
Se por um lado, o real mais fraco limita qualquer recuperação de preços do açúcar em NY (pois a usina pensa em reais por tonelada), por outro, em se mantendo os atuais níveis de preço do petróleo no mercado internacional, influenciados pelas questões geopolíticas de sempre, o hidratado fica ainda mais atraente para as usinas, o mercado interno aquece o preço do cristal (que vai ter que arbitrar com o etanol) e distancia ainda mais a possibilidade de o Centro-Sul abastecer o mercado de açúcar internacional. Mas, estamos abarrotados de açúcar, não é mesmo?
As usinas podem estar vivendo o pior dos infernos, resultado de uma insalubre equação que combina pouco produto, preço baixo e custo alto (já que vai moer menos). No entanto, a perspectiva para o ano que vem (safra 2019/2020) aponta para um canavial mais velho, usinas descapitalizadas para tratos culturais nem expansão. Números preliminares, segundo nosso modelo, podem repetir o número dessa safra e deixar o Brasil com uma produção disponível para exportação de 26 milhões de toneladas de açúcar.
O mercado mundial importa do Brasil, em média, 52.4 milhões de toneladas de açúcar a cada biênio. O mínimo que exportamos foi 47.5 milhões de toneladas e o máximo 58.7 milhões. Até abril deste ano, o acumulado foi de 55.6 milhões de toneladas (maio de 2016 até abril de 2018). Dada a falta de cana destinada ao açúcar nesta safra, pelas razões extensamente discutidas e para a safra seguinte, se apenas o mínimo for disponibilizado, ou seja, 47.5 milhões de toneladas, o Brasil pode enxugar mais de 8 milhões de toneladas de açúcar. Quanto é mesmo o superávit mundial?
O consumo de combustíveis pelo ciclo Otto nos últimos dez anos subiu à taxa média de 5,4% e nos últimos cinco anos em 2,65%. Vamos assumir que nos próximos anos ele cresça 4%. Em dois anos teremos acumulado um incremento no consumo de etanol (hidratado e anidro) de 2.4 bilhões de litros. Podemos somar a esse volume o crescimento da frota flex que, descontada a taxa de sucateamento de veículos, aumenta dois milhões de veículos novos circulando em dois anos, ou seja, mais 2.4 bilhões de litros. Vai ter cana para atender a essa demanda de etanol? É obvio que a resposta vai depender dos preços relativos entre etanol e açúcar.
Ano que vem também é uma abissal incógnita porque depende da política econômica de um novo governo a ser eleito no final do ano. Se o Brasil seguir a tendência mundial deveremos eleger um candidato de direita, mas se até o passado é incerto neste país, o que dizer do futuro. O ponto é que dependendo das pesquisas eleitorais, se algum candidato medíocre despontar (e existem muitos) o real poderá sofrer e retardar uma eventual recuperação do açúcar.
Como ninguém tem bola de cristal para palpitar no combinado entre câmbio e açúcar em centavos de dólar por libra-peso, nossa estimativa é que se não houver sobressaltos na área politica e econômica, o açúcar deve negociar no ultimo trimestre de 2018 acima de 1,200 reais por tonelada equivalente FOB.
Em quase vinte anos, observamos um fenômeno curioso. Em 90% das vezes, os preços médios mensais do fechamento diário do açúcar em NY apresentaram seus picos anuais no primeiro trimestre ou no último trimestre do ano. Única exceção foi em 2000 e 2008 por desvalorização cambial e crise econômica mundial. E, igualmente interessante, quando um pico de determinado ano ocorreu no primeiro trimestre, no ano seguinte ele ocorreu no último trimestre. No ano passado, o preço médio mais alto ocorreu em janeiro (20.54 centavos de dólar por libra-peso). Portanto, seguindo a escrita, neste ano deverá ocorrer no último trimestre. Tem sido assim desde 2000, exceção em 2009 e 2010 cujo pico ocorreu sempre no último trimestre.
Faltam menos de doze anos para o Lula sair da cadeia.