O que possamos pensar nós mesmos a respeito do Brasil é secundário neste momento, até porque é difícil o auto reconhecimento das nossas próprias fragilidades pelo governo, a despeito dos números gerados por nossa economia e uma série de outros indicativos confirmarem a deterioração da política econômica praticada, que conduziu o país a um quadro em que, com parcas diferenças não nos faz muito diferente dos demais emergentes.
O risco presente é o de não ser levada na devida conta esta realidade e o governo reagir tardiamente ante as perspectivas amplamente desfavoráveis aos emergentes, então a fatura que será apresentada ao país poderá ser bem maior.
Agora, está valendo o que o mundo global pensa a nosso respeito e não o que nós pensamos e neste momento o diagnóstico que faz tem muito de negativo e pouquíssimo de positivo, com ênfase para as perspectivas que são, no momento, as responsáveis mais efetivas do comportamento dos ativos financeiros brasileiros, já que a intensificação de saída dos recursos estrangeiros aqui locados ainda não se acentuou como ocorrerá inevitavelmente, provavelmente neste período próximo até o final do 1º trimestre.
Se deixarmos de reconhecer os inúmeros fatores que levam o mercado global a considerar o Brasil integrante do grupo dos “cinco mais frágeis”, podemos acabar por tomar medidas tardias, quando o cenário já tiver se agravado.
Turquia, África do Sul e Índia procederam a elevações de suas taxas de juro, porém estas decisões não promoveram o suporte à desvalorização de suas moedas, até porque os impactos mais relevantes vem da piora das perspectivas e não já do dia a dia que dará evidência ao movimento de saída de recursos estrangeiros destes países.
Portanto, as pressões negativas tendem a piorar quando houver o refluxo mais intenso dos recursos estrangeiros no país.
O Brasil, principalmente de parte do Ministro Mantega, se esmera em apontar para o exterior como determinante para a situação dos emergentes, evitando reconhecer os pontos fracos do país, consequentes de uma política econômica equivocada do governo, que determinou com o fraco desempenho a perda de credibilidade e a baixíssima atratividade do país perante aos investidores estrangeiros.
São inúmeros os indicadores adversos da economia brasileira exatamente quando tem inicio o desmonte da excessiva liquidez gerada pelo programa de incentivo monetário americano desenvolvido pelo FED, que ontem, mais uma vez, deliberou pela redução mensal de mais US$ 10,0 Bi, recuando-o agora para US$ 65,0 Bi mensais e com tendência de novas reduções nas próximas reuniões do FOMC, já sob a presidência de Janet Yellen.
A queda da liquidez internacional afetará o Brasil que precisa de financiamento externo para seu expressivo déficit em transações correntes, uma de suas vulnerabilidades, e que certamente encontrará muitas dificuldades neste sentido, pois deve ocorrer um recuo ainda maior da propensão de IED´s no Brasil e, também, de empréstimos “intercompany”.
E mais, com evidências fortes de recuperação da atividade econômica americana, o Estados Unidos passa a catalisar o retorno de investimentos que haviam sido deslocados para os países emergentes e isto impactará no Brasil, e para agravar o quadro, a China, nossa grande parceira comercial, dá indícios de perda relativa de ritmo de crescimento.
O Presidente do BC afirmou dias atrás que os emergentes teriam que seguir o exemplo do Brasil elevando a taxa de juro, e mais rápido do que se esperava o fizeram em doses fortes, deixando agora a perspectiva de que o Brasil precisará seguir o mesmo caminho, até porque a inflação precisará ser combatida com intensidade pelo governo neste ano eleitoral e a disparada do preço do dólar pressionará poderá contaminar fortemente os preços da economia.
A Presidenta Dilma teria insinuado e depois desmentido que alterará a meta do superávit primário, mas será absolutamente necessário que o faça, embora, como já salientamos anteriormente, o mercado financeiro nacional e internacional deva reagir com ceticismo, já que envolveria cortes no Orçamento e que seria tarefa desafiadora em ano eleitoral. Redução de gastos por parte do governo mesmo que deliberada será bastante inviável em ano eleitoral.
Certamente, o efeito imediato será nulo em termos de mudança de atitude do mercado internacional em relação ao Brasil, pois com a perda de credibilidade do país dada a baixa performance de crescimento e dados fiscais, agravados até pelos métodos contábeis contestados que o Brasil adotou para mascarar números que ainda assim foram insatisfatórios, as “promessas” e “comprometimentos” só serão considerados quando forem entregues os resultados.
O Brasil está sem tração para o crescimento, tem fragilidades como tendência a continuar crescendo pouco; inflação alta e distante da meta central; déficit em transações corrente expressivamente alto; excessiva interferência do governo na economia; etc... e, principalmente falta de foco e morosidade intensa para colocar em prática as decisões que carecem de urgência.
Isto acentuará a tendência de 2014 ser outro ano praticamente nulo para o Brasil, e 2015 só será melhor ou não dependendo do governo ter cumprido, sem imperfeições contábeis, o objetivo de superávit maior e contenção da inflação.
Ter reservas cambiais suficientes para prover de solvência seus compromissos é um ponto positivo, mas não é uma barreira tão sólida como tem sido posta pelo governo, pois num ambiente de queda abrupta de fluxos favoráveis para o país e em havendo necessidade de utilizá-las efetivamente, vai ocorrer a gradual fragilização deste aspecto e poderá até ocorrer ataque especulativo sobre o real.
Certamente, o BC buscará reter as reservas cambiais ao máximo, pois sabe das dificuldades de recuperar os montantes que eventualmente venha a dispor, por isso deverá continuar vendendo “confiança” com a oferta de contratos de “swaps cambiais” para “hedge” e fornecendo linhas de financiamento em moeda estrangeira para os bancos ancorarem suas posições “vendidas” ao repassarem a liquidez para o mercado.
Neste momento, os bancos estão com posições “vendidas” em torno de US$ 17,0 Bi e detém linhas de financiamentos do BC em torno de US$ 12,2 Bi, caso não tenha sido rolado o vencimento de US$ 2,3 Bi ocorrido esta semana, ou US$ 14,5 Bi caso tenha ocorrido a rolagem.
Esta foi estratégia iniciada em agosto de 2013, mas não nos parece que haja conforto por parte dos bancos quando o montante destas posições “vendidas” ancoradas em linhas atinge volumes grandiosos e, naturalmente, não foge à percepção do mercado internacional e nacional que está mesmo é faltando fluxo de recursos para o país.
Necessariamente algo mais contundente precisa ser adotado pelo governo como estratégia de defesa ante uma perspectiva de piora ainda maior para o setor externo, pois se titubear poderá ter perturbações fortes no mercado de câmbio. O Brasil não está preparado para ser mais resistente à crise do que os demais emergentes.
Arroubos, efusivas defesas do Brasil com discursos repudiando a visão externa acerca do país, poderão retardar atitudes que precisam ser rápidas e efetivas para conter um cenário que se projeta bastante desfavorável.
O preço da moeda americana como projetamos chegou ontem muito próximo dos R$ 2,45, e pode buscar esta cotação na virada deste mês, podendo na sequência ganhar sustentabilidade para atingir preços mais elevados a partir de fevereiro, quando acreditamos que as saídas de recursos do país tendem a se intensificar.
O fluxo cambial teve um movimento mais favorável na última semana e conseguiu reverter-se de negativo para positivo em US$ 1,0 Bi, após ingressos líquidos na semana de 20 a 24 deste mês de US$ 2,897 Bi. Mas a despeito desta recuperação que nos pareceu absolutamente pontual, acreditamos que a tendência efetiva seja de mantermos fluxo cambial negativo ao longo do ano.