O ser humano
Lamentamos profundamente a morte prematura do candidato à presidência Eduardo Campos. A notícia nos pegou de surpresa ontem, no momento de publicação do M5M, tornando precipitado - e, no mínimo, deselegante - qualquer comentário a respeito.
O choque imediato dos mercados ajuda a lembrar o quão humanas são as relações, independentemente do meio em questão. À frente de qualquer crença ideológica ou decisão supostamente racional, há sempre o ser humano.
Desdobramentos (o novo cenário-base)
Sob tentativas de assimilar o golpe - insuperável sob a ótica pessoal, evidentemente -, os mercados buscam encontrar um novo equilíbrio, mas ainda escorados em suposições. Nosso cenário-base é de Marina Silva substituindo Campos.
Em evento da Empiricus realizado nesta semana, Fernando Abrucio, coordenador do curso de administração pública da FGV, destacou que Marina, ao lado de Lula e Joaquim Barbosa, é em pesquisas o nome mais forte em pesquisas espontâneas de intenção de voto, inclusive à frente dos atuais candidatos.
Portanto, a confirmação de sua candidatura ampliaria as chances de segundo turno, alimentando ainda mais o rali eleitoral dos mercados. E, numa eventual eleição de Marina, esperaríamos um mandato mais pró-mercado do que a gestão Dilma, em que pesem questionamentos sobre licenças ambientais relativas a projetos de infraestrutura e relação delicada com o agronegócio.
Neste ponto, não há mais como negar a enorme correlação entre os desdobramentos de cunho político e a movimentação dos ativos financeiros, bem como o componente comportamental a que os mercados estão sujeitos.
O impacto do acaso
O triste episódio também traz uma clara evidência da nossa incapacidade de antecipar movimentos de futuro e irresponsabilidade de tentar domesticar a incerteza.
Mesmo o estudo mais apurado sobre os cenários prováveis para a corrida eleitoral dificilmente atribuiria probabilidade minimimante relevante para o acontecimento da véspera. Você monta um cenário com base nas melhores informações disponíveis, faz o seu dever de casa e toma a suas decisões a partir disso.
De uma hora para outra, uma obra do acaso destrói por completo toda a sustentação do seu argumento, no que o Nassib Taleb, apoiado em Karl Popper, chamou de cisne negro (black swan): um evento altamente improvável, de difícil previsão e de grande impacto.
Como lidar com isso
O próprio autor do diagnóstico (Taleb é nosso maior mentor) aponta o tratamento: você precisa se expor de forma inteligente ao acaso, ao desconhecido, se beneficiar do choque, do incerto, do volátil. “How to live in a world we don’t understand?” (Como viver num mundo que não entendemos?”
Na alocação de recursos, uma maneira sensata de buscar isso é deixar a maior parte do patrimônio em ativos seguros, minimizando o risco do bolo todo a eventuais choques, deixando pequena parcela para papéis de perfil antifrágil, que possam subir muito no cenário favorável, e cair pouco no caso negativo.
Desconstruindo Harry
A teoria em questão desconstrói todo o instrumental das Finanças Modernas, que apesar de “moderna”, ainda é baseada na projeção de planilhas de fluxos de caixa descontado, fronteiras eficientes e distribuições normais (gaussianas), como se pudéssemos antever o futuro e domesticar a incerteza.
Se não sabemos qual dos cenários materializar-se-á, não podemos, a priori, saber se estaremos certos ou errados lá na frente. Sim, isso envolve o “novo cenário-base” recém apresentado aqui. Mas, como visto, não compromete necessariamente a estratégia.
Convite
Vai ao ar hoje às 16hs o quinto episódio de nosso videocast gratuito “Grana Preta”.
Desta vez, o Felipe falará sobre o mercado de construção civil (resultados da Cyrela, por exemplo) e sobre o evento da próxima segunda-feira com Mansueto de Almeida, Eduardo Giannetti e Marcos Lisboa. Já o Rodolfo abordará os resultados do BB e o problema de repasse de royalties do petróleo no Espírito Santo.
Para visualizar o artigo completo visite o site da Empiricus Research.