Capítulo infinito
Com a perda do rating soberano brasileiro, e consequente perda de rating das empresas, Petrobras voltou a ter incitada a perspectiva de reajuste nos preços dos combustíveis.
Todos sabemos que a estatal petroleira está com a alavancagem apertada e precisa captar muito dinheiro no mercado para financiar o seu Plano de Investimentos gigante. Conclusão óbvia: um encarecimento de seu custo de captação a partir da piora do seu rating pode ter desdobramentos traumáticos sobre a sua estrutura de capital.
Diante do fato, ressurge a necessidade da empresa aumentar o preço dos combustíveis. Se já não podia, agora ela pode ainda menos se dar ao luxo de assumir prejuízos na disparidade em relação aos preços internacionais.
Assim como o errado, o certo também pode vir por imposição, e por linhas tortas.
O que é realmente curioso em Petrobras
Mas nesse “quanto pior melhor”, o fato mais curioso não diz respeito ao paradoxo em si, mas à interlocução...
As manchetes destacam que logo antes do anúncio de perda do rating brasileiro Graça Foster afirmou a analistas de um banco que “haverá um aumento de preços antes do final de 2014”.
Nestes tempos em que não falta transparência para a política de preços da estatal (sim, estou sendo irônico), assimetria de informação pouca é bobagem.
Baixando a poeira
Ainda na questão do rating, agora que a poeira está baixando, chamo atenção para os dados de arrecadação federal em fevereiro, deixados completamente em segundo plano diante da repercussão do downgrade brasileiro na véspera.
Receita Federal informou que em fevereiro houve queda (inesperada) de 16% na arrecadação do imposto de renda de PJs, dado pior do que a projeção já pessimista do mercado.
Qualquer detalhe aqui pode comprometer a meta de superávit primário. Aquela mesma, que é meta e pouco crível, mas principal argumento da Fazenda para atacar a perda da nota.
O próximo passo
Passada a euforia com a perda do rating (soa estranho isso, mas é o que temos), o que resta de baixo da poeira são os dados concretos. Como esse da arrecadação, como do encarecimento do custo de captação das empresas - de desdobramentos mencionados acima, no caso da Petrobras.
Hoje a S&P seguiu a rotina de cortes subsequentes e rebaixou a classificação de risco de seguradoras e bancos, após ter cortado a nota de crédito das estatais na véspera.
Nunca é demais lembrar que, além dos leilões do Bacen, a entrada de dólares no país tem grande parte da emissão de dívida corporativa...
Só a Petrobras já captou US$ 13,6 bilhões do início do ano para cá.
No governo Dilma, as estatais emitiram mais de US$ 64 bilhões em títulos de dívida no mercado internacional.
As duas questões remanescentes
Tenho recebido uma série de questionamentos de assinantes do M5M sobre até que ponto esta perda de rating está precificada, além da credibilidade que restou para as agências de rating após 2008...
Sobre o nosso downgrade em si, alerto mais uma vez que o mercado já havia rebaixado o Brasil há muito tempo. Evidência claras são os recorrentemente citados (i) disparada dos CDS, o seguro contra Brasil, e (ii) escalada dos juros reais, que passaram de 3% ao ano para quase 7% ao ano do início de 2013 para cá.
Ou seja, os investidores estão exigindo maior prêmio para investir em Brasil.
Ontem mencionei uma série de indicadores da economia brasileira que mostram clara deterioração, avalizando os fundamentos do rebaixamento de rating.
Concordo com a perda de credibilidade das agência de rating, mas, no caso, minha ressalva a elas está ligada ao caráter reativo, quanto em tese deveriam ser proativas - alertando o mercado sobre o risco de crédito, e não confirmando um downgrade que já estava dado.
O presente do dia (relatório na faixa)
Nessa dança dos juros reais, muita gente teve a atitude inteligente de aumentar a exposição à renda fixa. Fora do risco de Bolsa, das mazelas do câmbio, afinal, juro real próximo de 7% é algo que você não encontra em nenhum outro lugar do mundo com este perfil de risco.
Existem muitas opções de investimento em renda fixa disponíveis no mercado que, por um motivo ou outro, ainda não aparecem no radar da esmagadora maioria de aplicadores no Brasil.
É justamente nelas que focamos uma nova série de cinco relatórios. A ideia é sair da poupança com as alternativas oferecidas pela Renda Fixa.
Cada capítulo será dedicado a explicarmos uma única modalidade, que pode tranquilamente completar seu portfólio e fornecer oportunidades para reduzir os efeitos das flutuações de mercado, começando pelo CDB.
Para ter acesso a esta primeira edição na faixa basta clicar aqui.
A tragédia da Oi
Em dezembro, publicamos um texto convocando os acionistas da Oi a formalizar suas reclamações, com o objetivo de brecar esse importante retrocesso em termos de governança corporativa.
As críticas fundamentaram-se em três pilares: (i) diluição expressiva imposta aos minoritários, combinada a equacionamento da dívida dos controladores; (ii) necessidade de conceder-se direito de recesso; e (iii) impossibilidade de voto dos controladores e de suas partes relacionados em qualquer matéria relativa ao aumento de capital.
Todas elas são estão devidamente esmiuçadas na convocação publicada em dezembro.
Hoje, as ações da Oi refletem a decisão da CVM em favor dos controladores, que poderão votar na Assembleia da fusão entre Oi e Portugal Telecom. As ações da Oi refletem a decisão com queda de 10%.
Um dia triste para o mercado de capitais e a governança corporativa brasileira...
Mais um dia na rotina do setor telecom, que conta com vasto histórico de desrespeito aos minoritários.
Para visualizar o artigo completo visite o site da Empiricus Research.