O mercado de açúcar em NY encerrou a semana com ligeira alta em relação à semana anterior. O vencimento março/2013 fechou a 19,25 centavos de dólar por libra-peso, alta de 24 pontos (5,30 dólares por tonelada), enquanto os demais meses de negociação que se alongam nessa curva que vai até outubro de 2015 fecharam com valorização entre 10 e 34 pontos, aproximadamente 2,20 e 7,00 dólares por tonelada, respectivamente.
As refinarias lá fora assistem ao prêmio de branco despencar e certamente não se sentem confortáveis em comprar açúcar bruto. A demanda externa tem estado pela hora da morte refletida nos descontos oferecidos (ou seja, tem vendedores nesse nível) para embarque em dezembro, de 50 a 70 pontos dependendo do porto de embarque. Isso faz com que NY tenha enorme dificuldade de quebrar os 20 centavos de dólar por libra-peso. Quando chega lá aparecem vendedores.
Acende-se uma tênue luz no fim do túnel quando o ministro da Fazenda admite publicamente que haverá aumento do combustível para 2013. Só não diz quando nem de quanto seria esse aumento. A Petrobrás tem tido constantes prejuízos na parte de abastecimento ao mercado interno, importando gasolina a preços muito mais altos do que os revende, por absurda imposição do governo, seu maior acionista, que teme que o repasse dos preços internacionais prejudique o controle da inflação. Essa política imprudente - por várias vezes duramente criticada nesse espaço - foi o elemento que mais afetou os resultados das empresas do setor em 2012.
2012 não foi um ano dos melhores para o setor. O mercado de açúcar em NY experimentou queda de preço acentuada de quase 90 dólares por tonelada neste ano considerando o fechamento de sexta-feira comparativamente ao encerramento do ano de 2011. Dentre as commodities, o açúcar teve um desempenho ruim acumulando desvalorização no ano de mais de 18% perdendo apenas para o café, com queda de 36% e o suco de laranja com 22%.
Ajudou na queda do açúcar esse ano o fato de o Centro-Sul ter tido uma moagem muito melhor do que se previra anteriormente, em função, principalmente, do clima favorável. As primeiras previsões no início do ano chegaram a apontar uma moagem assustadoramente baixa de 470 milhões de toneladas e outras otimistas demais que alcançavam 560 milhões de toneladas. Devemos fechar o ano entre 530-535 milhões de toneladas, com uma produção de 33,8 milhões de toneladas de açúcar e 20,9 bilhões de litros de etanol, acima da última estimativa da Archer Consulting, em agosto, que era de 512 milhões. Nunca se errou tanto nas previsões de safra como esse ano.
O total de cana moída até final de novembro foi de 510,5 milhões de toneladas. Nas quatro safras anteriores, o total moído acumulado nesse período acabou representando uma média de 95% do total da safra correspondente. Num simples exercício matemático, poderíamos dizer que a safra atual chegaria a 535 milhões de toneladas, como dissemos acima.
Muita gente no mercado trabalha com uma exportação de etanol para 2013/2014 da ordem de 3,5 bilhões de litros. Se assumirmos que a frota brasileira deverá consumir 21,8 bilhões de litros de etanol e deveríamos encerrar a safra 2013/2014 com um estoque de passagem mínimo de 15 dias de consumo, a produção mínima para atender a esses requisitos teria que ser de 26,2 bilhões de litros. Precisaria haver uma mudança substancial no mix, que hoje privilegia o etanol, dos atuais 50,5% para 57,5%.
2013 deverá ser um ano difícil para o setor. As usinas com problemas de geração de caixa deverão ver essa situação piorar em função de menores preços do açúcar negociado no mercado internacional, da menor disponibilidade de recursos novos, da restrição de fixação de preço por parte das tradings para períodos longos e da enorme dificuldade na renovação de linhas. O etanol anidro deve melhorar de preço em função da mudança da mistura de 20% para 25% e da exportação esperada para o próximo ano enquanto o hidratado deve se beneficiar do reajuste de preços da gasolina.
Falar sobre trajetória de preços em commodities agrícolas é tarefa de risco porque dependemos não apenas dos fatores fundamentalistas que, como sabemos, apontam para baixo os preços. No entanto, questões macroeconômicas e de clima, apenas para citar duas, podem virar as previsões de cabeça para baixo. Especialistas em clima acreditam que em 2013 não teremos surpresas climáticas que poderiam mexer na equação de oferta e demanda. De qualquer forma, precisaríamos de um fator fundamentalista de grande magnitude para fazer com que os preços do açúcar em 2013 fiquem pelo menos acima da média de preços de 2012 até agora (21,63 é a média do ano)
Acredito no incremento de operações de NDF de açúcar em reais, modalidade que está sendo cada vez mais usada pelas áreas comerciais das melhores usinas que fazem o hedge de sua produção já equivalente em reais. Resolvem dois problemas de uma vez só, além de não precisar se preocupar com chamada de margem e ajuste diário.
A quarta estimativa da Archer Consulting de fixação das usinas para a safra 2013/2014, cujo modelo foi rodado no último dia 19 de dezembro, aponta um percentual de 33,9% de fixação ao preço médio de 19,91 centavos de dólar por libra-peso, coincidentemente o mesmo percentual de um ano atrás para a safra 2012/2013.
O custo de produção do açúcar apurado pelo modelo da Archer Consulting, considerando o CONSECANA médio da safra e o dólar médio dos últimos 30 dias, está em 35,4725 reais por saca na usina, sem custo financeiro. No final de 2011, o custo era 36,4817, ou seja, houve uma queda no custo de produção em 2,77%.
Segundo fontes indianas, o país estuda a desregulamentação gradual do mercado de açúcar em direção a um mercado livre. Os traders têm visões opostas de como isso afetará os preços no mercado internacional bem como da efetividade/veracidade de medidas como essa.
Desde o início do contrato futuro de açúcar de NY no atual formato, em 1961, os anos terminados com o algarismo 3 sempre tiveram média de preço superior à do ano anterior. Isso ocorreu em 1963, 1973, 1983, 1993 e 2003. Agora fala que eu não dei nenhum argumento positivo para 2013, fala.
Reserve na sua agenda para o ano que vem: o 19º Curso Intensivo de Futuros, Opções e Derivativos da Archer Consulting, ocorrerá dias 19, 20 e 21 de março, em São Paulo. As inscrições serão abertas a partir da segunda quinzena de janeiro.