Por Ernani Reis, analista da Capital Research
Nos últimos dias, não falar sobre a oferta pública inicial (IPO) da XP Inc (NASDAQ:XP) era uma missão quase impossível. Bastava usar a palavra “investimentos” e o tema rapidamente ganhava relevância. O evento foi um sucesso, é verdade, as ações foram precificadas a US$ 27 valor superior ao teto da faixa indicativa de US$ 25, elevando o valor de mercado da companhia dos US$ 13,8 bilhões estimados, para US$ 14,89 bilhões. Números que ficaram ainda melhores após a estreia das ações na bolsa de valores americana.
Mas agora a oferta pública já passou e o que vale são as poucas e boas lições que podemos aprender com ela:
1. Negócios são negócios
Grande parte da polêmica em torno da abertura de capital da XP veio da decisão de lançar as ações da companhia na Nasdaq, uma das bolsas de valores norte-americana. O fato de estar tão longe do investidor brasileiro, gerou um sentimento de “abandono” em boa parte dos quase 1,5 milhão de clientes da XP Investimentos. Isso porque a escolha tornou praticamente obrigatória a abertura de uma conta em corretora americana para quem quisesse participar do IPO.
Mas então por que a XP escolheu abrir o capital nos EUA?
A resposta é simples. Além de já negociar as ações em dólar, a Nasdaq concentra muitas empresas de tecnologia em um ambiente maduro, facilitando a captação de investidores. O que se mostra algo bastante estratégico considerando que, entre os objetivos da XP com o IPO, está o desejo de criar um Banco Digital. Em paralelo, para amenizar as críticas, ontem, durante o evento de lançamento, a companhia anunciou a criação de dois novos fundos de investimento para quem deseja investir nela daqui do Brasil.
2. Nem tudo que reluz é ouro
Da mesma forma, diante dos milhares de investidores órfãos da oportunidade de participar da oferta pública inicial da XP, a gestora Vitreo aproveitou a “brecha” e tentou lançar dois fundos de investimentos para atender à demanda dos investidores brasileiros.
O primeiro fundo, chamado de Exponencial, é composto 100% por ações da companhia e é destinado aos investidores qualificados. Enquanto o outro, chamado de Exponencial Light, terá 20% alocado em cotas do primeiro e 80% restantes em fundos DI com taxa zero para poder ser destinado ao pequeno investidor.
Porém, dois pontos jogaram contra os fundos. O mais importante deles é a incerteza de que eles pudessem participar do IPO - receio que acabou se concretizando. E o outro foi a cobrança de uma taxa de 10% de performance sobre o que viesse a exceder o CDI ou o Ibovespa. A cobrança gerou polêmica por se tratar de um fundo composto apenas por um único ativo, o que não daria praticamente nenhum trabalho para administrar. Depois da pressão, a Vitreo decidiu zerar a taxa de performance.
3. Como investir no exterior
A questão mais crítica sobre a oferta pública da XP, no entanto, acabou sendo a necessidade de abertura de uma conta em corretora americana para tentar participar do IPO. O tema não é novo, mas o surto de interesse acabou reforçando o entendimento de que investir em outro país não é um bicho de sete cabeças, apesar das devidas ressalvas.
Dessa forma, o IPO da XP acabou servindo como um chamariz para que muitas pessoas fizessem um percurso de aprendizagem sobre o mundo dos investimentos. Exatamente como era a proposta original da corretora e como é a nossa aqui na Capital Research.