Entendemos que há factibilidade no ajuste de metas e cortes assumido pelo governo na quinta-feira passada, mas entendemos, também, que é, por enquanto, tão somente um compromisso “posto no papel” com propósitos, ou seja, objetivados por um governo que tem contra si na atualidade a perda de credibilidade, tendo como causa preponderante a baixa disciplina fiscal e a gastança de má qualidade.
Por isso, é imprescindível que o bom senso contenha, até evidências concretas em contrário, a expansão do negativismo fortemente presente, alicerçado não só na questão da deterioração da política fiscal, mas, também, no conjunto da obra do status da economia brasileira na atualidade, que não é entusiasmante com perspectivas cada vez mais acentuadas de baixo crescimento; inflação ainda muito resistente; efetiva e ainda real baixa atratividade perante investidores estrangeiros o que provoca insuficiência de recursos captados para financiar o expressivo déficit em transações correntes, etc...
É notório que existem dúvidas sobre o cumprimento quando se observa que o crescimento do PIB foi projetado em 2,5% pelo governo, bastante desalinhado com as projeções atuais a partir do FOCUS (1,67%), e, naturalmente, este fato a se confirmar a pior projeção terá repercussões sobre arrecadação de tributos e no superávit primário objetivado.
A arrecadação de R$ 123,667 Bi em janeiro registrando incremento de 0,91% real em relação a de R$ 116,066 Bi de janeiro de 2013, surpreendeu mas não deve induzir as autoridades monetárias a acomodações a ponto de entender que PIB fraco e arrecadação forte deve sugerir menor atenção a política monetária, em especial a SELIC. Há questões importantes no radar que podem ter impactos inflacionários e precisarão da SELIC mais elevada, questão energética, preços administrados fortemente contingenciados deformando o IPCA atual, etc...
Notamos, também, que as manchetes atuais procuram influir no estado de animo do país como um todo, e quando se reportam ao comportamento do cenário externo em relação ao país pós-ajuste ocorrem exacerbações que nem sempre tem efetiva fidelidade com os textos das manifestações dos analistas, que por vezes são reticentes quanto as perspectivas. Efetivamente em 3 ou 4 dias não há condições de percepção mais efetiva sobre a sensibilização que o ajuste, novo comprometimento, possa causar nos investidores, há uma certa precipitação buscando “plantar” algo que ainda não estamos colhendo como mudança de atitude externa.
O Ministro Delfim Neto, em matéria jornalística no jornal Valor, após divagar sobre o tema do ajuste com visão positiva, deixou uma observação importante:
“A diferença entre o cálculo do FMI e do nosso BC é uma questão metodológica, na qual o último leva vantagem, na nossa opinião.
Mas, então, por que o enorme desconforto com o seu nível?
Três observações são importantes:
1) quando comparamos as relações dívida/PIB entre 2008 e 2013, vemos profundas diferenças: a relação média dos países desenvolvidos cresceu 35%, enquanto a dos emergentes permanece praticamente estável; 2) a despeito de também ter permanecido constante, a nossa relação dívida bruta/PIB em 2013 é 62% maior do que a média dos emergentes; e 3) com relação à dívida líquida/PIB comparada com a bruta, em 2008 ela era de 67% e caiu para 39% em 2013, uma das razões para não considerá-la como indicador do esforço fiscal que ocorreria se a acumulação das reservas e os empréstimos do BNDES fossem financiados com poupança pública em lugar de aumento da dívida.
O nível do contingenciamento deve satisfazer, pelo menos por algum tempo, as agências de rating e predispô-las a "sentar e esperar para ver". A situação presente não é má, mas a futura preocupa, principalmente pelo desarranjo visível nas relações entre a presidente e sua base parlamentar, que agora ameaça não cumprir o pacto fiscal assinado no fim do ano passado. A rejeição do veto à "farra municipal", por exemplo, será um desastre que poderá iniciar a "tempestade perfeita".
Já a considerada jornalista Eliane Cantanhêde, que viajou para a Austrália para o G-20 a convite do governo da Austrália, em sua prestigiada coluna no jornal Folha de São Paulo, reportou ontem de forma precisa o quadro atual, com bastante objetividade:
“Alexandre Tombini, do BC, fez enorme esforço para convencer o G-20 financeiro de que a retirada de estímulos americanos é positiva e o Brasil não só faz o dever de casa como está ótimo, firme e forte.”
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“O BC faz sua parte, mas a lista de erros na economia é grande – e a das reclamações do setor privado é enorme. Como as de Lula, elas não são dirigidas a Tombini e nem só a Mantega, mas, sim, a Dilma”
Como caldo de cultura, vieram os relatórios do FED (BC dos EUA) e do Morgan Stanley (banco de investimento) incluindo o Brasil entre os “emergentes vulneráveis” e entre os “cinco frágeis”. Justo ou injusto é um carimbo forte.
BC e Fazenda estão umas feras, particularmente, com o FED...”
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“Com ou sem relatórios malvados, porém o fato é que o Brasil vem perdendo muito em projeção e em confiança porque tropeça nas próprias pernas – além de não andar em boas companhias: os emergentes não estão com essa bola toda, e o que falar da América do Sul com a Argentina quente e a Venezuela fervendo?”
No nosso entendimento, o Brasil continua procurando atribuir às causas externas as suas mazelas, evitando se auto atribuir as culpas que são sobejamente maiores do que as externas. As externas se fazem presente em decorrência da fragilização dos fundamentos do país e não ao contrário. Mas é compreensível a postura adotada, afinal isto envolveria elevada complexidade política se extravasasse o ambiente das salas fechadas do poder.
Além da postura errática de se antecipar a credibilidade antes da entrega, mesmo que gradual, da efetividade na gestão dos ajustes anunciados, que pode ao invés de ir evoluindo na linha da reconquista de forma madura, fica presente o risco de correções abruptas e forte volatilidade caso a resultante não revele sucesso no novo objetivo, o que não deve ser descartado pelo passado ainda recente, e, também, não se deve descartar como não mais existente o risco de rebaixamento do “rating” soberano do país.
Ao se buscar “plantar” um ambiente eufórico infundado de imediato, sem o bom senso do acompanhamento e reposição da credibilidade gradualmente a partir do fato novo, poder-se-á estar colocando em risco o sucesso, pois a intolerância com eventual desapontamento poderá ser potencializado.
Não podemos esquecer que 2014 é um ano eleitoral, que suscita muito acompanhamento com acurácia e picuinhas dando relevância às análises ao longo do ano.
Hoje é dia de COPOM. Espera-se tão somente 0,25% com elevação para 10,75%, mas no nosso entendimento o Brasil precisará ir até 11,50 ao final do ano.
No radar há muitos reajustes e despesas novas que não poderão ser contingenciados, e, há, no nosso entender, a alta do preço da moeda americana no nosso mercado, que continuamos convictos que ocorrerá com a intensificação do refluxo de recursos estrangeiros que estão aplicados no país.
Os dados recentes americanos, que devem ser explicados por Janet Yellen nesta semana no Congresso americano, sugerem ter havido grande impacto negativo das condições climáticas dos últimos 3 meses, que acabou por afetar o índice de confiança dos americanos, o que torna recomendável cautela ao admitir-se que está ocorrendo uma reversão de expectativas nos Estados Unidos.
Consideramos que os Estados Unidos tem força para catalisar forte retorno de capitais em poder dos emergentes, sem perder de vista que México, Peru e Colômbia despertam grande atratividade no momento.
Esta semana teremos a divulgação do PIB brasileiro. As projeções divergem, há quem veja recessão técnica com foco no resultado do 4º trimestre.
No nosso entendimento o preço da moeda americana no entorno de R$ 2,34 está absolutamente fora do ponto. Com a confirmação da SELIC com alta de 0,25% passando para 10,75%, fim da rolagem da posição vincenda em 5 das posições de “swaps cambiais” e após o “fixing” da PTax de final do mês que ocorrerá no dia 28 para liquidar as posições no dia 5 de abril, devemos ter o inicio da apreciação da moeda americana e assim por diante, com a intensificação da percepção de que a relação causa-efeito por parte dos investidores não será tão rápida e intensa como tem sido imaginada e quase transformada em verdadeira por puro anseio.
Hoje será divulgado o fluxo cambial até 21, operações na maioria contratadas até 19 e liquidadas D+2 em 21, e assim não permitirá que se vislumbre se verdadeiros os “tsunamis monetários novos” que estão sendo objeto de menção diária, como reação do ajuste anunciado pelo governo, o que será possível quando disponibilizado o dado fechado de fevereiro na próxima semana.