7x1 foi pouco
Nem mesmo a volta dos estaduais, com o emblemático Caldense 6 x 1 Mamoré, consegue superar a expressiva goleada que estamos sofrendo na economia.
Projeções atualizadas de mais de 100 agentes de mercado, via relatório Focus, apontam “crescimento” de 0,03% para a economia brasileira e inflação a 7,01% este ano.
Isso, sem considerar potenciais impactos adicionais partindo da caixa preta da Petrobras, do racionamento de energia e da crise hídrica.
Em nossas contas, com a confirmação desses dois últimos, sofreremos retração entre 1,5% e 2,0% no PIB de 2015.
Duas dúvidas aqui:
1. quem foi chamado de “terrorista” e “alarmista” por prever um cenário de “estagflação” agora está liberado para utilizar o termo?
2. quando o governo, que passou a seguir as projeções de mercado, irá ajustar sua projeção de 0,8% de crescimento?
Demora...
Falamos em M5M recente sobre a mudança de nomenclatura dos títulos do Tesouro.
A sopa de letrinhas das NTN-B, LFT, LTN tornar-se-ia muito mais simples e ilustrativa a partir de fevereiro.
Mas...
Em comunicado à BM&F Bovespa, a secretaria do Tesouro pediu mais prazo para a alteração, adiando a mudança de nomenclatura para 9 de março.
Sem maiores esclarecimentos, dá margem para todo o tipo de conclusão... Se não há celeridade para uma simples troca de nome de título, o que esperar de um ajuste de projeções, ou da agilidade necessária para tocarmos um ajuste fiscal na carne?
O ovo ou a galinha?
Voltando à desventura do PIB, há uma questão extremamente relevante que pode agravar o cenário:
O que vem primeiro, o ovo ou a galinha?
Traduzindo para o economês:
Quem tem que se ajustar a quem: o rating soberano ao rating da Petrobras, ou vice-versa.
Explico.
Não parece haver dúvida quanto ao caminho inverso. Como rating soberano, a nota de classificação de risco de um país influi diretamente na classificação de risco das empresas que estão inseridas em sua economia.
Portanto, o caso de um downgrade/upgrade no rating brasileiro é naturalmente seguido pelo ajuste de downgrade/upgrade (“re-rating”) no rating das empresas daquele país.
No caso da Petrobras, por exemplo, pelo tamanho da empresa e sua enorme correlação com as contas públicas, seja na geração de receitas via royalties ou distribuição de dividendos para a União, não haveria também o caminho inverso?
O risco sistêmico de Petro
Relatório do Deutsche Bank desta segunda leva o seguinte título: “Petrobras risk drags sovereign down”.
Questão muito pertinente...
Petrobras teve a sua nota de classificação de risco recém rebaixada pela agência Moody’s, que mateve o rating em perspectiva negativa para possível rebaixamento adicional.
O rating soberno do Brasil, por ora mantém-se inalterado, embora também sob observação negativa.
Não que o mero downgrade da Petro, no caso, exija o ajuste na classificação de risco do País, como ocorreria se fosse o inverso.
Mas Petrobras pode, sim, forçar um ajuste no rating soberano brasileiro, arrastando a classificação de todas as outras empresas para baixo.
Se a divulgação do último balanço da Petro disse alguma coisa, é que a empresa sequer possui uma metodologia concisa para quantificar o rombo provocado pela corrupção.
As projeções que circulam por aí avalizam este argumento, dando conta de baixas contábeis que vão desde R$ 4 bilhões a perto de R$ 90 bilhões.
A janela de captações da empresa está fechada sem um parecer dos auditores.
Para ter o parecer, precisa quantificar de forma minimamente concisa o tamanho do rombo, para, possivelmente, ter suas contas avalizadas pelos auditores.
Demora....
Petro ainda não reduziu de forma substancial o seu plano de investimentos. Prometeu que fará ajustes na divulgação de um novo Plano de Negócios, com publicação agendada para a metade do ano.
Enquanto isso, carrega a maior dívida corporativa do mundo e o maior plano de investimentos do mundo, tendo de investir mais de R$ 80 bilhões este ano.
E se não tiver as contas aprovadas e balanços publicados até metade do ano, o credores podem cobrar antecipadamente o pagamento de cerca de US$ 50 bilhões em dívidas por desumprimento de contrato.
De onde ela vai tirar dinheiro?
Seu custo de captação é elevadíssimo, seja via emissão de ações (em mínima de 10 anos) ou de dívida (falta de credibilidade, recente rebaixamento de rating, janela fechada sem parecer do auditor).
Em M5M da semana passada, falei que o risco de quebra de Petrobras é baixíssimo. Afinal, a estatal é praticamente um risco soberano, a famosa “too big to fail”.
Se a coisa de fato apertar, e concordamos que o risco de que a coisa aperte é crescente, a saída natural seria recorrer a um socorro de governo.
Too big to fail
Veja, que não estou elucubrando aqui.
Em dezembro foi anunciado que a companhia negocia ajuda do governo para lhe fornecer empréstimo de R$ 7 bilhões, em engenharia financeira que envolve a Eletrobras.
Segundo apurou o Valor, há R$ 31 bilhões de exposição no setor bancário em crédito direto fornecido para a petroleira, sob risco com a operação Lava Jato.
Disso, os bancos públicos têm o maior volume, com R$ 11,5 bilhões pela Caixa e R$ 9,4 bilhões pelo BB.
Concordamos que há, portanto, risco sistêmico (de espraiamento para outras essferas da economia) e risco crescente de iliquidez no curto prazo, ainda que não haja risco relevante de quebra da empresa...