O Ibovespa fechou o mês de maio com uma alta de 6,15%, acima dos 125 mil pontos, novo recorde nominal histórico. Este desempenho bastante favorável tem relação com uma visão mais otimista sobre a evolução da vacinação e a retomada da atividade econômica no Brasil e no mundo.
Mais no final do mês (última semana), observamos a retomada dos fluxos positivos de recursos de investidores, dando maior consistência ao otimismo observado. O fluxo cambial também foi muito positivo na balança comercial e no investimento direto, permitindo uma queda de 3,17% na taxa de câmbio (dólar abaixo de R$5,21).
No que diz respeito às companhias negociadas em bolsa, chamou atenção a divulgação de resultados referentes ao 1.Tri/21. De um modo geral, o desempenho das empresas foi muito bom, gerando surpresas tanto para as nossas projeções como para as projeções do mercado.
O bom desempenho deveu-se a uma combinação de fatores como economia mais aquecida do que o esperado, real desvalorizado, impacto favorável dos ajustes operacionais durante os períodos mais difíceis da economia em 2020, taxas de juros baixas, disponibilidade de recursos e concentração de mercado, o que afastou concorrentes menos capitalizados.
No âmbito político, o ambiente continua tenso e polarizado, com manifestações públicas do governo e oposição, com o andamento da CPI da Covid no Senado e com as costumeiras declarações polêmicas do presidente Jair Bolsonaro, que só trazem dúvidas com relação ao futuro.
Houve a aprovação da MP da privatização da Eletrobrás que ainda deverá ser referendada pelo Senado para que se dê continuidade ao processo. Na seara das reformas estruturais foi dada nova partida no projeto da reforma tributária.
É sabido que os dados do PIB do primeiro trimestre, divulgados há pouco pelo IBGE, vieram na casa de +1,20%. Este número surpreendeu positivamente os economistas (primeiras revisões apontam PIB de +5% para o ano vs. +4% anteriormente) e corrobora o que vínhamos observando nos relatos das empresas.
Sem dúvidas que o crescimento mais rápido é bem-visto pelos investidores e deve impactar positivamente o mercado de ações no curto prazo, com a possibilidade de algum fluxo adicional de investidores estrangeiros. O PIB maior sinaliza mais empregos, mais consumo, mais investimentos e um aumento de arrecadação do governo, melhorando a percepção de risco fiscal, um problema crônico no Brasil.
Menor risco fiscal deve repercutir favoravelmente na taxa de câmbio e gerar um efeito em cadeia nos índices de inflação e nas taxas de juros futuras, o que também são fatos a serem comemorados caso de fato ocorram.
Outra boa notícia é que a maior disponibilidade de vacinas a partir de junho deve acelerar a vacinação contra o Covid e trazer a sensação de proteção necessária à uma reabertura da economia com menor nível de restrições.
No grupo das preocupações, destaco o baixo nível dos reservatórios das geradoras de energia. Na melhor das hipóteses, teremos um forte aumento das tarifas de energia, preocupante para setores eletrointensivos. No pior cenário, teremos racionamento, reduções de produção e impactos negativos no PIB.
No mundo corporativo, parece claro que estamos vivendo um momento de forte pressão de custos (energia, matérias primas e insumos com preços referenciados em dólar) para grande parte das empresas e devemos ver margens menos robustas em comparação com as que vimos no primeiro trimestre. Na política, nos preocupa bastante o grande número de “pontes derrubadas” pelo presidente, que podem ter consequências no futuro próximo.
Para junho, ainda enxergo boas perspectivas para companhias do varejo (varejo eletrônico principalmente) e companhias do segmento de infraestrutura e logística, que devem se beneficiar desse cenário de crescimento econômico mais sólido, ao menos até o final deste ano. O ótimo é inimigo do bom. Temos o bom e vamos com ele.