O euro está tentando se manter acima de uma importante resistência de curto prazo contra o dólar, depois de registrar uma disparada de quase 8% desde as mínimas de novembro. A moeda americana voltou a subir na quinta-feira, após a divulgação de dados de varejo nos EUA, desafiando as recentes alegações de que o Fed reduziria seu ritmo de elevação de juros diante do relatório de inflação mais brando em outubro de 2022.
Dados de outubro mostraram que as vendas no varejo cresceram 1,3%, acima das estimativas de 1%. Isso mostra que o consumo continua saudável nos EUA, mesmo com as declarações em contrário da Target (NYSE:TGT) em seu último balanço, sugerindo que o Fed pode optar por não desacelerar seu agressivo ciclo de aperto.
“Os mercados se posicionaram para uma mudança de postura do Fed, mas os dados de vendas no varejo do país acabaram colocando em xeque essa narrativa” declarou Kim Mundy, estrategista do Commonwealth Bank of Australia.
“A economia dos EUA é movida pelo consumo, e se os consumidores ainda estão gastando, é sinal de que a inflação levará mais tempo para cair”.
Os dados acabaram favorecendo a moeda americana, fazendo com que o índice dólar atingisse 106,94, uma alta de mais de 0,6%. O DXY, que tocou a máxima de 20 anos no início do ano, recuperou-se desde a mínima de três meses de 105,30 atingida na terça-feira.
Analistas divididos
Mary Daly, presidente do Fed de São Francisco e uma das autoridades mais flexíveis do banco central, também afirmou que uma pausa nas altas de juros ainda não era uma opção, após os últimos dados de varejo nos EUA. Em tom parecido, a presidente do Fed de Kansas City, Esther George, afirmou que as autoridades monetárias deveriam ter cautela e não “parar cedo demais” a elevação da taxa básica. Ela também declarou que evitar uma recessão continua sendo uma tarefa desafiadora para os EUA.
Os dados atuais do mercado de treasuries sugerem que deve haver uma desaceleração econômica, com base no diferencial entre as taxas dos títulos de dez e dois anos, que se ampliou para 67 pontos-base, nível similar ao registrado na recessão de 2000.
Antes da divulgação dos dados de varejo, o euro vinha se recuperando forte desde a mínima de 20 anos, principalmente devido ao forte recuo do dólar diante de um índice de preços ao consumidor mais fraco, que mostrou que a inflação no país em outubro ficou em 7,7%, contra uma expectativa de 8%.
O EUR disparou cerca de 5% contra o USD neste mês, atingindo seu patamar mais elevado desde julho de 2022. Nesse ínterim, analistas de câmbio se mostraram divididos em relação à direção do dólar a partir de agora.
Rob Carnell, economista do ING, afirmou que o mais provável é que a moeda americana já tenha atingido o pico, apesar do último salto.
Nas palavras de Carnell:
“Para acreditar que o dólar ainda possa subir mais, é preciso que ocorra um aperto maior do que o esperado, bem como uma correção mais profunda das ações, o que nos faria voltar ao modo de aversão ao risco, que favorece ativos precificados em dólares”.
Mas, apesar do rali, os analistas do UBS Global Wealth Management, da Russell Investments e da Insight Investment continuam céticos quanto à continuidade da forte recuperação do euro.
Tal ceticismo deriva da fraqueza demonstrada pelo euro diante de notícias de que um míssil havia atingido a Polônia, sugerindo que a moeda esteja bastante exposta aos desdobramentos da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Além disso, os analistas acreditam na possibilidade de que uma redução no ritmo de elevação de juros pelo Banco Central Europeu (BCE) possa restringir seu potencial de valorização, à medida que o bloco enfrenta uma inflação recorde.
O rali no euro provavelmente já terminou, “a menos que vejamos mais uma rodada de dados mais fortes do que o esperado e notícias mais positivas sobre a situação de energia”, afirmou Dean Turner, economista do UBS Global Wealth Management.
Turner espera que o euro tenha dificuldades para encerrar o ano acima de 1,04. Ele acredita que ainda não há um nível de confiança adequado para que o atual rali possa se estender.
Do ponto de vista técnico, o nível de 1,0350 é uma importante linha divisória no curto prazo. Se o EUR/USD não conseguir se firmar acima desse patamar até o fim do mês, é provável que vejamos uma mudança de direção, com o par atingindo níveis abaixo da paridade novamente.
Os compradores também demonstram dificuldade em romper a resistência em torno de 1,0420, onde está localizada a média móvel de 200 dias. Um claro rompimento dessa região abriria espaço para a continuação do rali dentro do mercado de baixa, possivelmente em direção a 1,06.
Considerações finais
O euro afundou até a mínima de 20 anos novamente contra o dólar em setembro, após romper a paridade com a moeda americana em julho, devido a preocupações de que a Europa poderia ter uma crise energética neste inverno. A moeda única registrou uma recuperação de cerca de 9% nos últimos dois meses, embora a maior parte desses ganhos tenha se devido à liquidação no dólar.
Ao mesmo tempo em que as principais corretoras de câmbio (forex) registram maiores volumes de negociação, com os investidores apostando em uma mudança de postura do Fed, também estamos vendo um salto nas ações. Qualquer dado pontual indicando que a economia dos EUA ainda está aquecida deve forçar as autoridades do banco central a reiterar a continuidade do ciclo de aperto. Nesse caso, o EUR/USD deve acabar ficando abaixo da paridade e tocando novas mínimas de várias décadas antes do fim do ano.