As ações do presidente dos EUA, Donald Trump, com a China no G20 podem ter fortalecido a decisão do príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, sobre o que fazer na reunião da Opep desta semana: “empurrar com a barriga”, nas palavras de alguns analistas, os cortes de produção do petróleo.
MbS, como o príncipe herdeiro é conhecido por suas iniciais, poderia pegar emprestado o manual de estratégias usado pelo presidente norte-americano nas negociações comerciais com a China para orientar o ministro de energia saudita, Khalid al-Falih, a estender por vários meses um corte “factível” de produção que sustente os preços do petróleo sem deixá-los disparar – um resultado que pode ser aceitável para Trump.
Em nota a seus clientes, a Energy Aspects, de Londres, afirmou:
“A Arábia Saudita e seus aliados cortarão a produção silenciosamente, pois não querem que os estoques voltem aos níveis recordes registrados em 2014. O plano será manter o mercado físico em equilíbrio através de preços de venda oficiais elevados, reduzindo assim a demanda do petróleo saudita. Isso sem dúvida poderia ajudar a estabelecer um piso para os preços e gradativamente permitir sua recuperação.”
Plano saudita pode ser a ação de um “perfil discreto” nesta reunião da Opep
Afirmou ainda: “Riad poderia então reavaliar a política da Opep e preparar o terreno para uma cúpula extraordinária do cartel se necessário”, a fim de realizar maiores cortes.
A reunião da Opep de 6-7 de dezembro em Viena, portanto, pode ver um “perfil discreto” da Arábia Saudita e aguardar a mudança de janeiro no congresso norte-americano, onde democratas assumem as cadeiras de republicanos que vinham pedindo sanções contra Riad pelo assassinato do jornalista saudita crítico de MbS, Jamal Khashoggi, que residia em Washington.
Apesar de muitos analistas e os próprios sauditas acreditarem que o reino conseguiria se livrar do assassinato de Khashoggi em alguns dias ou semanas, a crise tem perseguido MbS há dois meses e continua ganhando força na medida em que republicanos congressistas exigem que a Casa Branca divulgue uma investigação da CIA que supostamente detalharia a ordem emitida pelo príncipe para executar o assassinato.
Assassinato de Khashoggi não será esquecido
No entanto, a Energy Aspects afirmou que Riad estava contanto com a entrada de democratas no congresso para desviar a atenção da casa para "questões que muito provavelmente mobilizarão o eleitorado durante o longo período de preparação para as eleições presidenciais de 2020”.
Afirmou ainda:
“É por isso que os líderes sauditas parecem acreditar que podem esperar a tempestade passar e aguardar que a revolta internacional com o caso Khashoggi diminua, provavelmente em questão de alguns meses. Enquanto isso, MbS fingirá que sua legitimidade permanece intacta tanto no âmbito doméstico quanto internacional, continuando a participar de grandes eventos”.
Um desses eventos foi o G20 da semana passada em Buenos Aires, onde o príncipe herdeiro, que foi bastante evitado por líderes mundiais, se reuniu com o presidente russo, Vladimir Putin, para discutir estratégias para a próxima reunião da Opep+ que incluirá Moscou.
Trump, enquanto isso, jantava com o presidente chinês, Xi Jinping, na capital argentina para encontrar uma solução para a crescente batalha tarifária entre as duas superpotências econômicas. Ao final, a Casa Branca anunciou uma trégua de 90 dias em sua guerra comercial com Pequim, o que fortaleceu os preços do petróleo mais do que as sutis mensagens de “cooperação contínua no rebalanceamento do mercado petrolífero” emitidas pelos russos e sauditas.
MbS precisa do apoio de Trump em diversas frentes
Embora o posicionamento protelatório com a China possa ter sido um presente não intencional de Trump a MbS para lidar com a Opep nesta semana, o jovem soberano saudita precisa do apoio do presidente norte-americano em diversas frentes, incluindo a guerra liderada pela Arábia Saudita no Iêmen. Um grupo bipartidário no senado americano votou uma lei que visa acabar com o apoio militar de Washington ao conflito no Iêmen, e os ativistas e potências regionais envolvidos estarão na Suécia nesta semana para tratativas de paz promovidas pela ONU.
A Energy Aspects espera que o príncipe herdeiro faça algumas concessões em relação ao Iêmen e até mesmo ao embargo ao Catar, a fim de mostrar certa flexibilidade e reconquistar o capital político perdido, comprometendo-se com políticas contra as quais Riad havia se oposto anteriormente. A empresa afirma também:
“Será preciso ver se MbS conseguirá seguir esse novo roteiro, mas esse parece ser o plano no momento."
Mas qual será o impacto desses planos nos preços do petróleo?
Pode ser difícil acontecer um rali no petróleo
Depois de perder um terço do seu valor em relação às máximas de quatro anos em outubro, tanto o petróleo West Texas Intermediate, dos EUA, quanto o Brent, do Reino Unido, se valorizaram 4% na segunda-feira, em seu maior ganho diário em mais de quatro meses.
Para que o rali se sustente, a Opep precisará realizar um enfático corte de produção de pelo menos 1,3 milhão de barris, dizem os analistas.
Dominick Chirichella, do Instituto de Gestão Energética de Nova York, afirmou:
“O corte terá que ser significativo, pois é preciso convencer o mercado de que os estoques rapidamente voltarão a ter níveis reduzidos.”
Maior problema da Opep: encontrar as palavras certas para um corte
Algumas instituições, como o Goldman Sachs, acreditam que os preços do petróleo não vão cair mesmo sem um anúncio de grandes reduções nesta semana, afirmando que as expectativas por uma ação tardia da Opep ainda poderiam sustentar o mercado. O banco de Wall Street declarou:
“Acreditamos que uma queda em relação aos preços atuais será moderada, possivelmente de até US$ 5 por barril.”
Porém, o mais difícil para a Opep seria encontrar as palavras certas para expressar seu corte, afirma a Energy Aspects, que complementa:
“Será fundamental uma comunicação adequada com este mercado frágil. Um anúncio confuso, mencionando uma intenção genérica para evitar que o mercado fique supersaturado, sem dúvida provocará mais quedas nos preços.”
A empresa afirma também:
“Apesar das expectativas gerais de um corte de mais de 1 milhão de barris por dia, o mercado deve estar preparado para um cenário sem acordo, pelo menos da forma como ele quer que a comunicação seja feita. Cortes discretos parecem mais prováveis neste momento, o que significa que ainda pode levar alguns meses para os preços do petróleo subirem novamente.”