Oportunidades do Plano Brasileiro de IA e a integração público-privada

Publicado 12.11.2025, 13:00

O Plano Brasileiro de Inteligência Artificial 2024-2028 (PBIA), lançado sob o mote “IA para o Bem de Todos”, prevê investimentos do governo federal de cerca de R$ 23 bilhões até 2028. Desse montante, R$ 13,79 bilhões destinam-se à IA para Inovação Empresarial e R$ 5,79 bilhões à Infraestrutura e Desenvolvimento de IA — os dois maiores eixos do programa.

Para além dos números, o PBIA sinaliza uma tentativa estratégica: transformar a IA em vetor de competitividade empresarial, ao mesmo tempo em que constrói bases para a soberania digital do país. O êxito, no entanto, dependerá da capacidade de integrar setor público e privado em uma agenda comum de inovação.

1. IA como motor da produtividade empresarial brasileira

O Brasil convive há décadas com um dilema: baixa produtividade frente a pares internacionais. O investimento bilionário em inovação empresarial (R$ 13,79 bilhões) busca alterar esse quadro, oferecendo suporte técnico, centros de apoio especializados e estímulo à cadeia de valor da IA.

Nesse contexto, dois programas respondem por mais de 80% dos recursos previstos: o Desenvolvimento de Datacenters Nacionais e as Soluções de IA para Missões da Nova Indústria Brasil (NIB). O primeiro abre espaço para criar uma infraestrutura crítica capaz de sustentar aplicações empresariais em escala, reduzindo a dependência de provedores estrangeiros de nuvem. Já o segundo representa uma oportunidade de aplicar IA em setores estratégicos da indústria nacional — alinhadas às necessidades específicas das missões do programa Nova Indústria Brasil — conectando inovação tecnológica diretamente a desafios estruturais da economia, contando com o financiamento de pelo menos 500 projetos de IA aplicados à indústria até 2028.

O grande desafio será evitar a concentração desses ganhos apenas em grandes players e grandes centros regionais. Sem políticas de difusão tecnológica e acesso facilitado para pequenas e médias empresas (PMEs) ao longo do território nacional, o PBIA corre o risco de ampliar assimetrias tecnológicas entre setores e/ou regiões em vez de reduzi-las.

2. Infraestrutura de IA e soberania digital

A segunda grande aposta do plano é em Infraestrutura e Desenvolvimento de IA. O pacote prevê a modernização de supercomputadores nacionais, criação de datacenters verdes, interligação de centros de pesquisa em alta velocidade e o desenvolvimento de modelos de linguagem (LLM) em português.

Esse movimento tem implicações geopolíticas e econômicas claras: reduzir a dependência das big techs estrangeiras e aumentar a autonomia tecnológica do Brasil. A construção de uma pilha nacional de dados e softwares pode ainda servir como base para soluções locais adaptadas à realidade brasileira, com potencial de exportação para outros mercados lusófonos.

Entretanto, dois riscos estratégicos se destacam: a dependência de tecnologias críticas estrangeiras e os altos custos energéticos da operação de datacenters. Mesmo com infraestrutura nacional, o Brasil continuará sujeito à importação de chips avançados e softwares de base, o que limita sua autonomia tecnológica. Ademais, a manutenção de grandes centros de processamento exige enorme consumo de energia e refrigeração, o que pode comprometer a sustentabilidade financeira do plano e gerar tensões ambientais, caso não haja integração consistente com a matriz renovável do país.

3. A ponte público-privada como diferencial competitivo

Se a inovação empresarial e a infraestrutura formam os pilares, é a integração público-privada que pode consolidar o PBIA como motor de transformação.

  • Para o setor privado, a abertura de acesso a supercomputadores e datasets nacionais representa a chance de acelerar P&D com menor custo.

  • Para o setor público, áreas como saúde, educação e segurança podem se tornar laboratórios de aplicação da IA, gerando dados e soluções que retroalimentam o mercado.

  • Universidades e startups completariam o elo, funcionando como espaços de inovação ágil, formação de talentos e transferência tecnológica.

Essa convergência pode criar um ciclo virtuoso: empresas mais produtivas, serviços públicos mais eficientes e um ecossistema nacional de IA mais soberano e sustentável.

O PBIA não é apenas um plano de fomento à tecnologia: trata-se de uma aposta em reposicionar o Brasil no cenário global de inovação. A promessa é grande para o país: ganhos de produtividade empresarial, soberania digital e sustentabilidade tecnológica. 

Contudo, quando comparado ao cenário global, os investimentos ainda são tímidos. A União Europeia, por exemplo, já anunciou iniciativa para mobilizar até 200 bilhões de euros em investimentos em IA; e o presidente da França, Emmanuel Macron, anunciou um aporte de 109 bilhões de euros para projetos de IA no país. Ambos comunicados buscam rivalizar com investimento da China e Estados Unidos na área.

Em suma, apesar dos investimentos no Brasil não significarem competitividade em volume, podem capturar nichos estratégicos com potencial de alavancar setores inteiros que hoje sofrem com baixa digitalização e baixa produtividade (indústria, desenvolvimento social e serviços públicos) onde o impacto marginal pode ser enorme.

O risco, porém, também é claro: sem execução eficiente, governança robusta e integração real entre setor público e privado, o plano pode se diluir em intenções.

Para investidores, empresas e formuladores de políticas, o PBIA deve ser lido como um convite à ação estratégica: antecipar oportunidades, mapear riscos e posicionar-se desde já em um mercado que promete se tornar cada vez mais competitivo.

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