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Desde sua estreia em 18 de novembro de 2004, o ETF SPDR® Gold Shares (NYSE:GLD), que reflete diretamente o preço do ouro físico, foi frequentemente visto como um ativo alternativo, mais seguro, de proteção e não como rival direto ao mercado acionário. No entanto, uma análise cuidadosa dos resultados acumulados até meados de outubro de 2025 revela que, em termos de retorno total (capital mais reinvestimento de rendimentos quando aplicável), o ouro por meio do GLD superou o ETF SPDR® S&P 500 (NYSE:SPY) em todo esse intervalo. Essa constatação desafia crenças comuns e oferece lições valiosas para investidores.
Contexto histórico e estrutura dos ETFs
O GLD surgiu como uma forma simples e acessível de investir em ouro sem que o investidor tivesse de adquirir barras físicas, guardá-las ou se preocupar com seguros e logística. Cada cota representa uma fração de propriedade de ouro mantido em cofres, e o fundo funciona com mecanismos que mantêm seu preço alinhado ao metal por meio da criação e do resgate de cotas por participantes autorizados.
Por outro lado, o SPY é o ETF mais líquido e amplamente usado para replicar o índice S&P 500, uma cesta diversificada das 500 maiores empresas dos EUA. Ele permite ao investidor participar do crescimento corporativo dos EUA, mas também absorver os riscos de mercado.
Uma diferença estrutural importante entre os dois é a presença de dividendos: enquanto o SPY distribui dividendos e esses rendimentos podem ser reinvestidos, o ouro não gera fluxo de caixa (exceto em operações de leasing de ouro, que não impactam diretamente o ETF).
Além disso, o custo de manutenção do GLD (essencialmente ligado a armazenagem, seguros e auditoria) é embutido na taxa de administração do fundo, geralmente mais elevada do que a do SPY.
Dados comparativos: desempenho acumulado (2004–2025)
Para examinar adequadamente a afirmação de que o GLD superou o SPY desde sua criação até 2025, é necessário olhar para o retorno total acumulado, com reinvestimento de eventuais rendimentos, e ajustado por parâmetros como volatilidade e drawdowns.
Retornos acumulados
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De 18 de novembro de 2004 até 13 de outubro de 2025, o retorno total do GLD foi de cerca de +400,45 % (ou crescimento equivalente), com taxa anual média de 8,01 % ao ano.
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No mesmo período, o SPY apresentou retorno total acumulado de aproximadamente +384,40 %, com taxa média anual de 7,84 % ao ano.
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Em outra fonte, considerando reinvestimento de dividendos e sem ajuste de inflação, o total acumulado do GLD foi cerca de +751,94 % e do SPY cerca de +724,63 % desde 2004 até 2025, com taxas anuais compostas de ~10,79 % para GLD e ~10,62 % para SPY.
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Em dados mais recentes até 10 de outubro de 2025, um investimento de US$ 10.000 em 2004 teria crescido para cerca de US$ 83.172,60 no GLD, contra US$ 81.216,65 no SPY.
Esses números apontam uma vantagem, ainda que relativamente estreita, para o ouro via GLD no horizonte completo de 2004 a 2025.
Volatilidade e drawdowns
A simples vantagem em retorno não garante superioridade absoluta, porque risco e estrutura de perdas também importam:
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O SPY teve um drawdown máximo desde 2004 de cerca de –55,19 % (perda máxima desde pico até fundo)
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O GLD registrou um drawdown máximo mais moderado, de –45,56 %.
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Em termos de volatilidade diária, o SPY costuma apresentar menor desvio padrão que o GLD, refletindo que ações, apesar dos riscos de mercado, muitas vezes exibem menor oscilação relativa em determinados períodos.
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Em métricas ajustadas por risco, como Sharpe e Sortino, comparações recentes mostram que o GLD tem apresentado vantagem em alguns horizontes curtos, embora isso dependa fortemente do período de análise.
Desempenho anual e ciclos
Uma análise ano a ano (2005–2025) revela alternâncias: alguns anos o ouro supera, outros o S&P 500. Por exemplo:
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2005: GLD +17,76 % / SPY +4,83 %
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2013: GLD –28,33 % / SPY +32,31 %
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2020: GLD +24,81 % / SPY +18,33 %
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2024: GLD +26,66 % / SPY +24,89 %
Esses dados indicam que é em cenários de estresse, inflação elevada ou aversão ao risco que o ouro tende a se destacar.
Por que o GLD “venceu” fatores explicativos
A vantagem acumulada do GLD frente ao SPY no período completo não é mera coincidência: ela deriva de uma combinação de fatores macroeconômicos, de mercado e estruturais:
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Proteção em momentos de crise
Em momentos de queda abrupta nos mercados de ações (como 2008 e 2022), o ouro tende a servir como porto seguro, absorvendo parte da desvalorização ou até valorizando, o que reduz o efeito negativo no desempenho acumulado de longo prazo. -
Inflação e políticas monetárias expansivas
Os últimos anos foram marcados por forte expansão monetária, estímulos fiscais e expectativas de inflação, ambiente favorável para metais preciosos, que são vistos como reserva de valor. -
Baixas taxas reais de juros
Quando as taxas de juros reais (ajustadas pela inflação) estão próximas de zero ou negativas, a atratividade de ativos que geram renda diminui, e ativos de “porto seguro” como o ouro ganham apelo. -
Baixa correlação com ações
A correlação entre o ouro e o índice acionário é relativamente baixa, o que reforça seu papel de diversificador de portfólio. -
Reinvestimento de dividendos (vantagem para ações)
Em períodos de forte valorização das ações, a distribuição de dividendos e seu reinvestimento são vantagens importantes para o SPY. Contudo, essa vantagem não foi suficiente para superar a performance combinada do ouro no horizonte completo. -
Efeitos compostos
O poder dos retornos compostos favoreceu pequenas margens de vantagem do ouro ao longo de muitos anos. Mesmo uma diferença anual pequena, se sustentada por duas décadas, resulta em vantagem significativa.
Limitações, advertências e interpretação cautelosa
Apesar de os dados indicarem que o GLD “venceu” no confronto com o SPY desde 2004, há vários pontos que exigem cautela ao interpretar essa conclusão:
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Horizonte específico e viés de início: o período inicia junto com o lançamento do GLD. Isso impõe uma espécie de “viés de seleção” favorável ao ouro, porque estamos forçando a comparação desde o ponto de partida exato do ativo de menor histórico.
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Impacto dos dividendos e estrutura de custos: o SPY tem vantagem de gerar fluxo de dividendos, e seu custo de administração é menor. Em cenários de valorização robusta de ações, essa vantagem pode ser decisiva.
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Risco estrutural do ouro: apesar de menos volátil em certos períodos, o ouro não gera receita, e seu valor depende quase totalmente das expectativas macroeconômicas, monetárias e comportamentais.
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Condições futuras distintas: o ambiente macro (taxas, inflação, política monetária) pode mudar drasticamente o que favoreceu o ouro nos últimos ciclos pode não se repetir.
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Overfitting de dados históricos: apenas porque algo ocorreu no passado não garante que seja repetível no futuro.
Para leitores e investidores, a constatação de que o GLD superou o SPY desde 2004 até 2025 não deve ser lida como uma recomendação direta para abandonar ações ou migrar todo portfólio ao ouro. No entanto, ela oferece um raro lembrete: mesmo instrumentos mais modestos, considerados de proteção, podem, sob condições favoráveis, ultrapassar ativos de “crescimento”.
Essa constatação fortalece a tese da diversificação inteligente: manter exposição, ainda que limitada, a ativos não correlacionados com o mercado de ações pode melhorar os resultados ajustados pelo risco. O ouro, por meio do GLD, provou nessa longa janela que pode desempenhar papel ativo, não apenas passivo, no crescimento real de portfólios.