As yield-bearing stablecoins representam uma diferenciação no mercado de stablecoins para incluir rendimento aos detentores. Algo que normalmente é possível apenas aos emissores de stablecoins.
Diferente das tradicionais, como USDT ou USDC, que apenas mantêm paridade com o dólar, essas stablecoins oferecem aos seus detentores a capacidade de gerar rendimento passivo, funcionando como uma espécie de conta remunerada on-chain, combinando segurança, liquidez e eficiência de capital.
Essas stablecoins surgem em resposta direta à crescente demanda do mercado por produtos que integrem ativos digitais, finanças descentralizadas (DeFi) e ativos do mundo real (RWA), trazendo novos modelos de geração de yield, seja via renda fixa tradicional, seja via mecanismos DeFi avançados.
Os 4 Modelos de Geração de Yield
1. RWA-Backed (Ativos do Mundo Real)
Stablecoins 100% lastreadas em ativos tradicionais, como títulos do tesouro americano, fundos de mercado monetário ou crédito privado tokenizado.
O rendimento vem do yield desses ativos, transferido diretamente para os detentores on chain.
Esses ativos representam a ponte mais direta entre DeFi e TradFi, trazendo segurança, previsibilidade e rendimento via ativos off-chain.
Exemplos:
• Ondo (USDY) – Lastreada em U.S. Treasuries, com yield proveniente dos juros desses títulos;
• OpenEden (USDO) – Lastreada em U.S. Treasuries e contratos de recompra, repassando o yield dos ativos aos holders;
• Ethena (USDTb) – indexada ao fundo tokenizado da BlackRock (BUIDL); • Usual (USD0) – lastreada em T-Bills tokenizados de diversas plataformas;
• BlackRock (NYSE:BLK) (BUIDL) – próprio token do fundo de treasuries da BlackRock; • Agora (AUSD) e Noble (USDN) – backed por reservas de T-Bills e cash equivalents; • Anzen (USDz) – atrelada a crédito privado tokenizado;
• Cygnus (cgUSD) – stablecoin rebasing, ajustando saldo para refletir yield dos T Bills;
• Frax (frxUSD) – parcialmente colateralizada por BUIDL e ativos do Superstate.
2. Basis Trades / Arbitrage Strategies
Modelos mais sofisticados, baseados em operações delta neutras, funding rate arbitrage e cross-exchange trading.
São stablecoins que geram rendimento sem exposição direcional ao risco de preço dos criptoativos.
Esse segmento depende diretamente da saúde do mercado de derivativos, sendo mais sensível à compressão de spreads em mercados maduros.
Exemplos:
• Ethena (USDe) – hoje a maior, opera com delta hedging em derivativos; • Elixir (deUSD) e Resolv (USDR) – neutralizam risco de ETH via perp futures; • Falcon (USDf) – usa arbitragem de funding rate, staking e LP;
• AsterDEX (USDF) – backed em ativos cripto e short futures;
• Hermetica (USDh) – hedged em Bitcoin via short perp futures;
• YieldFi (yUSD) – combina arbitragem, funding rate e yield farming; • Multipli (xUSD) – foco em arbitragem em CEXs e funding rate.
3. Lending / Debt-Backed Stablecoins
Stablecoins geradas através de modelos de empréstimos colateralizados (CDP) ou via pools de crédito. O yield vem dos juros pagos por tomadores ou de taxas de estabilidade.
É a vertente mais tradicional no DeFi, mas que agora incorpora novos protocolos CeDeFi, multichain e mais robustos.
Exemplos:
• Curve (crvUSD) – overcollateralized com peg mantido via LLAMMA; • Aave (GHO) – colateralizado dentro da Aave V3;
• Sky (DAI/USDS) – evolução do DAI, com modelo de Savings Rate embutido; • Avalon (USDA) – CeDeFi CDP, usando BTC e outros ativos;
• Liquity (BOLD) – colateral ETH + yield de taxas de estabilidade;
• ListaDAO (lisUSD) e Bucket (BUCK) – modelos CDP em BNB Chain e Sui, respectivamente;
• MIM (Abracadabra) – yield via interest e liquidation fees;
• Syrup (SyrupUSD) – lastreada em empréstimos institucionais via Maple Finance; • Felix (feUSD) – fork da Liquity na Hyperliquid;
• Reserve (USD3) – backed por basket de tokens yield-bearing como pyUSD e sDAI;
• Superform (superUSDC) – vault que auto-aloca USDC nas melhores oportunidades DeFi.
4. Mixed Yield Sources
Stablecoins híbridas que combinam múltiplas fontes de yield: RWAs, DeFi, CeFi, staking, LPs e outros. Buscam diversificação de risco e eficiência na geração de retorno.
São modelos que tendem a capturar uma gama mais ampla de oportunidades, mitigando a dependência de um único mercado ou estratégia.
Exemplos:
• Reservoir (rUSD) – backed por RWAs e vaults de DeFi;
• Coinshift (csUSDL) – combinação de T-Bills + lending DeFi (via Morpho);
• Midas (LYTs) – stablecoins institucionais, compostas por estratégias ativas em RWA e DeFi;
• Upshift (upUSDC) – yield de LP, lending e staking;
• Perena (USD* [é listada com asterisco mesmo]) – Solana-native, que gera yield a partir das taxas do próprio AMM.
Conclusão
O surgimento das yield-bearing stablecoins representa uma diferenciação que inclui os detentores de stablecoins na partilha de rendimento que antes se concentrava para os emissores.
Elas oferecem retorno real, liquidez imediata, transparência on-chain e acesso global.
Porém, todo yield carrega risco. Seja risco de contraparte, falhas nos mecanismos de arbitragem, stress no mercado de derivativos, insolvência de credores ou falhas de compliance em RWAs.
O investidor que busca esse tipo de ativo precisa compreender profundamente de onde vem o yield, qual a fonte, quais os riscos estruturais e como o protocolo gere eventos extremos.
Fontes: Coinmarket Cap, Insight4vc