Exagerou
Algumas vozes já ponderam que o mercado pode estar exagerando na dose nos prognósticos quanto a Trump. “É mesmo?”
Absorvida a sinalização mais estridente do que o esperado por parte do Fed, dólar volta a cair contra euro e treasuries interrompem seis dias de queda, ajustando taxas.
Nos emergentes, se dissemina a mensagem de que o fim do “interregno benigno” de que tanto vem falando nosso BC já estava incorporado às expectativas. E o jogo segue.
Apagar de luzes
O reflexo é de mercados desenvolvidos em dia relativamente morno, com bolsa americana se sustentando muito próxima da máxima histórica — segundo Yellen, “valuations normais”.
Na Europa, algum destaque para o noticiário corporativo de fusões e aquisições.
Por aqui, otimismo com ênfase em nomes do mercado doméstico, com noticiário relativamente fraco ante o apagar de luzes da atividade legislativa.
Para 2016, já deu.
Da porta para fora
Foi de pouco caso a reação predominante às medidas microeconômicas anunciadas pelo governo na tarde de ontem. Acostumados com os planos econômicos mirabolantes fortemente baseados em investimento público e nos subsídios setoriais que coalham a história econômica brasileira, os “formadores de opinião” de sempre — alguns dos quais achavam as políticas da Dilma o estado da arte — ficaram tristonhos.
O foco é no longo prazo. “Longo prazo? Mas a gente precisa de crescimento hoje!”
Desde que eu entrei para o mercado, escuto de representantes da indústria a mesma coisa: “somos ultracompetitivos da porta da fábrica para dentro; o problema é da porta para fora”. Excelente: é isso que a equipe econômica sinaliza atacar. Sem subsídios a perder de vista; sem martelar o câmbio para ajudar amigo; sem transposição do Rio Amazonas até Santa Catarina.
Balão de oxigênio
Meirelles afiançou que economia começará a dar sinais de recuperação no primeiro trimestre: se apóia na faxina promovida no âmbito fiscal e no afrouxamento da política monetária como alavancas para retomada da confiança.
Nesse ínterim, oferece ao empresariado regularização de débitos tributários em condições camaradas a renegociação de empréstimos junto ao BNDES — mas nada de taxas subsidiadas.
A mensagem: tome aqui um balão de oxigênio e trate de colocar a casa em ordem para voltar a trabalhar.
E se der tudo errado?
A despeito de avanços no front econômico, sabemos que o cenário político é nebuloso e pode se tornar ainda pior mais à frente.
Dentre os riscos, desdobramentos da abertura da caixa de Pandora de Odebrecht e o julgamento da chapa Dilma-Temer no TSE.
É saudável, portanto, ter em mente a possibilidade de tudo dar errado — e preparar-se também para uma eventual segunda queda.
Prevenir é sempre melhor do que remediar.