Tudo Menos “Normal”
Depois do susto de ontem, o mercado tenta uma recuperação, enquanto espera pelo andamento da reforma trabalhista na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), Bolsa vai subindo e dólar fica de lado – a curva de juros tem aumento de inclinação nas pontas longas.
A bola nas costas que o governo tomou deixou todo mundo preocupado – tudo indica que, no plenário do Senado, a reforma será aprovada sem sobressaltos, mas, depois da trapalhada da base, quem está disposto a pagar pra ver?
O digníssimo senador Sérgio Petecão (não estou inventando nomes) não conseguiu comparecer à sessão, seu suplente votou contra o relator; Eduardo Amorim, com medo de contrariar a esposa e passar umas noites no sofá, também traiu a base.
O primeiro é do PMDB e o segundo, tucano – sem dúvida, os dois partidos se merecem.
Se o PSDB ficou com Temer para garantir o andamento das reformas, faltou combinar com os quadros.
Romero Jucá correu às mídias para falar que está tudo bem, que foi tudo normal. Já o relator da reforma, Ricardo Ferraço, desceu a lenha na base governista – “cochilo e barbeiragem”.
Com o presidente da República rebatendo reportagens de delator e doleiro entregando a rapadura em depoimento à Polícia Federal, fica difícil aceitar que “está tudo bem”.
Claramente há um enfraquecimento da base governista e, enquanto uma solução mais definitiva não “aparecer”, eventos como o de ontem se tornarão mais corriqueiros.
Alívio Para as Massas
A boa surpresa na criação de vagas de emprego (34 mil sem o ajuste sazonal) deve ter contribuído um pouco para o clima mais ameno no mercado. O dado, que seria bastante celebrado fossem outros os ares em Brasília, indica reversão de tendência no desemprego e pode significar merecido refresco para a massa de desempregados.
Seis dos nove setores interromperam a amargura observada desde o início da crise olhando o comportamento de abril para maio – na média móvel de três meses, situação do mercado de trabalho reverteu para Varejo, Serviços e Manufatura.
Fonte: Empiricus Research e Caged
A dúvida que fica é se a recuperação, tanto do emprego quanto dos demais indicadores econômicos, tem uma característica inercial ou se a inoperância do governo Temer vai impedir que o segundo semestre continue apresentando bons dados.
Em conversas nos corredores e esquinas do Itaim, a impressão que fica é que os investidores locais não estão animados e esperam por alguma definição para se mexer. Já os gringos não querem nem saber qual será o destino de Temer – em um mundo de juros zero, está todo mundo de olho nesses juros reais de 6 por cento, e pouco importa se temos ou não um presidente.
Bonito não é. Mas é o que tem mantido um pouco de tranquilidade por aqui, principalmente no mercado cambial.
Aproveite a Onda Imobiliária
Quem sabe que a recuperação, mesmo que demore, vem é o Daniel. Ele está há semanas comentando comigo como o mercado de lajes comerciais tem mostrado sinais de melhora, com queda de vacância e sustentação de preços, principalmente na cidade de São Paulo.
Sabendo disso, ele levantou quais seriam os Fundos Imobiliários melhor posicionados para capturar essa retomada e preparou uma carteira especial.
Mas, como o mercado de FIIs é bem ilíquido, não dá pra abrir pra muita gente. São poucas vagas e só quem chegar primeiro vai levar.
Não deixe de dar uma conferida aqui.
Transporte Ilegal
Tem intrigado analistas e políticos norte-americanos a queda na demanda e do preço da gasolina em um período em que o esperado é que os preços subam e os estoques afundem – o início da estação quente anima todo mundo a pegar o carro e viajar.
O aumento de estoques e queda de preços até podem ser explicados pela maior produção nos EUA – o fracking veio para ficar e, com ele, o produtor americano tem maior controle sobre oferta e preço, para desespero da Opep.
Mas, por que raios a demanda tem caído justamente quando deveria estar aumentando?
Especialistas da Barclays (LON:BARC) Capital encontraram uma explicação no mínimo criativa: de acordo com os analistas, a política anti-imigração do Topete estaria reduzindo o número de imigrantes ilegais nas estradas, principalmente na Costa Oeste do país.
Explico: desde a posse de Trump, o governo americano tem aumentado o número de blitzes nas rodovias para encontrar e deportar pessoas sem documentação – “a política de imigração incitou um medo enorme nas comunidades de imigrantes sem documentos”.
Por mais que eu tenha minhas críticas a Trump, me parece que culpar sua política de imigração pela queda no consumo da gasolina é uma baita forçação de barra. Mesmo que o número de ilegais seja relevante (e, de fato, é), o efeito não deveria ser tão significativo – seria necessário que TODOS os ilegais parassem de dirigir para que houvesse uma pressão sobre os preços.
É muito mais provável que a queda na demanda seja explicada por uma conjunção de fatores como carros mais eficientes, aumento da frota de carros elétricos e/ou híbridos, maior utilização de transporte coletivo e até enfraquecimento da atividade econômica.
Mas analistas adoram a falácia narrativa e é muito mais bonitinho contar a história de como as políticas nefastas de um presidente malvadão teriam impacto negativo até sobre o consumo de gasolina.
Trump continua sendo Trump, mas desse filho ele não é pai.