Introdução
Uma coisa é certa, 2012 não será semelhante a 2011. Nunca é. Nesta altura do ano há inúmeras previsões para o próximo ano que refazem os temas do ano anterior. Não quero com isto dizer que não vai haver tendências, mas é necessário entrarmos em certos pormenores para nos dar hipótese de algo que não é redundante. Por isso vamos começar com o meu preferido.
Ciclo
Em 2012, a actividade cíclica vai continuar a subir para atingir um máximo, previsto para 2013. Correlacionado com os ciclos está o aumento das manifestações humanas, revoltas e revoluções, e o aumento de terramotos. Vimos evidência da correlação em 2011. O despertar da população no Médio Oriente/África provocou uma subida no preço do petróleo, enquanto o terramoto na costa do Japão causou um tsunami devastador, provocaram uma redução no crescimento económico. Por isso temos de estar alerta para mais terramotos e manifestações em 2012, mas os seus impactos nos mercados depende do “quê” e “onde”. Dada a tensão contínua na balança da oferta/procura do petróleo, existe a possibilidade de problemas nas regiões produtoras de petróleo, e, assim, despoletar uma subida no preço.
A actividade cíclica é prevista atingir um máximo por volta de Maio de 2013, aproximadamente a 18 meses de distância. Olhei para o passado e comparei os períodos dos últimos 18 meses antes do máximo da actividade cíclica em anteriores picos seculares nas commodities, isto é, últimos 18 meses até Agosto de 1917, Maio de 1947 e Dezembro de 1979. Em todas estas três ocasiões vê-se padrões similares com as acções a serem transaccionadas em sideways, com volatilidade nestes períodos, enquanto as commodities avançam significativamente.
Claramente, o aumento dos preços das commodities fará acelerar a inflação, mantendo tudo o resto constante. E por outro lado, a aceleração da inflação encoraja a alocação de capital em “hard assets” (commodities). Assim, se assistirmos a uma repetição a partir daqui até meados de 2013, deveremos esperar uma subida nas acções em termos nominais, mas perdendo terreno relativamente ás commodities.
Então, para recapitular, com comparações cíclicas e históricas, deveremos esperar inflação nos próximos 18 meses para atingir um pico em meados de 2013, com um acompanhamento da subida de preço das commodities durante este período, enquanto as acções vão ser transaccionadas num padrão sideways (em queda em termos reais). Isto sugere que deveremos estar posicionados longos em commodities e com análises de curto-prazo em busca de oportunidades nas acções/Índices em ambos os sentidos.
Perspectiva Global
A oferta monetária tem crescido acentuadamente este ano, não muito diferente ao que aconteceu antes do último pico secular das commodities. No entanto, a velocidade do capital é fraca e em queda, e é necessário uma inversão de sentido para que seja um eco de finais dos anos 70. Por isso existe uma grande quantidade de dinheiro, provocando retornos reais negativos para quem está em liquidez, mas que pode rapidamente ser aplicado em commodities e aumentando, assim, a inflação, mas é dinheiro para estar posteriormente parado, e não em circulação.
Agora notem que os dois últimos picos seculares bullish nas commodities foram pólos opostos em termos de taxa de juro. Em finais dos anos 70 as taxas de juro subiram numa tentativa de conter a inflação cada vez mais elevada. No entanto, em 1947 as taxas de juro foram mantidas em níveis insignificantes, apesar da cada vez mais elevada inflação, causada pela excessiva dívida do país construída na II Guerra Mundial. Isto resultou na depreciação do USD. Isto é claramente um espelho da situação actual, em que o Governo dos EUA quer manter as taxas de juro baixas devido à dívida elevada e crescimento fraco, apesar da elevada inflação, e o USD tem estado numa tendência secular bearish.
As yields das obrigações do Governo deverão seguir em direcção a um bottom (mínimo) e a FED está empenhada em manter as taxas ultra baixas até 2013, tentando continuamente suprimir as yields. Isto encoraja a saída de capital de obrigações e de liquidez.
Agora, a ressalva seria se os vigilantes das obrigações viram as suas atenções para a dívida dos EUA. No entanto, os EUA podem comprar as suas próprias obrigações através de mais Quantitative Easing (QE) ou uma variante deste, coisa que o BCE não está autorizado a fazer, mas os EUA correm o risco de deter os compradores estrangeiros e se diluírem ainda mais. Temos de estar cientes de mais problemas com a dívida na zona euro em 2012 devido aos picos nos requisitos de rollover da dívida Espanhola e Italiana, mas existe evidência de que as respostas políticas incrementadas na zona euro estão a produzir efeitos, abstendo-se de impressão de moeda / QE. Esta diluição contida é uma das razões porque eu espero que o USD retorne a sua tendência de queda. Com todos os problemas na Europa este ano, a moeda (euro) apenas caiu 2% contra o USD em 2011. Isso reflecte os fundamentos pobres do USD.
Podemos também notar a situação da dívida no Japão, com o maior rácio dívida/PIB do mundo. No rollover da dívida para o Japão, é interessante que os maiores requisitos/exigências foram em 2011 e passaram sem problemas.
No que respeita ao sentimento e posições curtas para o USD e o Euro em finais de 2011 – extremos em ambas que sugerem uma inversão de sentido, com o capital a sair do USD e obrigações e a confiança a ser restaurada no Euro e na dívida da zona euro.
Considero que a crise da dívida pública seja a terceira, e a fase final deste actual secular bear: crise de débito aos consumidores, depois o estalar do crédito nas empresas e agora o crédito do governo. Este É um tema que espero que continue em 2012, mas em que forma e quem será falado não consigo dizer. Os políticos desempenharão um papel determinante. Mas deixem-me que vos diga: as obrigações de países endividados não serão atractivas ao pagar retornos reais negativos, ou não atractivas pagando maiores (e cada vez maiores) yields à medida que a confiança diminui. De qualquer das formas devemos olhar para outras classes de activos como imãs para os fluxos de capitais.
Acções, Imobiliário, Commodities
Retornos “flat” são a projecção para 2012. Isso irá suportar o comportamento global das acções em sideways.
Atribuo um target para um máximo cíclico no final de Janeiro. Daí para a frente estarei atento para oportunidades oversold/overbearish ou overbought/overbullish nos Índices de acções, suportando a minha expectativa de que o mercado se vai mover em sideways, com volatilidade, nos próximos 18 meses.
O sector imobiliário deverá estar a caminhar para atingir um máximo até 2013, ou um mínimo invertido. A tendência secundária do preço das casas nos EUA mostra que provavelmente será um bottom até 2013, o que significa que não vai haver fluxo de capitais para o sector imobiliário nos próximos 18 meses.
Agora voltando ás commodities, os metais preciosos deverão atingir novos máximos uma vez que as taxas de juro reais estão negativas e manter-se-ão durante 2012.
Reitero que o bull market secular das commodities deverá acabar com uma mania parabólica nos metais preciosos, e que deverá ocorrer em meados de 2013.
Agora vejam o que se passa com a Prata em finais de 2011. O sentimento está em contrário extremo assinalando compra, e o “smart money” é mais elevado aquando da queda em 2008.
Entretanto, os fundamentais para o petróleo suportam uma subida do preço. O petróleo subiu em 2011, apesar do abrandamento global e os problemas na zona euro. O crescimento global é projectado para começar a subir no primeiro trimestre de 2012, e eu espero que seja favorecido pela ampla gama de medidas monetárias globais e medidas fiscais que foram implantadas em 2011 (Operação Twist, QE no Reino Unido, medidas da Zona Euro, intervenção monetária da Suiça e Japão, intervenção da China, etc).
Os inventários de petróleo têm caído recentemente, e o mundo vai-se esforçar para ter disponível toda a procura projectada para 2012.
O cenário para o petróleo é um pouco limitado. O “Peak Oil” está próximo. Os EUA poderão ter encontrado uma fonte abundante de gás natural, mas houve até agora um progresso lento na conversão de petróleo para gás, nas áreas possíveis. Um crescimento global mais rápido do que o esperado ou uma interrupção em qualquer dos países chave fornecedores (como o Irão) poderia originar um aumento significativo do preço do petróleo para 2012.
Voltando ás “soft commodities”, penso que poderemos assistir a sérios impactos na agricultura no Inverno que se avizinha. Baseado em tendências, 2012 estará no top 10 dos anos mais quentes desde que há registo, com certos desastres naturais a atingir novos extremos.
Eu acredito que as mercadorias agrícolas se juntarão aos metais preciosos e ao petróleo numa forte subida em 2012. O gás natural continua a ser perseguido por stocks e oferta abundantes. Mas se o petróleo começar a acelerar penso que o gás natural suba pelo “elevador”.
China, Eleições
Claramente, um factor chave na performance das commodities é a China. A China abrandou em 2011, e mantém-se em risco de rebentar a bolha imobiliária, que já é uma verdadeira bolha há algum tempo. Os preços das casas caíram recentemente, mas não tanto como em 2008, a partir do qual o sector imobiliário recuperou sem rebentar. Com a diminuição recente da inflação chinesa, acredito que a China vai facilitar e estimular um pouco e dar ao mercado imobiliário uma outra força. Penso que há aqui uma pequena janela importante para a China intervir e impulsionar o crescimento antes que as commodities e a inflação subam novamente.
Deveremos também assistir a um retorno do apetite pelo risco a nível mundial, com base na reversão média, que é suporte do fluxo monetário para as commodities, vindo de liquidez e obrigações.
Finalmente, 2012 será o ano de eleições presidenciais nos EUA. Também a França vai mudar de presidência, e a China e a Rússia verão também mudanças na sua liderança. Dadas essas quatro eleições, há certamente potencial de instabilidade, não mencionando o Médio Oriente e África, que se mantêm em fase de mudança.
Sumário
Espero ver nos próximos 18 meses uma força poderosa final de subida nos metais preciosos e petróleo, numa conclusão do bull market secular. Também espero ver uma boa performance das mercadorias agrícolas. Espero um ciclo de feedback entre inflação e as commodities, positivo para o crescimento global até ser atingido um crescimento inflacionário final, antes de cairmos numa recessão por volta de 2014.
Espero um aumento da velocidade monetária. Penso que as acções vão andar em sideways com volatilidade, enquanto caem em termos reais para atingir rácios de price/earnings de um dígito, e atingir extremos seculares baratos versus o ouro e o petróleo em meados de 2013. Espero um bottom no preço dos imóveis, não atraindo grandes quantidades de capital. Liquidez e obrigações vão continuar a pagar retornos reais negativos, e, portanto, incentivar o investimento em commodities e, de certa forma, nas acções. Espero também ver o USD retornar a sua tendência de queda.
Considero que existem duas grandes oportunidades de uma geração nos próximos 4 anos. A primeira é os ganhos com a mania final das commodities (liderada pelos metais preciosos) com ganhos parabólicos, e a segunda é apanhar um bottom nas acções com vista a investir forte e mantendo as posições em carteira por uma década, num novo bull market dos mercados de acções.