- Corte surpresa de produção da Arábia Saudita tinha como foco posições vendidas no mercado futuro.
- Apesar de os ministros de energia do país desprezarem a importância do mercado futuro do petróleo, trata-se de uma ferramenta importante de liquidez.
- Enquanto isso, a água estreia no mercado futuro de commodities, e economistas defendem que isso ajudará a aumentar a eficiência do uso de recursos hídricos.
Os preços do petróleo subiram nesta semana após a Opep+ anunciar um surpreendente corte voluntário de produção no domingo. Várias razões foram dadas para a ação, mas, de acordo com o ministro de energia saudita, Abdulaziz bin Salman, uma delas foi "deixar aqueles caras nas mesas de operações nervosos, o máximo possível ". Ao que tudo indica, a recente crise bancária levou alguns operadores a apostar contra os preços do petróleo, e a intenção da Arábia Saudita era causar dor em quem “ficasse brincando com o mercado".
Esse sentimento antiespeculadores de Bin Salman não é uma novidade entre os ministros de energia da Arábia Saudita. Ali Naimi nunca teve receio de acusar os “especuladores” quando achava que suas operações no mercado financeiro estavam provocando distorções nos mercados petrolíferos. Em 2008, o ministro declarou a repórteres que os especuladores eram os culpados pelo fato de os preços do petróleo terem atingido três dígitos e, por isso, não havia nada que a Opep pudesse fazer, do ponto de vista da oferta, para reduzir os preços. "A especulação no mercado futuro está determinando os preços", declarou à época. "Atualmente, não há ligação entre os fundamentos do petróleo e os preços."
Pode ser que a insatisfação dos ministros do petróleo da Arábia Saudita com os traders decorra do fato de que sua ação no mercado futuro acaba reduzindo a influência dos ajustes de oferta da Opep nos preços do petróleo. No entanto, é preciso ressaltar que os contratos futuros têm um papel importante na indústria petrolífera atualmente. Essa especulação ajuda a aumentar a liquidez das negociações de petróleo, ao permitir que os participantes da indústria protejam com eficiência suas posições, evitando a volatilidade futura, além de distribuir melhor o risco.
Nos últimos anos, produtores petrolíferos, como BP (NYSE:BP), ExxonMobil (NYSE:XOM) e até mesmo a Aramco (TADAWUL:2222), abriram suas próprias unidades de trading e vêm auferindo grandes lucros com a negociação de contratos futuros de petróleo. Sem dúvida, também há desvantagens para a indústria e os consumidores, mas, em geral, é possível dizer que as negociações de contratos futuros ajudam o mercado global a ter um funcionamento mais eficiente.
Em 2021, uma nova commodity, a água, fez sua estreia no mercado futuro. Investidores, agricultores, municípios e especuladores agora podem comprar e negociar contratos futuros de água. O principal beneficiário dos contratos futuros de água são os agricultores em áreas propensas a estiagem. Eles podem usar os contratos futuros para se proteger de picos de preço da água, comprando-a a preços mais baixos hoje para entrega futura. Mas será que a negociação de futuros pode ajudar a promover a segurança hídrica, a acessibilidade e as metas ambientais? É um mercado que vale a pena operar, considerando que os potenciais benefícios superam os problemas?
Alguns economistas defendem que a negociação de contratos futuros pode ajudar a fazer com que a água receba melhor uso econômico, aumentando a eficiência do mercado. Além disso, poderia tornar a água mais acessível aos agricultores e promover a segurança hídrica em áreas propensas à estiagem. Assim como o mercado futuro de petróleo pode ajudar os produtores a se planejar e compreender melhor o preço da commodity no tempo, o mesmo pode ser dito da água, ao permitir que municípios, agricultores e outros consumidores façam um planejamento mais eficaz do seu uso. A clareza maior do mercado e o nível mais elevado de confiança nos preços incentivariam as empresas de saneamento e outros players do setor de purificação e fornecimento de água a investir em armazenamento, reciclagem, eficiência e fontes de abastecimento ambientalmente sustentáveis no futuro.
Por exemplo, um município poderia analisar o mercado futuro e determinar que, para garantir a segurança hídrica dos seus consumidores, deveria investir na construção de uma usina de dessalinização que fornecerá um fluxo consistente de água a preços acessíveis, em vez de ter que comprar água de outras áreas a preços variáveis. A maior certeza com o preço futuro da água poderia ajudar as localidades a justificar investimentos em novas tecnologias de purificação e transporte de água com maior eficiência energética para o futuro, especialmente em áreas como a Califórnia, que enfrenta escassez hídrica com bastante frequência.
Neste momento, o mercado de contratos futuros de água é extremamente pequeno, portanto, a indústria de água não está se beneficiando do aumento da liquidez ou da distribuição de riscos, como outras indústrias commoditizadas. Há muito pouco incentivo para os traders negociarem contratos futuros de água, pois o volume de negociação é tão baixo que os lucros são insignificantes para especuladores.
No entanto, a água será um importante tópico de discussão no próximo Congresso Mundial de Serviços de Utilidade Pública, a ser realizado de 8 a 10 de maio em Abu Dábi. A expansão do mercado futuro de água deve ser discutida, no sentido de garantir um futuro sustentável para commodities vitais. As pessoas que vivem em áreas com escassez hídrica poderiam se beneficiar bastante com um mercado futuro robusto, ainda que isso acabe gerando algum grau de distorção financeira.
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Aviso: A autora atualmente não possui nenhum dos ativos mencionados neste artigo. Publicado originalmente em inglês em 06/04/2023.