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Petróleo: Risco do Irã vs. Risco da Rússia

Publicado 18.02.2022, 16:30
Atualizado 02.09.2020, 03:05

Investidores do petróleo, o que vai prevalecer: o risco da Rússia ou o risco do Irã?

Independente da sua escolha, certamente não vai ser fácil manter a aposta nas próximas semanas.

Se você é o tipo de trader que prefere operar movimentos fortes, provavelmente vai gostar da maior volatilidade.

Mas, se você é um trader direcional, aquele cenário fácil dos últimos dois meses, em que o petróleo praticamente apontava para uma única direção – isto é, para o barril a US$100 ou mais –, ficou mais nebuloso.

WTI diário

Para ser justo, é possível que vejamos a cotação de três dígitos a qualquer momento. Se o noticiário sugerir, ainda que remotamente, que tropas russas estão se reunindo na fronteira da Ucrânia ou avançando sobre seu território, é possível que os preços do barril subam de US$3 a US$5 em questão de minutos.

E embora nenhum míssil tenha sido disparado no conflito, o petróleo já se valorizou US$20 nas últimas 10 semanas, principalmente devido à guerra de palavras entre os Estados Unidos e a Rússia desde que eclodiu a crise ucraniana em 21 de novembro.

Contudo, com a mesma velocidade com que os preços subiram diante das notícias de agressão, também caíram diante de sinais de mediação.

O pêndulo oscilou com muito mais intensidade nas últimas 48 horas, já que Teerã mostrou disposição em retomar seu acordo nuclear de 2015 com as potências mundiais, o que pode acabar removendo as sanções dos EUA ao seu petróleo, pavimentando o caminho para um retorno legítimo de um milhão de barris persas por dia ao mercado.

Brent diário


Como ressaltou na quinta-feira John Kilduff, sócio do fundo de hedge de energia Again Capital, de Nova York:

“Há muitos fatores desconhecidos no impasse russo-ucraniano, de forma que cada operação pode não durar até a próxima manchete”.

“Em vista dessas circunstâncias extremamente desafiadoras e da volatilidade, os traders optaram por reduzir sua exposição ao risco, focando-se em operações de ‘agora’, que é a possibilidade de acordo com o Irã.”

De fato, os riscos do Irã e da Rússia estão em lados completamente opostos. O primeiro representa um risco de queda (mais barris podem sair de Teerã), enquanto o segundo favorece a alta (sanções dos EUA sobre as exportações de energia da Rússia em caso de invasão), por isso é tão importante acompanhar os desdobramentos de cada caso.

Risco do Irã (queda do petróleo)

Não enriquecimento nuclear

A versão preliminar da proposta feita pelas potências ocidentais ao Irã sugere diversas fases de supervisão e engajamento para fazer Teerã voltar a cumprir seu acordo nuclear de 2015.

O mais importante é que, de acordo com matérias da Reuters sobre o documento, o Irã deve interromper imediatamente o enriquecimento do urânio para evitar que avance até atingir a capacidade de produzir uma bomba.

Somente se o país respeitar esse requisito é que as tratativas teriam prosseguimento, liberando bilhões de dólares de vendas anteriores de petróleo para os cofres da República Islâmica, além da remoção das sanções que lhe permitiriam exportar livremente seu produto, ainda que com monitoramento contínuo dos seus compromissos nucleares.

Teerã quebrou muitas restrições no acordo de 2015 após o ex-presidente Donald Trump retirar os EUA do pacto e reimpor sanções ao país persa. O acordo original limitava o enriquecimento do urânio a uma pureza físsil de 3,67%, mas o Irã está agora enriquecendo o metal a até 60%, perto do grau necessário para a fabricação de armas, segundo fontes citadas pela Reuters. O Acordo Nuclear 2.0 exige que os mulás suspendam o enriquecimento acima da pureza de 5% e retornem ao limite de 3,67% com o tempo.

  • Os pontos mais importantes de discórdia nas tratativas entre o Irã e as potências mundiais no ano passado residiam na definição do Ocidente do programa nuclear persa, bem como nas alegações de transgressão de níveis de enriquecimento nuclear, além das pré-condições que a república islâmica deveria cumprir para o levantamento das sanções.
  • O Irã insiste que seus objetivos nucleares são totalmente pacíficos e que deseja dominar a tecnologia para usos civis. Poucos fora do país acreditam nisso, evidentemente. Com base na versão preliminar do acordo, Teerã poderia continuar solicitando a remoção incondicional das sanções, prometendo cumprir todas as regras posteriormente. Esse talvez seja o principal ponto de impasse e, se nenhum dos lados ceder, pode ser que o acordo não se conclua. Se o principal negociador nuclear do Irã, Ali Bagheri Kani, for levado ao pé da letra: “nada está acordado até que tudo esteja acordado". Foi Kani quem anunciou efusivamente nesta semana que “estamos mais perto do que nunca de um acordo”.  Esse tuíte jogou os preços do petróleo para baixo em quase US$5 por barril em determinado momento. Como declarou o ministro de relações exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, ao seu parlamento: “Os iranianos precisam tomar decisões políticas. Ou eles desencadeiam uma séria crise nos próximos dias, ou aceitam o acordo que reflete os interesses de todas as partes. Atingimos o ponto-chave neste momento. Não é uma questão de semanas, mas de dias” para um acordo. Portanto, é possível que se chegue a um pacto em circunstâncias extraordinárias.

Descongelamento de US$7 bilhões presos na Coreia do Sul

Uma das medidas de alívio para Teerã nos termos do novo acordo proposto é o descongelamento de cerca de US$7 bilhões em fundos iranianos presos em bancos da Coreia do Sul após a imposição das sanções por Washington. Em troca, prisioneiros ocidentais no Irã devem ser libertados, o que é um requisito para a conclusão do acordo, nas palavras do negociador-chefe dos EUA, Robert Malley.

  • Foram mantidas conversas em Seul nesta semana quanto ao plano da Coreia do Sul de retomar as importações de Teerã, enquanto eram feitas negociações simultâneas em Viena para o Acordo Nuclear 2.0. Também foi posto sobre a mesa o descongelamento de fundos iranianos presos na Coreia do Sul, afirmou o ministro de relações exteriores do país asiático.
  •  A Coreia do Sul era um dos maiores consumidores do petróleo persa. Isso tem todos os sinais de ser um plano prévio do Irã para garantir que a Coreia do Sul seja um dos seus primeiros clientes assim que as sanções forem levantadas. A necessidade de dinheiro de Teerã também é um poderoso motivador em jogo.
  • O Irã deve concordar com esse acordo de dinheiro em troca de prisioneiros. Como mencionado anteriormente, o dinheiro seria extremamente útil para as necessidades econômicas imediatas do Irã (seus detratores dizem que o dinheiro seria usado pela república islâmica para agir contra os interesses de Israel e do Ocidente). Mas consideramos que o Irã irá reinvestir uma grande parcela desse dinheiro na reconstrução da sua indústria petrolífera. Isso ajudaria o país a aumentar a produção além da sua capacidade atual e roubar mercado de outros membros da Opep e da aliança Opep+. Mais barris persas significariam mais pressão baixista sobre os preços do petróleo.

Milhões de barris iranianos aguardando liberação na China

  • Estima-se que cerca de 12 a 14 milhões de barris iranianos estejam em “depósito afiançado” nos portos chineses, esperando a autorização dos EUA para serem comercializados. O petróleo chegou à China antes da reimposição das sanções de Trump ao Irã. A China mantém o petróleo em “depósito afiançado”, ou seja, o petróleo não foi liberado pela alfândega chinesa e não está sendo usado, por isso não está violando as sanções. Em agosto de 2019, Kilduff da Capital afirmou que os preços do barril poderiam cair entre 5 e 7 dólares se a China resolvesse reduzir esses volumes estocados. Dependendo do momento em que esses barris forem liberados, os preços do petróleo podem cair tanto quanto Kilduff especulou ou até mais.

Remoção das sanções – Quanto o Irã colocará no mercado?

  • Assim como no acordo nuclear original, chamado oficialmente de Plano Global de Ação Conjunta, o novo pacto envolve a concessão de isenções por parte dos EUA ao setor petrolífero do Irã, em vez de remover as sanções por completo. Isso requer que as isenções sejam renovadas no intervalo de alguns meses. Um diplomata do Oriente Médio que participou das tratativas em Viena teria dito à Reuters: “Os ex-presidentes Barack Obama e Trump costumavam emitir isenções de 90 a 120 dias e renová-las regularmente, até que Trump parou de fazê-lo depois de deixar o pacto. O acordo prevê a emissão dessas isenções novamente”. O Irã não teria qualquer problema em concordar com isso. Mas permanece a questão: qual volume o país consegue colocar no mercado ao longo do próximo ano? A resposta, por enquanto, parece ser a mesma estimativa conservadora de um milhão de barris por dia. É provável que já esteja exportando esse volume por canais clandestinos, em vista da baixa disposição do governo Biden em aplicar as sanções da administração Trump. No auge dos anos sem sanções, o Irã chegou a produzir 4 milhões de barris por dia (mbpd), embora sua capacidade atual deva estar próxima de 2 mbpd.

Provável fim dos cortes de produção da Opep+

  • Os preços do petróleo são importantes para os produtores, mas sua participação de mercado é ainda mais importante. Com o retorno de um Irã sedento e competitivo ao mercado, a política de produção da Opep+, como a conhecemos, provavelmente sofrerá uma radical mudança com o fim dos cortes de produção que ajudaram a restabelecer os preços e a demanda no mercado desde as mínimas da Covid-19. Pode ser que o Irã não disponha nem da metade da produção da Arábia Saudita, dos Emirados Árabes ou da Rússia para chantagear o mercado. O petróleo persa é comparável ao saudita em termos de qualidade. O Irã também mantém relações históricas com a China, Coreia do Sul e Japão na oferta petrolífera. E o simples fato de que irá competir por cada barril que possa ser vendido fará com que o resto da Opep+ fique extremamente receoso em realizar qualquer corte de produção. Os membros que enfrentam dificuldades para atingir suas cotas aprovadas no âmbito da aliança podem se esforçar mais para fazê-lo.

Corte de preços

  • Uma forma de o Irã rapidamente conquistar mercado para o seu petróleo é vender seu produto a um preço mais baixo do que o saudita, com descontos de 10% a 15% em relação às taxas de mercado. Como o barril de Brent está cotado a US$92 no momento em que escrevo, o barril descontado do Irã poderia variar de US$78 a 83. O Irã pode se dar ao luxo de vender seu petróleo com grande desconto, pelo menos inicialmente, porque não tem um grande orçamento nacional, como os sauditas, que precisam dos preços a US$80 ou mais. Diante dos descontos do Irã, os preços internacionais do petróleo podem ficar sob pressão.

Maior produção dos EUA, mas nem tanto

  • Esse tem sido um dos temas mais debatidos na indústria petrolífera nos últimos dois meses: quando a indústria de shale oil americano voltará à febre de produção conhecida pelo lema “Drill Baby, Drill!”? A disciplina do shale está mantendo a produção tão restrita quanto a saudita, ou até mais (graças em parte à preferência do governo Biden por combustíveis ecológicos em detrimento dos fósseis), a ponto de o ministro de energia do reino proclamar que aquele lema do petróleo de xisto havia acabado para sempre há um ano. Os CEOs de grandes nomes dessa indústria, como Continental Resources (NYSE:CLR), Pioneer Natural Resources (NYSE:PXD) e Devon Energy (NYSE:DVN), prometeram que não voltarão a produzir em excesso nem que o petróleo chegue a US$200, segundo uma reportagem da Bloomberg. Mas a economia do barril a US$90 é tentadora demais para que fundos de private equity deixem de bancar outra geração de empresas independentes. Sem dúvida, a produção americana vai  subir neste ano e pode atingir os níveis pré-pandemia em 2023.

Risco da Rússia (alta do petróleo)

Ameaça de sanções à Rússia por causa de uma guerra contra a Ucrânia

  • Como mencionamos acima, o espectro de uma guerra e a ameaça de grandes sanções americanas contra a Rússia, atingindo as exportações petrolíferas de Moscou, entre outros setores, seria uma força propulsora do petróleo. Washington e seus aliados na Europa estão finalizando um extenso pacote de sanções se a Rússia chegar a realizar uma invasão, afirma a Rússia, citando autoridades americanas e europeias. A especulação é que o petróleo pode sair da mínima intradiária atual de US$90 para US$125 em questão de dias se eclodir uma guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Somente esse elemento é capaz de sobrepujar qualquer vetor de baixa do petróleo, inclusive o retorno do Irã ao mercado.

“Vitória-vitória-vitória” para Rússia, Arábia Saudita e Irã?

  • Sempre existe esta possibilidade: a Rússia continua gerando dúvidas no mundo quanto às suas próximas ações, prolongando o clima de medo geopolítico responsável por manter o petróleo em alta. Os sauditas, por seu turno, mantêm seus preços premium para o petróleo; e o Irã, com sua reentrada no mercado, fará o que for necessário para aumentar sua participação de mercado sem necessariamente prejudicar ninguém na Opep+, inclusive seus arquirrivais sauditas. E se o petróleo atingir US$100 ou mais, é vitória para todos.

Demanda mundial de petróleo dispara; oferta continua baixa

  • A Agência Internacional de Energia, que geralmente faz previsões baixistas para a demanda de petróleo, dado seu foco nos países consumidores, fez um giro de 180 graus ao concordar com a Opep+ que a demanda seria maior em 2022, superando a demanda. A AIE elevou sua projeção para a demanda petrolífera neste ano em 800.000 barris por dia, para 3,2 milhões de barris. Trata-se de um dos cenários mais altistas já projetados para o petróleo. Com o possível fim da pandemia como a conhecemos neste ano, os preços mais altos do petróleo chegaram para ficar por enquanto.

Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para dar diversidade às suas análises de mercado. A bem da neutralidade, ele por vezes apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.

 

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