Política Fiscal e Fluxos de Recursos Externos Afetam o Câmbio

Publicado 07.11.2013, 08:35
“Números são frios e não têm amigos” é um velho chavão de mercado quando não há argumentos maiores para suplantar o que eles indicam e “querem dizer”, revelando a verdade dos fatos.

Se se revelam ruins é porque há algo errado e certamente haverá consequências, por mais que se procure ofuscá-los, ainda que temporariamente, com matemágicas, discursos e um otimismo coloquial desprovido de fundamentos.

E temos números ruins na politica fiscal e nas contas externas brasileiras, ambos impactando na formação do preço do câmbio e nas expectativas, fomentando as incertezas.

Os fluxos de recursos externos líquidos para o país vêm com dados ruins desde junho deste ano e desde então a NFE (necessidade de financiamento externo) do país vem se mantendo crescente, acumulando US$ 19,050 Bi nos últimos 12 meses e US$ 16,799 Bi se considerarmos somente este ano até setembro.

Os dados divulgados ontem pelo Banco Central do Brasil relativo ao fluxo cambial comercial e financeiro revelam resultado negativo em outubro de US$ 6,2 Bi, sendo US$ 1,06 Bi no comercial e destacados US$ 5,13 Bi no financeiro.

Merece destaque o agravamento do fluxo financeiro que só na ultima semana de outubro - 4 dias - aumentou US$ 2,23 Bi. O montante de US$ 6,2 Bi é o maior montante de saída para este mês desde 1997 e o maior volume de saída num mês desde dezembro de 2012.

No ano até o dia 1º de novembro o fluxo comercial totalizou positivos US$ 9,104 Bi e o financeiro negativos US$ 14,465 Bi com um resultado liquido de US$ 5,361 Bi negativos. No mesmo período do ano passado o resultado liquido foi de US$ 18,277 Bi positivos, uma diferença de US$ 23,638 Bi.

Os bancos fecharam outubro com “posições vendidas” no total de US$ 12,289 Bi, montante exato da insuficiência de fluxo de recursos para o país até o final daquele mês, que estão sendo suportadas com linhas de financiamentos em moeda estrangeira concedidas pelo BC no montante de US$ 12,386 Bi. Com esta estratégia o BC vem evitando assumir diretamente a geração da liquidez do mercado com leilões de venda de dólares a vista, como seria normal, porém, inconveniente, pois poderia estimular movimentos especulativos contra o real pela evidência da baixa atratividade do pais aos investidores externos.

No nosso entender se o BC continuar utilizando esta estratégia com os bancos, os mesmos poderão vir a acumular montante bem acima do atual em posições “vendidas”, que, contudo, não passaria despercebida dos analistas de que estão substituindo o BC na função de gerar liquidez, contudo num ambiente de pouco conforto, pois se o fluxo continuar negativo em algum momento precisarão ser cobertos e somente o BC poderá fazê-lo com leilões de venda de divisas retiradas das reservas cambiais. Evidentemente poderão estar protegidos por “hedge” e ganhando com a captação de reais que as posições “vendidas” proporciona, mas a atipicidade, dada as circunstâncias, chamará a atenção negativamente.

Nossa percepção é de que a saída de recursos do país – fluxo financeiro – já está se acentuando em antecipação à decisão do FED de dar inicio a redução do programa de incentivo monetário, pela oportunidade que o real apreciado proporcionava de remeter-se mais dólares na conversão e adicionalmente pela maior visibilidade da deterioração da politica fiscal e das contas externas e, por outro lado de não ocorrer a melhora esperada de fluxos de recursos direcionados a obter rentabilidade com a alta da taxa SELIC.

Se esta hipótese se tornar verdadeira como sugerem os sinais presentes, deveremos ter reflexos mais negativos nos fluxos de recursos e pressão adicional na formação do preço da moeda americana.

Como a politica fiscal é algo muito relevante nas análises dos investidores e agências de “rating”, na margem o mercado poderá tender a conviver com a incerteza e o risco de um eventual rebaixamento de nota do Brasil, o que, certamente, agravaria ainda mais a saída de recursos do país.

Desta forma, conviver-se com muita volatilidade no mercado de câmbio tenderá a ser costumeiro, pois as incertezas presentes não devem ser dissipadas no curto prazo, devendo se extrapolar para o ano de 2014.

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