Estamos no auge da safra de balanços das maiores empresas brasileiras. Interpretar diversos balanços simultâneos é uma tarefa colossal, e que também justifica a existência de empresas como a Upside Investor, que têm como objetivo analisar toda essa massa de informações.
Muitas vezes investidores iniciantes ou mesmo os experientes, se deixam levar por resultados 'aparentemente positivos' (ou negativos) e acabam indo na contramão do mercado e consequentemente tendo prejuízos.
Por que tal fenômeno acontece: empresas divulgando grandes prejuízos e suas ações subindo, e outras divulgando grandes lucros e na sequência suas ações caindo? Há uma lógica por trás disso?
O objetivo hoje é explicar o porquê de prejuízos não necessariamente serem ruins e lucros não necessariamente serem bons e consequentemente, ajudar, vocês, investidores a evitarem tais armadilhas.
Dois exemplos interessantes ocorreram nesta última semana de divulgação de resultados trimestrais.
O primeiro foi Suzano (SA:SUZB3), que mesmo com prejuízo líquido de R$ 3,46 bilhões no terceiro trimestre, as ações SUZB3 apresentaram um ótimo desempenho no último pregão (01/11/19), sendo inclusive a que mais subiu com alta de +7,26%.
Já o segundo caso, banco Bradesco (SA:BBDC4), teve lucro líquido 19,6% maior que na comparação com 2018 e no pregão de divulgação (31/10/19), as ações BBDC4 caíram fortemente, abrindo inclusive com gap negativo, ou seja, preço inicial veio bem abaixo do preço de fechamento do dia anterior (30/10/19).
Por que uma empresa subiu divulgando prejuízo? O 'caso de Suzano'
Em um primeiro olhar, além do grande prejuízo, a empresa apresentou uma queda de receita liquida de -33% na comparação com 2018, bem como do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) em -56%, tendo ainda uma alavancagem crescendo de 3,5x para 4,7x entre os trimestres.
Apesar desses número ruins, boa parte já estava dentro das expectativas de mercado, com pioras não tão impactantes se analisadas em outro modo, como a receita que seguiu em linha com as perspectivas deste ano, já que foi apenas 1% menor que do segundo trimestre.
O Ebtida mais fraco basicamente seguiu a tendência do preço em baixa da celulose a nível mundial, bem como o número de vendas que caiu -12% por conta de comércio mundial tenso e desaquecido no último trimestre.
Portanto, o primeiro passo é dado que o resultado não foi lá essas coisas, o que vem pela frente? Muitas vezes o cenário adiante pode ser tão positivo que o mercado esquece o trimestre imediato, e olha para os próximos.
Estes dois pontos ajudam a justificar o ocorrido na bolsa, porque basicamente a empresa conseguiu reduzir em aproximadamente 450 mil toneladas o seu estoque (bem acima do esperado) e apresentou boa geração de caixa livre.
O resultado do terceiro trimestre de Suzano (SA:SUZB3) também tem o aspecto não recorrente da alta do dólar do terceiro trimestre, com alta de aproximadamente 8,2% no trimestre, o que deixou o custo de dívida (94% em dólar) muito mais caro.
Do ponto de vista de futuro fora da empresa, três pontos ajudaram na alta:
Outro ponto que ajudou foi o dia positivo para a bolsa nacional na sexta-feira, com o Ibovespa subindo pouco mesmo de 1%, novamente acompanhando viés mais positivo externo, enquanto o interno não teve surpresas negativas.
O 'Caso Bradesco': quando um bom resultado, significa ações em queda
O 'senhores de Osasco' apresentaram crescimento de quase 20% do lucro na comparação com o ano anterior, mas o contábil (sem eventos extraordinários) a alta seria de 16,5%, enquanto a o resultado operacional subiu 8,4% e ROAE aumentou 1,2 pontos percentuais.
Esses números além de não seguirem algumas estimativas de mercado, acabam escondendo gastos maiores da empresa e outros positivos que não vieram assim tão fortes se analisados separadamente.
Outros detalhes que aos olhos dos leigos podem passar despercebido, dados de despesas financeiras vieram bem acima do que se esperava (podendo inclusive comprometer resultados futuros), o que deixou o mercado nervoso, por isso a queda de -4,12%.
Mas olhando para frente, quais são as perspectivas?
Nas partes de receitas, a alta de 3,7% com serviços financeiros veio bem mais fraca do que era esperado, bem como ocorrido na parte de seguros e capitalização com o pior resultado do ano.
Boa parte do lucro, considerado dentro do esperado, se baseou em menores despesas com provisão e uma menor alíquota efetiva de impostos, fatores que não são recorrentes, tendo perspectiva de piora com o aumento da CSLL para 2020.
Da parte das despesas financeiras e com o operacional (pessoal e administração) subiram mais de 10%, sendo estes já considerados problemáticos anteriormente.
Muitas casas de análise ainda acreditam em boas perspectivas para as ações de Bradesco (SA:BBDC4), principalmente por planos da companhia de reduzir consideravelmente estes gastos acima mencionados, mas enquanto isso não começa a ser verificado, o gosto da decepção é o que fica.
Outro ponto interessante é que como em Suzano (SA:SUZB3), a queda das ações de Bradesco (SA:BBDC4) ocorreram em dia mais tenso em geral para as bolsas, com o Ibovespa caindo pouco mais de -1%.
Depois disso tudo o que se pode concluir?
Não importa muito se um resultado de uma empresa listada na bolsa é de lucro ou de prejuízo, o que vai ditar as cotações serão as expectativas dos investidores (do pequeno ao gigantesco) superadas ou frustradas e principalmente o que é esperado para o futuro. Por isso é bom ter ao seu lado analistas de investimentos.