Por que os rendimentos dos títulos do Japão estão subindo?

Publicado 23.05.2025, 13:20

A resposta curta é que o Banco do Japão (BoJ) está permitindo que o mercado defina os rendimentos dos títulos. Por anos, o BoJ manteve uma política monetária extremamente expansionista, com juros negativos e controle rígido dos yields em níveis extremamente baixos.

Esse ambiente foi possível devido ao crescimento econômico limitado e à desinflação que marcaram o Japão por décadas. No entanto, as pressões inflacionárias e a fraqueza do iene forçaram o BoJ a rever sua estratégia. O processo de normalização começou em 2023, quando o banco central japonês permitiu que os rendimentos dos títulos de 10 anos superassem 1% pela primeira vez em mais de uma década.

Atualmente, os yields dos títulos de 10 e 30 anos estão em 1,60% e 3,20%, respectivamente. Esses níveis refletem de forma mais precisa as expectativas de uma política monetária mais restritiva, uma vez que a inflação permanece acima da meta de 2% do BoJ. Além disso, a persistente fraqueza do iene — agravada pela diferença entre os juros domésticos e os dos Estados Unidos — pressiona o banco central japonês a permitir juros mais altos como mecanismo para estabilizar a moeda.

A melhora da economia japonesa e a elevação da inflação aumentam as apostas de que o BoJ pode, em breve, abandonar completamente tanto os juros negativos quanto os tetos para os rendimentos dos títulos. Adicionalmente, com uma dívida pública que ultrapassa 250% do PIB, crescem as preocupações sobre a sustentabilidade fiscal de longo prazo, o que adiciona pressão altista sobre os yields.

Para investidores globais, tanto em ações quanto em bonds, o risco reside no fato de que rendimentos mais altos no Japão e um iene mais forte podem provocar o desmonte do carry trade no iene. Vale lembrar que um movimento similar foi observado em agosto de 2024.Juro de 10 anos do Japão

Ontem, discutimos o panorama dos bonds. Aproveitamos o forte nível de sobrevenda dos títulos de maior duração para ampliar nossa exposição nesses papéis dentro dos portfólios. Contudo, há uma percepção equivocada e bastante disseminada de que o aumento dos rendimentos estaria sendo provocado pelos déficits fiscais.

O ponto central é que os Estados Unidos operam com déficits há mais de 40 anos — e, inclusive, o déficit atual é menor do que o registrado há cinco anos. Esse é justamente o ponto que explica por que os juros estão mais altos agora do que em 2020.

A relação entre déficits e juros faz sentido, mas é frequentemente mal interpretada. A redução dos déficits desde 2020 é resultado de um crescimento econômico mais robusto e de menor emissão de dívida. Quando os déficits caem e o crescimento acelera, os credores passam a exigir yields mais elevados. Por outro lado, quando o crescimento econômico desacelera fortemente e os déficits aumentam em função de maior emissão de dívida, os rendimentos tendem a recuar. O gráfico abaixo ilustra claramente essa correlação.

No curto prazo, são as narrativas, associadas às posições vendidas em massa e à ausência de intervenções dos bancos centrais, que dominam o movimento dos yields. Quando o Federal Reserve e o Tesouro americano eventualmente decidirem intervir para conter essa alta — o que ocorrerá para preservar a estabilidade financeira —, o movimento de reversão dos yields será rápido e abrupto. No entanto, isso pode levar meses ou até trimestres.

Enquanto isso, seguimos buscando aproveitar os ciclos de volatilidade do mercado de bonds para elevar os retornos da nossa carteira de renda fixa. Como mostramos, os títulos de maior duração estão profundamente sobrevendidos, e um rali técnico de curto prazo parece iminente. O que pode desencadear esse movimento? Difícil prever, mas provavelmente será algum dado ou manchete indicando desaceleração da inflação ou do crescimento econômico, o que deverá provocar uma resposta imediata dos yields.

De acordo com os dados, o TLT negocia atualmente 3 desvios padrão abaixo da média, o que sugere um potencial de recuperação até a região de 88, configurando uma operação tática interessante no curto prazo.

Enquanto esperamos essa reversão, seguimos recebendo um cupom de 4,5%, o que suaviza a espera por esse ganho eventual.

Leilão de 20 anos não foi tão ruim quanto as manchetes sugerem

As manchetes nas redes sociais e na mídia tradicional pintaram o leilão de títulos do Tesouro americano de 20 anos realizado na quarta-feira como um dos piores já vistos. No entanto, nossa avaliação é que foi apenas fraco, mas longe de desastroso. Vamos aos fatos para que você tire suas próprias conclusões.

Em primeiro lugar, o título de 20 anos é, de certa forma, um instrumento órfão dentro da curva americana. Sua oferta e demanda são consideravelmente menores do que as observadas nos títulos de 2 anos, 3 anos, 5 anos, 10 anos e 30 anos. Isso faz com que esse papel tenha menor liquidez e, consequentemente, resultados mais voláteis nos leilões.

O “Tweet do dia” destacou que o “tail” do leilão foi de 1,2 pontos-base, ou seja, a taxa final ficou 1,2 bps acima do que estava sendo negociado antes do leilão — um desvio que, como mostra o gráfico, é perfeitamente normal dentro dos padrões históricos (+/-1bps).Tweet

Além disso, os bidders indiretos — compostos majoritariamente por bancos centrais — ficaram com 88% do leilão, enquanto os bidders diretos, que funcionam como backstop, absorveram apenas 8%. Isso indica que o leilão não precisou recorrer de forma intensa aos grandes bancos comerciais para ser concluído. O gráfico abaixo mostra que a participação dos bidders diretos ficou, de fato, na faixa mais baixa dos últimos leilões.

De fato, o leilão poderia ter apresentado um desempenho melhor, mas a maneira como a mídia reportou os resultados serve muito mais para alimentar a narrativa pessimista atual sobre o mercado de bonds do que para refletir a realidade dos fatos.

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