O Federal Reserve manteve inalterada a taxa básica de juros, reconhecendo, contudo, que o cenário de incerteza se intensificou, com riscos elevados tanto para a inflação quanto para o desemprego. Esse diagnóstico sugere uma postura de cautela prolongada, com cortes nos juros sendo postergados, mas potencialmente mais intensos quando forem efetivados.
A decisão de manter a faixa do Fed Funds entre 4,25% e 4,50% foi unânime. O comunicado oficial reiterou que a economia continua a crescer em ritmo sólido, o mercado de trabalho permanece robusto e a inflação segue moderadamente elevada, uma linguagem idêntica à da reunião anterior.
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A principal alteração no comunicado foi a inclusão da avaliação de que a “incerteza sobre as perspectivas econômicas aumentou” e que “os riscos de inflação e desemprego mais altos cresceram”. A reação dos mercados foi contida, diante da previsibilidade das declarações.
A autoridade monetária deve prolongar a postura de “esperar para ver” por mais algumas reuniões. Apesar das pressões políticas do presidente Donald Trump e do secretário do Tesouro, Scott Bessent, para que o Fed inicie um ciclo de flexibilização monetária, os dirigentes resistem em meio à resiliência do mercado de trabalho e ao impacto potencial das políticas tarifárias do governo sobre os preços.
Cortes do Fed podem demorar, mas, quando ocorrerem, devem ser fortes
Com tarifas mais elevadas podendo gerar pressão altista sobre a inflação e sinais de gargalos logísticos no setor portuário e de transporte, a autoridade monetária se mantém vigilante. O presidente do Fed, Jay Powell, reiterou, como já havia alertado no mês anterior, que a prioridade é manter as expectativas de inflação ancoradas e evitar que choques de preços isolados se convertam em uma dinâmica inflacionária persistente.
A coletiva do Federal Reserve não trouxe novos comentários sobre o processo de redução do balanço (“tapering”), e os mercados de renda fixa oscilaram entre leituras divergentes sobre o futuro da política monetária. A reação inicial às manchetes preliminares indicou queda nos juros e inclinação da curva, com maior movimentação nos juros reais, sugerindo que o Fed estaria mais disposto a reagir ao aumento do desemprego do que a novos choques de inflação. Contudo, esse movimento de preços não foi sustentado após a coletiva, que transmitiu uma mensagem mais equilibrada. As taxas de juros de mercado cederam levemente no saldo final, mas sem mudanças estruturais. Em um cenário de maior deterioração macroeconômica, o rendimento da T-note de 10 anos poderia recuar até a faixa de 4%. No momento, no entanto, a economia mantém firmeza suficiente para justificar a manutenção das taxas em níveis atuais.
O Fed não anunciou alterações em seu programa de enxugamento de liquidez. O teto de redução de Treasuries permanece em US$ 5 bilhões por mês — volume que, na prática, equivale a zero, tornando o Fed um comprador líquido de títulos, já que os vencimentos mensais podem variar entre US$ 20 bilhões e US$ 60 bilhões. Para os títulos hipotecários (MBS), o limite de redução segue em US$ 35 bilhões, mas esse teto não tem sido atingido, o que implica que apenas os valores acima desse limite seriam reinvestidos em Treasuries, um evento raro. A longo prazo, a intenção da autoridade monetária continua sendo a de substituir MBS por Treasuries, mas esse ponto não foi abordado nesta reunião. A redução gradual do balanço segue em curso, sustentada por um nível confortável de reservas bancárias.
Um fator técnico que contribui para esse processo é o teto da dívida americana: enquanto ele não for elevado ou suspenso, o Tesouro está usando seus recursos disponíveis, o que resulta em acréscimo de reservas no sistema bancário.
Mercado de câmbio não está focado ainda no Fed
No mercado cambial, o dólar apresentou leve desvalorização após a decisão do Fomc, mas os impactos foram contidos. O diferencial de juros de curto prazo tem mostrado influência limitada sobre os pares cambiais do dólar, e a reação negativa da moeda parece mais associada à preocupação do Fed com os riscos simultâneos de inflação e desemprego do que a uma leitura claramente expansionista ou conservadora da reunião.
Antes do encontro, o mercado havia precificado quase 20 movimentos de viés contracionista na curva OIS do dólar, mas o espaço para valorização efetiva da moeda foi modesto. O dólar ainda carrega um prêmio de risco acima da média histórica em relação a seus fundamentos clássicos, como juros e desempenho relativo de ações. No caso do euro/dólar, estima-se uma sobrevalorização em torno de 4%. A reversão desse prêmio exigirá não apenas sinais consistentes de redução das tensões comerciais, mas também evidências de que os impactos das tarifas já adotadas não continuarão afetando negativamente a economia dos EUA.
No curto prazo, há uma zona de suporte importante para o par entre 1,1250 e 1,1300, região em que tradicionalmente emergem compradores em correções. O viés de risco segue apontando para valorização do euro frente ao dólar.