Postura de “esperar para ver” do Fed pode durar até setembro

Publicado 09.05.2025, 10:45

O Federal Reserve manteve inalterada a taxa básica de juros, reconhecendo, contudo, que o cenário de incerteza se intensificou, com riscos elevados tanto para a inflação quanto para o desemprego. Esse diagnóstico sugere uma postura de cautela prolongada, com cortes nos juros sendo postergados, mas potencialmente mais intensos quando forem efetivados.

A decisão de manter a faixa do Fed Funds entre 4,25% e 4,50% foi unânime. O comunicado oficial reiterou que a economia continua a crescer em ritmo sólido, o mercado de trabalho permanece robusto e a inflação segue moderadamente elevada, uma linguagem idêntica à da reunião anterior.

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A principal alteração no comunicado foi a inclusão da avaliação de que a “incerteza sobre as perspectivas econômicas aumentou” e que “os riscos de inflação e desemprego mais altos cresceram”. A reação dos mercados foi contida, diante da previsibilidade das declarações.

A autoridade monetária deve prolongar a postura de “esperar para ver” por mais algumas reuniões. Apesar das pressões políticas do presidente Donald Trump e do secretário do Tesouro, Scott Bessent, para que o Fed inicie um ciclo de flexibilização monetária, os dirigentes resistem em meio à resiliência do mercado de trabalho e ao impacto potencial das políticas tarifárias do governo sobre os preços.Confiança do consumidor

Cortes do Fed podem demorar, mas, quando ocorrerem, devem ser fortes

Com tarifas mais elevadas podendo gerar pressão altista sobre a inflação e sinais de gargalos logísticos no setor portuário e de transporte, a autoridade monetária se mantém vigilante. O presidente do Fed, Jay Powell, reiterou, como já havia alertado no mês anterior, que a prioridade é manter as expectativas de inflação ancoradas e evitar que choques de preços isolados se convertam em uma dinâmica inflacionária persistente.

A coletiva do Federal Reserve não trouxe novos comentários sobre o processo de redução do balanço (“tapering”), e os mercados de renda fixa oscilaram entre leituras divergentes sobre o futuro da política monetária. A reação inicial às manchetes preliminares indicou queda nos juros e inclinação da curva, com maior movimentação nos juros reais, sugerindo que o Fed estaria mais disposto a reagir ao aumento do desemprego do que a novos choques de inflação. Contudo, esse movimento de preços não foi sustentado após a coletiva, que transmitiu uma mensagem mais equilibrada. As taxas de juros de mercado cederam levemente no saldo final, mas sem mudanças estruturais. Em um cenário de maior deterioração macroeconômica, o rendimento da T-note de 10 anos poderia recuar até a faixa de 4%. No momento, no entanto, a economia mantém firmeza suficiente para justificar a manutenção das taxas em níveis atuais.

O Fed não anunciou alterações em seu programa de enxugamento de liquidez. O teto de redução de Treasuries permanece em US$ 5 bilhões por mês — volume que, na prática, equivale a zero, tornando o Fed um comprador líquido de títulos, já que os vencimentos mensais podem variar entre US$ 20 bilhões e US$ 60 bilhões. Para os títulos hipotecários (MBS), o limite de redução segue em US$ 35 bilhões, mas esse teto não tem sido atingido, o que implica que apenas os valores acima desse limite seriam reinvestidos em Treasuries, um evento raro. A longo prazo, a intenção da autoridade monetária continua sendo a de substituir MBS por Treasuries, mas esse ponto não foi abordado nesta reunião. A redução gradual do balanço segue em curso, sustentada por um nível confortável de reservas bancárias.

Um fator técnico que contribui para esse processo é o teto da dívida americana: enquanto ele não for elevado ou suspenso, o Tesouro está usando seus recursos disponíveis, o que resulta em acréscimo de reservas no sistema bancário.

Mercado de câmbio não está focado ainda no Fed

No mercado cambial, o dólar apresentou leve desvalorização após a decisão do Fomc, mas os impactos foram contidos. O diferencial de juros de curto prazo tem mostrado influência limitada sobre os pares cambiais do dólar, e a reação negativa da moeda parece mais associada à preocupação do Fed com os riscos simultâneos de inflação e desemprego do que a uma leitura claramente expansionista ou conservadora da reunião.

Antes do encontro, o mercado havia precificado quase 20 movimentos de viés contracionista na curva OIS do dólar, mas o espaço para valorização efetiva da moeda foi modesto. O dólar ainda carrega um prêmio de risco acima da média histórica em relação a seus fundamentos clássicos, como juros e desempenho relativo de ações. No caso do euro/dólar, estima-se uma sobrevalorização em torno de 4%. A reversão desse prêmio exigirá não apenas sinais consistentes de redução das tensões comerciais, mas também evidências de que os impactos das tarifas já adotadas não continuarão afetando negativamente a economia dos EUA.

No curto prazo, há uma zona de suporte importante para o par entre 1,1250 e 1,1300, região em que tradicionalmente emergem compradores em correções. O viés de risco segue apontando para valorização do euro frente ao dólar.

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