Expectativa e Realidade
Ontem, a voz do consenso repetia que a decisão do Fed era fava contada, totalmente precificada e neutra para os mercados de ações, que seguiam com perspectiva de alta.
Apresento os gráficos intraday de Ibovespa (linha branca) e S&P500 (linha amarela). A decisão do Fed saiu às 17 horas.
Ploft.
Elevação veio em linha com o esperado — juros básicos saíram do intervalo 0,25-0,50 para 0,50-0,75. O busílis está nas expectativas futuras: o cenário base dos garotos brilhantes de Wall Street era de que 2017 traria mais uma alta. A sinalização do comitê? Três.
Um rápido flashback
Pausa. Voltemos no tempo para dezembro de 2015, última ocasião em que o mexeram no juro americano. Quais eram, naquela ocasião, as expectativas futuras?
Eram projetadas quatro elevações de taxa ao longo de 2016. Veio uma, sugerindo que a capacidade preditiva das cabeças brancas do comitê (também) não é grande coisa.
Mas sabe onde a coisa fica mais interessante? À época, maioria dos membros avaliava que juros de longo prazo girariam entre entre 3,25 e 3,50. Ontem, maioria revelou olhar para 3 por cento ou menos.
Parece condizente com o cenário de elevação da dívida americana propagado pelos futurólogos do Trumponomics?
Pergunto: quantos dias até a poeira abaixar e o mercado, pego ontem de calças na mão, recobrar um saudável ceticismo com relação às sinalizações do Fed?
Disputa pelo bolo
Mas assumamos que dessa vez seja diferente e o Fed não esteja gritando “lobo”. A elevação dos juros é saudável: coíbe excessos e escolhas ruins que só o dinheiro grátis propicia e que se traduzem, no longo prazo, em uma fatura salgada.
Como implicação, há de encolher o bolo de recursos que hoje fluem para ativos e mercados de maior risco. O investidor global deve ficar mais seletivo.
Em uma disputa com outros mercados emergentes, como nos posicionamos?
Finanças públicas entrando nos trilhos, princípio de forte queda nos juros, governo focado em melhorar ambiente de negócios e lucros corporativos em níveis extremamente deprimidos por conta de um período recente tenebroso.
Poucos países no mundo têm o potencial de melhora, a partir de sua posição atual, que o Brasil tem. E isso é música para os ouvidos gringos.
Como reagir?
Nosso porém é a instabilidade no front político, que não só não se dissipará da noite para o dia como pode, eventualmente, piorar.
Como se reage a isso? Com a saudável e habitual seletividade nas suas decisões de investimento. Insisto — como já é habitual — em controlar bem a exposição a risco e não se deixar contagiar excessivamente pelo otimismo e pessimismo exacerbados que caracterizam o dia-a-dia de nosso mercado.
Essa seletividade se materializa, no dia de hoje, em bolsa em leve baixa e sem concentração clara, em uma ponta ou outra, em empresas de mercado doméstico ou externo. Juros com pouca alteração, com pequena queda de taxas nos vencimentos médios.
Homens e meninos
Em bull market, todo mundo é gênio. É quando a régua sobe que os homens são separados dos meninos e o trabalho diligente em busca de oportunidades que fazem sentido se paga.
Você pode dar ouvidos ao seu broker, que muda de ideia a cada dois dias, ou adotar uma visão consistente e pragmática sobre o que valerá mais do que hoje lá na frente, a despeito dos solavancos do caminho, com alocação adequada em cada classe de ativo.
Sugestão? Foque nas melhores alternativas em ações e em renda fixa e siga conosco rumo à outra margem.