O mercado de trabalho americano em outubro criou mais posições do que os analistas previam, mantendo a taxa de desemprego inalterada – ainda que os críticos mais ferrenhos apontem que o último só não é maior em função do esvaziamento da procura por empregos.
Na Europa o Banco Central Europeu cortou juros para o menor nível na história, depois que a inflação na zona do Euro caiu para metade do que o órgão tem como objetivo, e a taxa de desemprego atingiu o maior patamar (12.2%) desde a implementação da moeda comum (1999).
Os principais índices acionários fecharam em baixa na semana, exceção feita aos dos Estados Unidos que tiveram alta de 0.94% e 0.51%, respectivamente o Dow Jones e o S&P500. O destaque foi o IPO do Twitter, que obviamente não compõe os indicadores mencionados, mas que teve alta de 93% do seu preço de lançamento no primeiro dia de negociação – notem que a empresa ainda não foi lucrativa até hoje.
Entre as commodities, os metais preciosos foram as que mais cederam nos últimos cinco dias, junto com o níquel, trigo, açúcar e a alumínio. Os ganhadores foram suco de laranja, soja, gás natural, algodão e gasolina.
O café em Nova Iorque fez nova mínima, US$ 100.95 centavos por libra, mas na sequência chamou fundos para liquidar parte do novo recorde em posição vendida que o COT de sexta-feira mostrou, 40,195 contratos (ou 11.995 milhões de sacas). Londres fechou o período com queda de US$ 0.78 por saca, baixa um pouco menor do que os US$ 1.98 por saca da ICE.
A situação dos cafeicultores com os preços praticados nas origens tem dominado os noticiários das principais publicações mundiais, com matérias para todos os gostos, dos mais razoáveis aos menos contundentes em analisar o quadro. Inevitável haver uma (quase) unanimidade de previsões mais negativas, mesmo que alguns não levem em consideração o quanto já desmoronaram as cotações. Faz parte desta commodity agrícola (commodity por teimosia em minha opinião), que tem um ciclo de resposta mais lento aos estímulos (e desestímulos), dada ser de natureza perene.
Poucos duvidam de que a produção mundial sofrerá um baque nos próximos anos com a maioria dos produtores perdendo dinheiro, e com o cenário de doenças nos cafezais na América Central que precisam ser tratados – o que é pouco provável quando não há recursos.
Engana-se entretanto quem diz que a indústria está contente com a situação, como se a desgraça de uns fosse obrigatoriamente a alegria de outros. Para as torrefadoras de nada adianta estar comprando café em preços que venham a comprometer não apenas o abastecimento futuro, mas principalmente a qualidade. Por outro lado, um torrador não pode pagar mais do que seus concorrentes, portanto mais uma vez repito que para esta classe de participantes importa menos o preço absoluto que pagam em uma saca de café, e mais o quanto pagam a mais que a concorrência – que significa ganhar ou perder market-share.
Em um mundo ideal, e de fantasia, ajudaria a todos que os preços remunerassem aos produtores, ajudando-os a manter seu cafezal e criar suas famílias, ao mesmo tempo em que mantivesse a indústria abastecida na medida exata, com volumes e qualidades.
Tudo isto para dizer que os mais de R$ 500.00 a saca negociados a pouco menos de dois anos, foram perversos para fazer com que hoje a saca negocie a 50% do valor. E que assim como os preços não se sustentaram por muito tempo naquela época, não devem ficar para sempre nos atuais patamares, portanto não há outro jeito do que salvar recursos nas épocas mais lucrativas para passar por momentos ruins – parte do ciclo.
A troca por uma tonelada de fertilizante que foi de 2 sacas de café na época, hoje está mais do que o dobro, assim como o salário mínimo tem uma relação dolorosa com os preços e até mesmo o custo do dinheiro, que no Brasil encareceu e deve encarecer mais ainda.
Lideranças estão programando manifestações, com alguns defendendo fechar agências bancárias com caminhões e tratores, e então marcharem rumo à Brasília. De fato chamará a atenção. A marcha talvez até ajude a liberar mais recursos que diminuam a tarefa de passar por este período de vacas magras.
Difícil vai ser convencer o mercado de que diferenciais colombianos a apenas US$ 7 centavos por libra de premio, exportações brasileiras acima de 3 milhões de sacas, estoques nas origens razoáveis, disponibilidade de volumes grandes a serem vendidos, e a valorização do dólar americano não sejam motivos para que os fundos mantenham suas posições vendidas.
Acredito que o chão para os preços não esteja tão longe, o que infelizmente não significa (mais uma vez) dizer que um rally significativo e sustentado venha acontecer.