Conduzindo miss Daisy
Abordamos recentemente a questão das expectativas de inflação e como elas, perigosamente situadas no teto da meta, são um alimento para mais inflação. Todos sabemos da importância das expectativas na formação de preços da economia como um todo. A partir daí surgiram as metas, ou “guidances”, com o objetivo de conduzir as expectativas, trazer maior alinhamento entre apostas e realidade.
Em tese, quem faz a meta é quem tem o melhor nível de informações sobre a empresa ou organismo em questão, justamente por ser a empresa ou organismo em questão (insiders). Mas o que deveria gerar maior alinhamento, muitas vezes torna-se um amplificador de ruídos.
Confissão
Como analista de empresas, vejo diariamente a dificuldade que é projetar a receita daquele mês com um mínimo de precisão. Não falo dos outros... Aqui de dentro, confesso que não consigo estimar qual será a receita da Empiricus este mês com um fator de precisão minimamente confortável.
A receita deste mês é difícil? O que dizer da produção em 2035? Das margens, dos custos, das despesas operacionais de anos e anos à frente...
O preço-alvo que você quer
Quer saber qual o preço-alvo para determinada ação? É extrapolação que não acaba mais.
Além de projetar a receita para muitos meses e anos à frente, o cara tem que projetar todas as demais linhas do balanço para anos e anos, atribuir uma taxa de crescimento para a perpetuidade e trazer tudo isso a valor presente. Mexendo em uma ou outra variável dentre inúmeras, ele chega em R$ X ou R$ 2X para a dita cuja. Cá entre nós, chega no que quiser.
Fuja das projeções de preço-alvo e dos potenciais de valorização prometidos. Há menos rigor nisso do que você imagina. Ainda mais importante: começo de mês, evite ao máximo as “Carteiras Recomendadas” como você conhece.
É a meta, estúpido
Toda esse debate me remete às duas principais notícias dessa segunda-feira:
a) No plano econômico: relatório Focus reduz projeção de crescimento para o PIB brasileiro em 2014 para 1,5%
b) No plano corporativo: produção da Petrobras cresce 0,4% em abril.
Por que, cada uma à sua maneira, temos duas amplificadoras de ruídos?
Precisamos de um coelho (a)
O relatório Focus é uma projeção que não vem de um insider. É a mediana das apostas dos agentes de mercado, e não a projeção do insider (no caso, o governo), quem tem poder de mudar a alocação dos fatores. A projeção do governo, é de 2,3% de crescimento em 2014....
Bom, crescemos 0,2% no primeiro trimestre, teremos Copa (menos dias úteis) no segundo trimestre e eleições no terceiro... Isso, considerando que o próprio governo já reconheceu que “estagnação é normal em ano eleitoral”, e sem contar a queda na confiança dos empresários.
Para chegar nos 2,3% precisamos tirar algum coelho da cartola. Não que o mercado esteja certo, mas, não soubesse, diria que aqui ele é o insider.
Primeiro o que está mais perto (b)
Já o dado da Petrobras não é meta, é produção, dado concreto. A meta? Crescer 7,5% sua produção em 2014. A mesma produção que caiu 1,9% no primeiro trimestre deste ano e abriu o segundo trimestre praticamente estável em relação ao mês anterior. Para chegar aos 7,5% em 2014 Petrobras terá de tirar muuuuitos coelhos da cartola. Ela tem novas unidades produtivas para entrar em operação. O problema é que os não-recorrentes sempre estão sujeitos a acontecer (acabam sendo recorrentes), e seguem adiando as projeções de céu de brigadeiro da companhia. Talvez por isso que ela não consiga bater uma meta anual de produção há dez anos.
Se a Petro dobrará sua produção até 2020 e o Brasil se tornará de fato o sexto maior produtor de petróleo do mundo em 2035, aí são outros quinhentos.
Concentremos primeiro no que está mais perto, na meta para 2014. Pensando bem, no que está bem longe. A meta que sugiro aos leitores: esperar Petrobras ficar mais barata em Bolsa.
Para visualizar o artigo completo visite o site da Empiricus Research.