É um dos metais industriais que normalmente não recebe tanta atenção da mídia quanto o cobre, o alumínio ou o paládio.
Mesmo assim, o níquel deveria receber mais manchetes por duas razões:
- É o mercado com o segundo melhor desempenho na Bolsa de Metais de Londres (LME) neste ano.
- Ele deve se valorizar mais no curto prazo, em razão das sanções financeiras aplicadas à Rússia, uma das suas maiores produtoras.
O níquel atingiu as máximas de quase 11 anos de US$25.625 por tonelada na LME, devido aos estoques cada vez menores do metal nos armazéns aprovados pela bolsa britânica e em resposta ao conjunto de sanções internacionais contra a Rússia por causa da sua invasão na Ucrânia.
O níquel estava entre as commodities com perspectiva de forte valorização pelo Goldman Sachs (NYSE:GS), diante da intensificação dos ataques da Rússia contra a Ucrânia nesta semana.
Gráficos: cortesia de skcharting.com
Usado no aço inoxidável e baterias recarregáveis, entre outros produtos, o níquel é o metal com o segundo melhor desempenho na LME neste ano. Ele se valorizou 25,9% até agora em 2022, ficando um pouco abaixo do ganho de 26,4% registrado pelo alumínio no mesmo período.
As previsões de que a oferta de níquel ficará aquém do rápido aumento de demanda provocado pela indústria de veículos elétricos ajudaram o metal a disparar 40% sem parar nos últimos seis meses.
Agora, com a crise russo-ucraniana se intensificando e as sanções restringindo severamente a capacidade de Moscou de aceitar pagamentos internacionais pela commodities que comercializa, o níquel pode subir muito mais. Existe uma lacuna de 90% entre seu preço atual e sua máxima recorde de US$49.675 tocada em abril de 2007.
O níquel é “uma das principais commodities ligadas à Rússia, em razão da sua importância para a oferta”, declarou Ryan McKay, estrategista de commodities da TD Securities, citado em uma matéria da Bloomberg em 22 de fevereiro.
“Portanto, os últimos eventos elevam bastante o risco de oferta do metal, principalmente com os estoques em níveis muito baixos, como ocorre neste momento".
Os estoques de níquel na LME atingiram seu nível mais baixo desde 2019, com um profundo “backwardation”, condição em que os preços à vista ficam muito maiores do que os preços futuros, um sinal de que os fundamentos estão bastante restritos, ressaltou a Bloomberg.
A quantidade anual de níquel extraído na Rússia foi estimada em 250.000 toneladas métricas em 2021, marcando uma queda em comparação com o ano passado, de acordo com dados da Statista.
Entre 2017 e 2018, a produção de níquel na Rússia aumentou cerca de 60.000 toneladas métricas. Com 7,5 milhões de toneladas métricas de reservas de níquel, a Rússia era o quarto país mais rico em disponibilidade do metal.
Além disso, a Rússia é a terceira maior mineradora de níquel, atrás apenas da Indonésia e das Filipinas. Em 2020, o valor do níquel e produtos derivados exportados pela Rússia foi o mais alto do mundo, atingindo aproximadamente US$3 bilhões. O Canadá e os Estados Unidos ficaram na segunda e terceira posições, respectivamente.
A maior empresa produtora de níquel da Rússia é a Nornickel, também conhecida como Norilsk Nickel. Ela produziu aproximadamente 172.400 toneladas métricas do metal em 2020.
A Nornickel detém reservas de níquel na península de Taymyr, na Sibéria, e na península de Kola, no noroeste da Rússia. Além disso, a companhia possui uma planta de refino de níquel na Finlândia e é coproprietária de uma unidade de produção na África do Sul. A receita total da Nornickel, que também produz outros metais, como paládio e cobre, superou a marca de US$15,4 bilhões em 2020.
No momento em que escrevo, o contrato futuro do níquel com entrega em três meses na LME era negociado a US$26.123,50.
Tecnicamente, o metal pode subir US$3000 no curto prazo e, depois disso, registrar outra alta de mais US$6000 se o vigor de alta persistir, marcando uma valorização de US$9000, ou 35%, disse Sunil Kumar Dixit, estrategista técnico chefe do site skcharting.com.
Ele disse que o níquel acumulou forte momentum depois de uma longa consolidação dentro de uma ampla formação de triângulo ascendente e de um rompimento de US$21.000.
“A metade da Banda de Bollinger a US$21.400 deve fornecer suporte para a retomada do movimento de alta e um reteste do nível de US$26.000, estendendo o alvo do triângulo ascendente de US$28.500 para 29.000”, afirmou Dixit. Ele disse ainda:
“Uma forte reação de compra acima dessa zona pode induzir uma alta ainda maior do metal para US$35.000.”
Mas o rali do níquel dos últimos seis meses também gerou condições sobrecompradas que podem se reforçar, caso o suporte fornecido pela saga russo-ucraniana se desvanecer, alerta Dixit.
A leitura do estocástico de 75/65 era positiva para o níquel, mas ele também exibia um indicador de força relativa sobrecomprado a 72, o que dá suporte para uma correção de curto prazo e mostra um candle baixista no gráfico semanal, declarou o analista.
“Um rompimento abaixo da média móvel exponencial de 5 semanas de US$24.000 pode gerar uma reversão de curto prazo, para um reteste do ponto de rompimento de US$21.000”, explicou Dixit.
“Essas grandes mudanças estão sujeitas ao desenrolar da situação geopolítica com o tempo”.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para dar diversidade às suas análises de mercado. A bem da neutralidade, ele por vezes apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.