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Pseudociências e outros absurdos que merecem ser levados a sério

Publicado 03.08.2023, 11:32
Atualizado 09.07.2023, 07:32
MRNA
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Se você abriu este texto em busca de uma dica de investimento milionária, peço desculpas: hoje vamos ter que falar sobre epistemologia.

No Day One de segunda-feira, Felipe explicou por que Daniel Goldberg (vide MMakers) é um sujeito diferente da média de mercado - suas abordagens partem sempre de uma construção epistemológica, e não apenas financeira.

Mas do que trata a epistemologia?

Não é uma expressão tão incômoda quanto a do "novo arcabouço fiscal", mas escapa à trivialidade; convém decifrá-la.

Em termos chulos, a epistemologia é um ramo da Filosofia interessado em como se dá a originação e consolidação do conhecimento.

"Sério, Rodolfo? Filosofia? Eu achei que tinha a ver com Ciência, com metodologia científica".

De fato, tem muito a ver com metodologia científica, mas não só com isso.

Precisamos ter cuidado aqui, pois, embora os cientistas possam se beneficiar muito da arquitetura epistemológica, eles também tentam se apropriar dela.

Por exemplo: não é verdade que todo conhecimento dependa do juízo do falseacionismo popperiano. Algo pode funcionar por muito tempo (e até eternamente) sem que sejamos capazes de provar ou refutar.

Nesse sentido, o conhecimento supera o "conhecimento do conhecimento". Cozinhamos alimentos muito antes de entender do que é feito o fogo. Fazemos bons (e maus) investimentos muito antes de desenhar uma fronteira eficiente; tanto que o próprio Markowitz preferia uma alocação 50/50.

Curiosamente, encontrei-me uma vez mais com esse debate enquanto ouvia o Market Makers, e enquanto me deparava também com todo o frenesi em torno do novo livro da Natalia Parternak.

Em "Que Bobagem!", Natalia e Carlos Orsi acusam os “campos do conhecimento que procuram desfrutar da credibilidade e do prestígio típicos da ciência, mas que, segundo os autores, não passam de falsificação ou impostura”. Entre os alvos estão a homeopatia, a astrologia, a acupuntura e a psicanálise.

Bom, para um economista que reconhece seu campo de interesse como uma dismal science, essa é uma polêmica natimorta.

Afinal, se a Ciência é soberana, por que estamos nos matando no Twitter para argumentar se o Copom deveria cortar a Selic em 25 bps ou 50 bps a minutos da decisão?

A credibilidade e o prestígio científicos não são tão exemplares assim. Ainda bem, aliás, pois isso permite que um moleque chamado Erwin Schrödinger possa se referir a Einstein como um old fool, incapaz de incorporar os desafios da Física Quântica.

Já a impostura, ironicamente, se faz bastante presente no mainstream científico.

Conforme explicitado por Goldberg no podcast, todo o framework da Moderna (NASDAQ:MRNA) Teoria de Finanças incita à captura de alfas.

Esse é um modelo mental conveniente à vaidade e ao egocentrismo do mercado financeiro, pois ele determina que apenas os melhores financistas serão capazes de absorver os melhores resultados.

Impostura 1: todo mundo se acha o melhor financista, mas ninguém resiste à prova do tempo.

Impostura 2: pessoas pouco dedicadas - e até mesmo indiferentes - à captura de alfa conseguem enriquecer de maneira extraordinária.

Goldberg propõe um outro framework para encarar os desafios quânticos do mercado, no qual diferentes perfis de risco, retorno, liquidez e saciedade se encontram para fazer negócios orientados por visões pragmáticas.

Nessa variação de Goldberg, não faz sentido dizer que uma parte é idiota por doar o alfa enquanto a outra é esperta por estar capturando o alfa, e tampouco importa afirmar que A é melhor do que B porque A ganhou mais dinheiro do que B em 2023.

Ao nos despirmos dos julgamentos morais superficiais, podemos acessar a construção de valor em cada negócio. Não existe soma zero, simplesmente porque não há o que somar.

Ainda mais importante: não há heroísmo em ganhar dinheiro, nem vitimização em perder.

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