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Quais são as implicações globais do afrouxamento monetário do Japão?

Publicado 19.01.2023, 10:26
Atualizado 07.04.2022, 05:55

O Banco do Japão segue em frente com seu grande experimento monetário, como um dos países desenvolvidos mais endividados.

Na quarta-feira, o iene se desvalorizou 2,7% contra o dólar. Mas essa queda foi apagada durante o dia. Entre os principais bancos centrais mundiais, o Banco do Japão (BOJ) é o que insiste em levar a cabo uma política monetária ultrafrouxa. O que torna o Japão diferente? Será que isso é sustentável?

Japão: um pária entre os bancos centrais

Enquanto o Federal Reserve e o Banco Central Europeu (BCE) mudaram de postura, adotando uma política extremamente rígida de juros básicos a 4,5% e 2,5%, nada sugere que o Banco do Japão abandonará de vez seu posicionamento ultraflexível. O BOJ é o único grande banco central com taxas de juros em terreno negativo, de -0,1%.

Devido a isso, também vimos um relacionamento inverso entre o Índice Dólar {942611|DXY}}) e suas moedas ponderadas. Com um peso de 57,6% para o euro (EUR) e de 13,6% para o iene (JPY), ambas as moedas passaram a perder valor diante da ascensão da divisa americana em 2022.

Relação inversa do DXY com EUR e JPY

Crédito da imagem: Trading View

A razão para isso é simples: na condição de moeda de reserva mundial, o dólar ganhou força quando o Federal Reserve começou a elevar os juros em março de 2022. Em outras palavras, os juros aumentam o custo de capital, reduzindo a liquidez do mercado.

E, com a drenagem da liquidez mundial, houve um aumento de demanda pela moeda de reserva mundial, o dólar. Evidentemente, o Fed passou a subir as taxas de juros de forma agressiva, a fim de combater a inflação, que atingiu a máxima de 40 anos. No Japão, a inflação básica (que exclui os preços de energia e alimentos) registrou uma alta similar, tocando a máxima de 8 anos no último mês de outubro, a 3%, girando em torno de 3,7% atualmente.

Assim como o Federal Reserve, o BOJ também estabeleceu uma meta de inflação de 2%. Durante as elevações de juros do Fed no ano passado, o iene chegou a atingir a mínima de 32 anos contra a moeda americana. No entanto, vale lembrar que a desvalorização cambial faz com que as exportações do país fiquem mais atraentes para os mercados estrangeiros.

O problema é que o Japão é um importador líquido há várias décadas. Em novembro de 2022, o déficit comercial do Japão alcançou 2 trilhões de ienes (US$ 14,8 bilhões).

Balança comercial negativa do Japão

Crédito da imagem: Tradingeconomics.com, fonte: Ministério da Fazenda do Japão

Por isso, o persistente déficit da balança comercial japonesa está exercendo pressão de queda sobre o iene. Em outras palavras, o Japão precisará comprar mais moedas estrangeiras para fazer jus às suas importações, isto é, terá que adquirir dólares, o que contribui para o fortalecimento da moeda americana em relação à divisa japonesa.

Como o Japão utiliza o controle da curva de juros para evitar um colapso do iene?

Como os juros no Japão continuam em terreno negativo, a -0,1%, como é que o banco central do país consegue respaldar sua moeda, adotando uma política monetária tão frouxa? Afinal, o Fed não deu mais força para o dólar ao elevar suas próprias taxas de juros? E o Japão não precisaria aumentar a demanda por sua moeda doméstica, na condição de importador líquido?

Acontece que existe um instrumento para atrair investimentos estrangeiros, o que pode acabar aumentando a demanda por iene. Esse instrumento se chama controle da curva de juros ou de rendimentos dos títulos públicos.

A curva de juros representa a diferença entre os vencimentos dos títulos de dívida governamental. Por isso, uma curva de juros típica tende a ter uma inclinação para cima, indicando que os juros de longo prazo são maiores do que os de curto prazo. Isso acontece em uma economia saudável, pois os investidores têm uma perspectiva positiva.

Curva de juros de 3 anos sobre o endividamento governamental

Crédito da imagem: Encyclopædia Britannica, Inc.

Por outro lado, a curva de juros se inverte quando a perspectiva dos investidores para o futuro é negativa. Isso significa que as taxas de curto prazo ficam maiores do que as de longo prazo. Em geral, trata-se de um sinal de recessão iminente. Mas, graças ao controle da curva de juros, o Banco do Japão consegue manipular as taxas dos títulos com diferentes vencimentos.

Com isso, o banco central consegue atingir uma meta para a curva de rendimentos. Se o formato dessa curva se inclinar para cima, trata-se de um sinal de que os juros de longo prazo estão maiores do que os de curto prazo. É justamente isso que o Banco do Japão tem feito, ao aumentar inesperadamente a faixa-alvo de rendimentos mais alta do título de 10 anos (dívida do governo), até +0,5% em relação aos +0,25% anteriores.

Taxa do título de 10 anos do Japão

Crédito da imagem: worldgovernmentbonds.com

Ao fazer isso, o BOJ está tentando atrair investimentos estrangeiros, tornando o título de 10 anos mais atraente, o que tende a respaldar o iene. Ao mesmo tempo, como a taxa de juros de curto prazo está superestimulativa, a -0,1%, isso incentiva o fluxo de crédito na economia. Com isso, essas duas ações acabam promovendo o crescimento econômico doméstico.

No entanto, o banco central do Japão depende de uma força suficiente da economia interna para que ela consiga lidar com os rendimentos mais altos dos títulos, ao mesmo tempo em que a inflação deve continuar sob controle.

Qual é a conclusão que se pode tirar do experimento monetário japonês?

Se nenhuma das projeções do BOJ se concretizar em termos de inflação e saúde econômica, o Japão poderá enfrentar um cenário de estagflação. Ao elevar as taxas dos títulos de longo prazo, o BOJ faz com que o endividamento do governo fique mais caro. Isso gera déficits orçamentários crescentes e um endividamento público maior.

Esse talvez seja o cenário mais provável, na medida em que, entre os países do G7, o Japão é o que tem a maior proporção de dívida em relação ao PIB: 262,5%. Isso significa que a dívida do Japão é mais de 2,5 vezes o tamanho da sua economia.

Em meio ao estímulo creditício no Japão, em vista da taxa de juros de -01%, pode ser que a inflação suba, reduzindo o poder aquisitivo da população e o crescimento econômico. Quando há a combinação de inflação alta com desemprego elevado, o resultado é uma estagnação econômica, cenário que o Japão pode enfrentar.

No futuro próximo, o mercado continuará vendendo títulos do governo do Japão, na medida em que os investidores um abandono da política ultraestimulativa.

Isso porque o valor dos títulos atuais aumentaria, à medida que os novos a serem emitidos apresentariam taxas mais elevadas. Com isso, o iene acabou registrando grande volatilidade na quarta-feira.

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Este artigo foi publicado originalmente no portal The Tokenist. Confira a newsletter gratuita do The Tokenist, Five Minute Finance, para ter uma análise semanal das maiores tendências em finanças e tecnologia.

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Em país pequeno tudo isso é possível, mas num país grande como o Brasil por exemplo seria algo desastroso e s inflação sairia de controle.
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