Investir em ações do setor de varejo de moda pode ser considerado arriscado por muita gente, mas também oferece a oportunidade de aproveitar o potencial de crescimento econômico, principalmente em momentos de desenvolvimento ou recuperação. Por se relacionar ao comportamento e a tendências de consumo, que costumam ser impulsionados em ambientes econômicos positivos, com aumento da renda disponível e mudanças nos hábitos de compra, acaba sendo uma opção volátil quando o contexto é diferente.
O setor enfrenta desafios como a intensa concorrência, as variações sazonais e possíveis mudanças nos padrões de consumo por questões macroeconômicas, como inflação e taxas de juros -- sendo, assim, considerado um setor de consumo cíclico, altamente influenciado por flutuações da economia em geral. As empresas que conseguem inovar, alinhar suas operações a práticas sustentáveis e responder rapidamente às tendências de moda têm mais chance de alcançar sucesso e retorno financeiro atrativo para investidores. Mas isso requer uma análise cuidadosa das estratégias competitivas de cada negócio e da sua capacidade de adaptação às transformações do mercado.
As três maiores empresas do varejo de moda no Brasil são as Lojas Renner (BVMF:LREN3), a C&A Modas (BVMF:CEAB3) e a Guararapes Confecções (BVMF:GUAR3). Todas já divulgaram seus balanços do terceiro trimestre de 2024, e estão com um panorama mais definido para o futuro próximo a partir dos resultados financeiros.
Utilizando as ferramentas avançadas do InvestingPro, vamos analisar as três concorrentes.
Renner
Fundada em 1922 em Porto Alegre, a Renner se transformou em uma das principais redes de varejo de moda do Brasil. Originalmente uma loja de artigos diversos, a empresa evoluiu para o setor de moda com um modelo de negócios focado em oferecer vestuário e acessórios para diversos públicos, incluindo homens, mulheres e crianças. A Renner se diferencia com uma proposta de valor centrada em produtos de design próprio, amparados por um ciclo rápido de reposição das coleções, o que permite atender rapidamente às tendências de moda. A companhia também opera marcas complementares como a Camicado, na área de artigos para casa, e a Youcom, voltada ao público jovem, e tem se destacado pela adoção de práticas sustentáveis e pela digitalização de suas operações, integrando canais físicos e digitais.
A Renner se destacou com o melhor desempenho entre as três empresas no 3T23, com lucro líquido de R$ 255,3 milhões e margem líquida de 7,53%. A empresa apresentou forte crescimento de receita e uma posição de caixa robusta. A Realize CFI, braço financeiro da Renner, também apresentou recuperação consistente. Apesar do bom desempenho geral, a Renner registrou aumento no custo das vendas com mercadorias e crescimento da carteira de crédito em atraso.
- Forte posição de caixa: A Renner encerrou o 3T24 com uma posição robusta de caixa de R$ 2,6 bilhões e um caixa líquido de R$ 1,4 bilhão. Essa solidez financeira proporciona à empresa flexibilidade para investir em seu crescimento e enfrentar eventuais desafios do mercado.
- Crescimento acelerado das vendas de vestuário: As vendas de vestuário da Renner no Brasil cresceram 13% no 3T24, o dobro da média do mercado. Esse resultado demonstra a força da marca Renner e a eficácia de suas estratégias de vendas e marketing.
- Melhora significativa no resultado de serviços financeiros: O resultado de serviços financeiros da Renner foi positivo pelo quarto trimestre consecutivo, atingindo R$ 58 milhões no 3T24. Essa recuperação é impulsionada pela Realize CFI e indica uma gestão de crédito eficiente e um aumento na rentabilidade da empresa.
O InvestingPro traz como destaque para a empresa os 20 anos de pagamento de dividendos relevantes, elevando-os nos últimos três -- o Dividend Yield atual é de 3,9%. O mercado prevê mais de R$ 1,3 bilhão de lucro líquido no ano, acima dos R$ 976 milhões de 2023. A Margem Bruta de 60% está acima da média no setor, enquanto o Shareholder Yield de 12,6% também se destaca -- o indicador combina dividendos, recompra de ações e redução da dívida para mostrar o retorno total aos acionistas.
A nota geral de Saúde Financeira da Renner é de 3,01 (B). Sua categoria de maior destaque é a de Valor Relativo (3,60) graças a métricas como o P/L de 13,0x e o EV/EBITDA de 8,9x. A empresa ainda traz potencial de valorização de 37% para os próximos 12 meses a partir do preço-justo, com uma média de 14 modelos de valuation.
C&A
A C&A foi fundada em 1841 pelos irmãos Clemens e August Brenninkmeijer na Holanda, e iniciou suas operações no Brasil em 1976. Desde então, se consolidou como uma das maiores redes de varejo de moda do país. O modelo de negócios aqui é centrado em oferecer moda acessível e de qualidade, com uma variedade de produtos que incluem roupas, calçados e acessórios para diferentes faixas etárias e estilos. A empresa adota uma estratégia multicanal, operando tanto lojas físicas quanto as de e-commerce, buscando integrar a experiência de compra dos clientes. Além disso, investe em sustentabilidade e inovação, adotando práticas como o uso de materiais ecoeficientes e iniciativas para reduzir o impacto ambiental.
A C&A apresentou lucro líquido de R$ 197,5 milhões no 3T24, revertendo o prejuízo do 3T23. Esse resultado positivo foi impulsionado pelo crescimento da receita com a venda de mercadorias e serviços. A empresa também apresentou um aumento significativo no caixa consolidado. Por outro lado, a ela registrou um Capital Circulante Líquido negativo, o que pode indicar dificuldades na gestão do capital de giro. Além disso, a empresa precisou realizar reclassificações em seus demonstrativos de fluxo de caixa do 3T23.
- Aumento do caixa: A C&A encerrou o trimestre com R$ 949,1 milhões em caixa consolidado, um aumento significativo em relação aos R$ 1,15 milhões em 31 de dezembro de 2023. Esse aumento do caixa pode indicar uma gestão financeira eficiente e a capacidade de gerar caixa a partir das operações.
- Lucro líquido positivo: No 3T24, a C&A apresentou um lucro líquido de R$ 197,5 milhões. Isso contrasta com o prejuízo registrado no 3T23, demonstrando uma recuperação da lucratividade da empresa.
- Crescimento da receita com venda de mercadorias: A receita líquida com a venda de mercadorias e serviços atingiu R$ 5,1 bilhões no período acumulado de 9 meses findo em 30 de setembro de 2024. Esse valor é superior ao registrado no mesmo período de 2023, indicando um crescimento das vendas da C&A.
O InvestingPro aponta destaque para o Shareholder Yield de 13% da empresa. Há expectativa de lucro acima dos R$ 160 milhões ao fim de 2024, contra apenas R$ 2 milhões ao fim de 2023. A Margem Bruta de 51% e o Rendimento do Fluxo de Caixa Livre de 26% estão acima da média do setor.
A nota geral de Saúde Financeira da C&A é de 3,27 (B). A categoria mais proeminente é a de Valor Relativo (3,90) por conta de múltiplos de valuation como o PEG Ratio de 0,02x, o P/FCO de 3,5x e o P/FCL de 3,8x. Já a ferramenta de preço-justo calcula um potencial de valorização de 21% para os próximos 12 meses, baseada na média de 13 modelos de valuation.
Guararapes
Fundada em 1956, a Guararapes é a controladora da rede de lojas Riachuelo e uma das maiores empresas do setor de vestuário do Brasil. A empresa começou suas operações como uma pequena confecção e, ao longo das décadas, expandiu significativamente suas operações de varejo e produção industrial. O modelo de negócio inclui a verticalização das operações, com a Riachuelo atuando no varejo e suas fábricas próprias sendo responsáveis pela produção das mercadorias, permitindo controle sobre a cadeia de produção e distribuição -- o que facilita a adaptação às demandas do mercado e otimiza a logística. A empresa também oferece soluções financeiras através do Midway Financeira, fortalecendo seu relacionamento com os consumidores por meio de serviços de crédito e financiamento.
A Guararapes demonstrou uma recuperação expressiva no 3T24, com lucro líquido de R$ 45,1 milhões e um EBITDA ajustado recorde de R$ 350,2 milhões. A empresa gerou um caixa livre consistente e reduziu sua alavancagem financeira pelo quarto trimestre consecutivo. Apesar dos resultados positivos, também registrou uma queda no ticket médio do cartão Riachuelo e na margem bruta da Midway Shopping.
- Recorde de EBITDA ajustado: A Guararapes atingiu um EBITDA ajustado consolidado de R$ 350,2 milhões no 3T24, o maior valor já registrado para um terceiro trimestre. Esse resultado demonstra a forte performance operacional da empresa e o sucesso de suas estratégias de crescimento de margem.
- Geração de caixa livre consistente: A empresa gerou R$ 91,8 milhões em caixa livre no 3T24, acumulando R$ 425,4 milhões nos primeiros nove meses de 2024. Essa geração robusta de caixa demonstra a capacidade da Guararapes de financiar seus investimentos e reduzir seu endividamento.
- Redução da alavancagem financeira: A Guararapes reduziu sua alavancagem financeira pelo quarto trimestre consecutivo, atingindo 0,6x em setembro de 2024. Essa redução indica uma gestão eficiente do endividamento e um menor risco financeiro para a empresa.
O InvestingPro aponta alguns destaques da empresa atualmente. O principal é que o mercado espera mais de R$ 170 milhões em lucros totais ao fim do ano, revertendo o prejuízo acumulado de R$ -34 milhões em 2023. A Margem Bruta da Guararapes também impressiona com 58%, enquanto o setor tem uma média de 38%. O Rendimento do Fluxo de Caixa Livre de 35% também supera a média de 21% da concorrência. Quanto ao passivo, a Liquidez Corrente de 1,6x é suficiente para cobrir as obrigações de curto prazo.
A nota geral de Saúde Financeira da Guararapes é de 2,83 (C). O maior destaque vai para a categoria Valor Relativo (3,70) por conta de múltiplos de valuation interessantes como o P/FCO de 2,6x e o P/FCL de 2,8x -- além do já citado yield do FCL. Para finalizar em nota alta, a cotação da GUAR3 está com um upside positivo de 35% de acordo com a média de 15 modelos de valuation.
Comparação Rápida
Valor de Mercado
LREN3: R$ 16,0 bilhões
CEAB3: R$ 4,1 bilhões
GUAR3: R$ 4,4 bilhões
Saúde Financeira
LREN3: 3,02 (B)
CEAB3: 3,26 (B)
GUAR3: 2,83 (C)
Upside do Preço-Justo
LREN3: +37,1%
CEAB3: +21,0%
GUAR3: +35,1%
Receita 3T24
LREN3: R$ 3,4 bilhões
CEAB3: R$ 1,7 bilhão
GUAR3: R$ 2,3 bilhões
Lucro Líquido 3T24
LREN3: R$ 255 milhões
CEAB3: R$ 42 milhões
GUAR3: R$ 45 milhões
Receita 2023
LREN3: R$ 13,6 bilhões
CEAB3: R$ 6,7 bilhões
GUAR3: R$ 8,7 bilhões
Lucro Líquido 2023
LREN3: R$ 976 milhões
CEAB3: R$ 2,3 milhões
GUAR3: R$ -34 milhões
Dívida Total
LREN3: R$ 3,7 bilhões
CEAB3: R$ 3,0 bilhões
GUAR3: R$ 3,1 bilhões
Dívida/Patrimônio Líquido
LREN3: 11,2%
CEAB3: 58,4%
GUAR3: 38,7%
Margem Líquida
LREN3: 8,8%
CEAB3: 5,0%
GUAR3: 2,3%
ROE
LREN3: 12,3%
CEAB3: 12,2%
GUAR3: 4,2%
ROIC
LREN3: 8,1%
CEAB3: 7,7%
GUAR3: 6,7%
Relação P/L
LREN3: 13,0x
CEAB3: 11,2x
GUAR3: 20,7x
EV/EBITDA
LREN3: 8,9x
CEAB3: 5,8x
GUAR3: 6,5x
P/VPA
LREN3: 1,5x
CEAB3: 1,3x
GUAR3: 0,9x
Dividend Yield
LREN3: 3,9%
CEAB3: 0,0%
GUAR3: 1,4%
O que você acha das varejistas de moda? Investe em alguma?
OBS: Dados coletados na segunda-feira, 11 de novembro de 2024