Nesses últimos 30 dias, vimos a curva de juros sofrer uma queda vertiginosa, enquanto a Bolsa não teve tão boa performance.
O DI janeiro de 2025 caiu aproximadamente 100 basis points (ou 1 ponto percentual), indo de 8,70 para 7,70.
Os juros curtos, que não precificavam queda da Selic até o mês passado, agora já precificam cerca de 50 bps de queda, durante o segundo semestre do ano.
O que será que aconteceu para, de repente, o mercado ficar tão otimista com juros no Brasil?
Apesar de os nossos dados de atividade recentes terem vindo mais fracos, esse movimento vem acontecendo ao longo do ano todo. Não é um fato novo.
O crescimento de 1 por cento já vinha sendo ventilado por economistas desde que as expectativas do Focus estavam em 2 por cento.
A inflação baixa e os núcleos de inflação mostrando que os preços estão totalmente controlados também já vinham de longa data!
Então, o que mudou?
Uma gota no oceano
A grande mudança recente que tivemos foi uma reprecificação baixista do crescimento mundial.
Enquanto no começo do ano ainda falávamos de aumento de juros nos EUA, hoje, a curva de juros americanos já precifica uma chance de quase 30 por cento de queda na próxima reunião.
Os últimos dados de ADP e Payroll, que acompanham a criação de postos de trabalho, mostraram uma desaceleração impressionante.
Há quem diga que o Banco Central americano pode dar um "cavalo de pau" á lá Tombini e cair 50 bps de uma vez só na próxima reunião. Algo que não acontece há muito tempo! Eles costumam ir de 25 em 25.
O PMI global (que mostra o nível de atividade no mundo), assim como os indicadores antecedentes, está em queda livre. A expectativa para PIB global para 2019, que estava em torno de 2 por cento, já está caminhando para baixo de 1 por cento.
Semelhanças com nossas revisões locais não são meras coincidências.
Alguns países já estão se mexendo
Nesse contexto de baixo crescimento, alguns países já começaram a reduzir suas taxas de juros. Alguns inclusive de forma agressiva!
Na sexta-feira passada, o Chile optou por reduzir sua taxa básica em incríveis 50 bps, indo de 3 para 2,5 por cento. Essa variação é bem grande para quem tem uma taxa já tão baixa.
Mostra que a preocupação com a atividade está intensa, e muitos Bancos Centrais não querem saber de brincadeira.
A China também está descontente com a evolução da sua atividade, e vem anunciando uma série de medidas de estímulo à economia nas últimas semanas.
A expectativa de corte de juros nos EUA também vem sustentando a bolsa.
E agora BC?
Olhando para esse contexto global, e nossa atividade fraquíssima, vai ficar muito difícil para o BC justificar uma Selic estável ao longo das próximas reuniões.
Ele vem fazendo pressão em cima da necessidade da reforma da previdência, como condição necessária para o início da queda.
É possível que, se a reforma passar na Câmara até o início de julho, o BC tenha que acelerar o passo da primeira queda para 50 bps para não ficar muito atrás da curva. E isso deve fazer os juros curtos seguirem caindo forte por mais algum tempo.
O ganho para quem está aplicado nos juros curtos não seria tão significativo. Uma queda de 50 bps nos juros de 3 anos resultaria em um retorno de 1,5 por cento no seu patrimônio.
É pouco, se comparado ao potencial que a queda de juros e aprovação da reforma poderia causar em algumas ações da bolsa.
Por isso que os juros curtos, apesar de terem potencial de queda, não representam um bom cavalo para se investir.
Mas vai ser muito importante olharmos para o comunicado da próxima reunião do BC, dia 19 de junho. Ele deve dar maior flexibilidade para mudar seu discurso para a reunião do final de julho. E isso pode ser um trigger muito positivo para a Bolsa!
Vamos ficar de olho!
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