A frase acima foi pinçada de uma conversa com um executivo do mercado comentando sobre a queda brusca das cotações do açúcar na bolsa de NY na última sexta-feira. Um tombo de 3,66% no preço do vencimento outubro/2013 que encerrou a semana a 16,87 centavos de dólar por libra-peso. O outubro/2013 despencando a apenas alguns dias da expiração do contrato faz saltarem aos olhos a lerdeza e fraqueza do mercado físico confirmadas com a liquidação das posições compradas no mercado futuro e/ou roladas para o vencimento seguinte com um enfraquecimento do spread outubro/março. Não dá para dizer que isso estava no script. O [mercado] futuro acaba se ajustando à realidade do físico com a proximidade de uma entrega de açúcar num mercado de fraca demanda, foi essa a interpretação do executivo citado.
Durante a semana um gestor de fundos me disse que estava comprando calls (opções de compra) para o vencimento março/2014 no preço de exercício de 18,50 centavos de dólar por libra-peso e que o mercado “estava pronto para virar”. Os próprios fundos não-indexados estão comprados em 65.000 contratos (3,3 milhões de toneladas de açúcar equivalente) depois de passarem muitos meses vendidos. Teríamos tido ao longo desse último par de semanas um mercado ilusório? Também não é assim. Embora a queda tenha sido acentuada nessa sexta-feira no março/2014 (vencimento no qual os fundos estão posicionados) com queda de 53 pontos, o nível de fechamento (17,66) é menos de 0,7% da mínima de terça-feira, data base da apuração das posições dos comitentes.
Com exceção do vencimento outubro/2013 que caiu 31 pontos na semana (7 dólares por tonelada) todos os demais meses fecharam rigorosamente inalterados em relação à semana anterior. É fato que a fraqueza no mercado físico desestimula o recebimento de açúcar contra a tela de outubro e incentiva a rolagem para o mês de vencimento seguinte. E assim foi. Do ponto de vista apenas financeiro, comprar o spread outubro/março com 87 pontos de desconto e ainda contando com uma eventual melhora do prêmio do açúcar no físico para embarque/exportação em março/2014 não parece algo inviável. Se alguém se propusesse a receber açúcar na tela de outubro/2013, pode nomear o navio para dezembro e vender o março com prêmio de, digamos, 10 pontos, são quase 22 dólares por tonelada para carregar o produto por 3-4 meses. Se o sentimento for mesmo de que a demanda está largada então nada vai parecer fazer sentido. Mas, financeiramente, a operação fica em pé.
Comentamos recentemente (no comentário da semana retrasada “Águas calmas até quando?”) que o mercado estava predisposto a um movimento mais brusco. Uma queda com a magnitude de 3,66% (sempre base primeiro mês de vencimento) num único dia foi a mais acentuada do ano e a maior desde dezembro do ano passado. Num ano em que a 95% dos fechamentos ficou entre uma alta de 2,3% e uma queda de 2,3%, uma oscilação como essa de sexta, estatisticamente, ocorre 1 vez a cada 333 pregões.
Terá sido essa queda uma boa oportunidade para que mais compras surjam? Não acredito que os fundos se desfaçam de suas posições compradas nesse momento. Ainda existem pontos que podem suportar esse mercado como o rendimento da cana que está bem abaixo da expectativa com ATR de 131,67 e os rumores de aumento dos combustíveis (para variar um pouco). E uma outra coisa também: se houver uma mudança acentuada na percepção de risco (de alta) por parte dos participantes do mercado o que será que os vendedores de 70.000 lotes (3,6 milhões de toneladas equivalente) de calls com preço de exercício entre 18 e 20 centavos de dólar por libra-peso vendidas com baixa volatilidade, farão a respeito?
O volume de moagem de cana publicado pela UNICA, de 406,2 milhões de toneladas acumulada na primeira quinzena de setembro, se projetado pelo percentual correspondente nas cinco safras anteriores, teremos um volume total para esta safra 2013/2014 entre 590 e 595 milhões de toneladas.
Usando como base o fechamento do primeiro mês de vencimento em NY e a taxa de câmbio do Banco Central, o fechamento do açúcar na sexta-feira foi de R$ 871,08/tonelada, ligeiramente abaixo dos R$ 874,53/tonelada da semana anterior. A média do ano é de R$ 843,78/ tonelada FOB Santos.
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