O mercado financeiro inicia a última semana de agosto promovendo, como esperado, os ajustes finais antes da chegada de setembro. Não restam mais dúvidas de que o Federal Reserve irá promover o primeiro corte na taxa de juros dos Estados Unidos em mais de quatro anos no mês que vem.
As palavras de Jerome Powell na sexta-feira (23) deixaram claro que “chegou a hora”. Porém, ele não deu pistas sobre se a queda será à dose mínima, de 0,25 ponto, ou não. A segunda prévia do PIB dos EUA no trimestre passado, na quinta-feira (29), e o índice de preços preferido do Fed, o PCE, no dia seguinte, devem ajudar a calibrar essa dosagem.
Além disso, os investidores querem saber quantas quedas adicionais ainda cabem neste ano - se mais uma, duas ou nenhuma. Talvez só o gráfico de pontos (dot plot) seja capaz de responder a essas perguntas, contemplando as projeções de todos os membros (votantes ou não) do Comitê do Fed (Fomc).
Mercado define juros lá e aqui
Com isso, cai por terra a possibilidade ventilada no mercado doméstico de alta da taxa Selic em setembro. O que já parecia pouco factível perde a razão de acontecer, deixando para os agentes financeiros esse entendimento. Agora cabe a eles adaptar esse cenário aos preços dos ativos locais e às variáveis macroeconômicas.
A agenda econômica desta semana deve ajudar a calibrar essas expectativas. A prévia da inflação oficial ao consumidor brasileiro (IPCA-15), amanhã, e dados sobre o mercado de trabalho formal (Caged) e sobre o desemprego (Pnad), na quinta e sexta-feira, ajudam a avaliar por quanto tempo mais o juro básico deve permanecer estável em 10,50%.
Nesse caso, o ajuste fica mesmo mais concentrado no dólar. Cada vez mais o câmbio na faixa de R$ 5,50 vai ficando fora de lugar. E quanto mais tempo permanecer próximo a essa marca, mais intensa será a correção. Na lógica do “carry trade”, o diferencial maior entre os juros nos EUA e o daqui beneficia o real, em meio à entrada de recursos externos.
Mercado vai virar a chavinha?
Falando nisso, os gringos continuam injetando capital na bolsa brasileira. Apesar da retirada no dado mais recente (21), o saldo dessa conta no mês continua positivo em R$ 7 bilhões. O fluxo em agosto vai na contramão do déficit de quase R$ 30 bilhões no acumulado do ano até a mesma data.
Além disso, a posição comprada dos estrangeiros em dólar minguou para menos de 100 mil contratos em aberto, o equivalente a US$ 3,8 bilhões (aproximadamente R$ 20,9 bilhões). Já em índice futuro, a aposta na alta do Ibovespa soma praticamente a mesma quantia, valendo pouco mais de R$ 20 bilhões.
Ou seja, são os investidores locais - institucionais, principalmente - que ainda não “viraram a chavinha” e seguem com a estratégia rentista de ganhar com os juros altos da renda fixa. Para eles, prevalece a retórica de que o aquecimento do mercado de trabalho e o risco fiscal demandam uma puxão para cima da Selic - e não um juro estável por longo período.