Lembra do que conversamos na segunda-feira, antes de sair para o Natal? Bingo! A grande incógnita para 2014 está firme e forte, ela não partilha do seu (que não é o meu) recesso de fim de ano. A nova projeção aponta crescimento da ordem de 7,6% para a economia da China em 2013, o que não é nada mal. Do outro lado, nas entrelinhas, os desequilíbrios de liquidez no interbancário chinês são o principal motivo para preocupação nesta virada de ano. A mão que afaga é a mesma que bate.
O pior pior do mundo
No clima das retrospectivas, vem chamando atenção o ranking que coloca o Brasil como a pior dentre 48 principais Bolsas do mundo. Com a queda de 15,6% acumulada no ano, o Ibovespa passa longe de todo e qualquer índice acionário com alguma relevância, sob qualquer critério. Perdemos de lavada para Bolsas de economias com fundamentos altamente questionáveis e elevado risco de movimentos sociais, como Venezuela (+485%) e Argentina (+92%); para Bolsas de economias que vêm de episódio recente de recessão, como Grécia (+24%) e Espanha (+17%); de economias maduras com prognóstico pouco vistoso de crescimento dos lucros corporativos, como Japão (+59%); de economias em recuperação, como EUA (+24%); e até de incógnitas como a China (-3%). Não seria o momento ideal para apostar na Bolsa brasileira, contra tudo e contra todos?
Calma lá!
Não é porque caímos bastante que vamos subir bastante. Lembre-se, “cair bastante” é bem diferente de “cair demais”, e não é porque caímos que estamos baratos. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, já dizia o filósofo Luxemburgo. Pelo contrário, em termos de múltiplos o Ibovespa negocia acima de seu histórico, na casa de 17x Preço/Lucros. Como se não bastasse, nossa economia está pior do que as outras e todos os sinais sugerem a fuga de capitais: moeda frágil, economia baseada em commodities em um cenário de enxugamento de liquidez, provável perda de rating, histórico recente de ingerência política, incerteza adicional relacionada às eleições... Não vá com tanta sede ao pote. Você pode se afogar.
A boia (melhor, o guarda-chuvas)
Nesse vai-não-vai, tem muita gente questionando se não é hora de sair da Bolsa e esperar olhando de fora, para depois voltar para uma Bolsa potencialmente mais barata. Fosse comprar o Ibovespa todo, ou fazer uma cesta de ações que refletisse a média do mercado, preferia ficar de fora. Felizmente não há uma ação IBOV3 (há uma indireta, o BOVA11), e existem ações que devem ir muito bem independentemente da tempestade que se avizinha. No segundo episódio das ações que não têm medo de chuva, falamos de uma ação que cai 29% em 2013, ano em que todos os seus gatilhos se tornaram ainda mais evidentes, e que aponta upside de 67% considerando as nossas contas do que seria minimamente justo para ela. PS: Aproveitando o clima de Natal, quem assinar hoje a série Stock Picking, além de remar em favor da maré e desvendar a lista de papéis que subiram bem em 2013 e devem continuar subindo em 2014, leva esse segundo episódio das ações sem medo de chuva na faixa.
O alento
Dias desses, a Dilma reconheceu pela primeira vez que a coisa foi “complicada” para a economia brasileira esse ano. Uma Dilm(e)a culpa, que reconheça erros e tente aliviar a imagem de intervencionismo truculento, é certamente mais amigável (aos olhos do mercado) do que aquela Dilma com cara de Maquiavel. Em outra iniciativa boa neste sentido, o governo zerou o IOF sobre ADRs, os recibos de ações brasileiras negociados nas Bolsas americanas. A cobrança era mais uma das distorções de mercado que não gerava arrecadação relevante aos cofres públicos e ainda atrapalhava movimentos de arbitragem entre papéis negociados aqui e lá fora. Pode?
A nova (velha) OGX
Eike Batista enfim se vingou dos jornalistas, anunciado o acordo de OGX com seus credores com todos à mesa para a ceia de Natal. A dívida da ordem de R$ 13 bilhões da petroleira foi convertida em ações, de forma que os atuais acionistas representarão 10% da nova empresa. Eike, diretamente, fica com 5% da “nova OGX”. Somando o que deterá via OSX, chega a 9,4% de participação. Haverá também injeção de US$ 200 milhões em dinheiro novo na companhia. O episódio que pode tirar OGX da recuperação judicial e dar uma sobrevida à empresa apenas confirma a tese de muuuuito tempo para as ações: a entrega dos ativos a preço depreciado para os credores em troca de abatimento de dívidas e, claro, uma diluição gigantesca.
Quanto vale (e deve valer) a nova OGX?
O mercado parece ter gostado. A euforia pós acordo sustenta uma valorização de 26% para OGXP3. Isso é muito ou é pouco? Ainda acho as ações caras nesses R$ 0,24. Se a velha OGX é 10% da nova, nesse preço o valor de firma da “nova OGX” é de R$ 6,98 bilhões (valor das ações - caixa + dívida).
Considerando que a reestruturação da empresa é uma aposta final em Tubarão Martelo. Ignorando a credibilidade da projeção e considerando o atingimento do pico de produção que a empresa afirma para o ativo, de 30 mil barris por dia, chegaria a cerca de R$ 745 milhões de geração de caixa operacional (ebitda) anual para a empresa no melhor cenário do mundo. Isso representaria um múltiplo da ordem de 9,4x ev/ebitda para a nova OGX operacional em um completo céu de brigadeiro. Portanto, com elevado risco de materialização e, ainda assim, baixo potencial de valorização. Se há algum mérito nessa história, talvez seja o da descoberta de uma vatangem comparativa de Petrobras. O que você prefere? Pagar 9,4x ebitda pela Nova OGXP, ou 7x ebitda por PETR?
Para visualizar o artigo completo visite o site da Empiricus Research.