Na última semana, uma nova pesquisa de avaliação trouxe más notícias para o Governo Lula III: a aprovação popular continua em queda. A resposta oficial foi previsível: "A gente não comunicou corretamente. As pessoas não sabem das coisas que nós fizemos."
Mas será que o problema é só de comunicação?
Mesmo com o desemprego em baixa e com o salário mínimo corrigido acima da inflação oficial, a insatisfação persiste. O governo escapou até agora de grandes escândalos de corrupção, mas peca por falta de uma política econômica robusta e por erros de articulação política.
Além das turbulências internacionais, o brasileiro vem enfrentando um problema doméstico difícil de disfarçar: a perda do poder de compra. Entre 2022 e maio de 2025, o IPCA acumulado supera 26%, o que significa uma queda real de cerca de 21% no poder aquisitivo médio da população.
Ou seja: o salário pode ter subido no papel, mas, no bolso, a conta não fecha.
Ao contrário da gestão anterior, que além de cortar gastos — inclusive fechando alguns ministérios — ainda diminuía impostos, o atual governo aumentou a carga tributária de 30,26% do PIB para 32,32% em 2024.
Ao contrário do senso comum, quem paga essa elevação tributária é o povo. Toda essa alta no custo é repassada ao consumidor final e, do rico ao pobre, todos acabam sendo atingidos.
Ainda precisamos lembrar que as taxas de juros já estão em 15% ao ano. Ou seja: a Selic alta afeta diretamente o custo do crédito, desestimula o investimento produtivo e aumenta o serviço da dívida pública.
Combinando carga tributária elevada e política monetária restritiva, o resultado é um supermercado cada vez mais caro.
Por exemplo, a gasolina aumentou mais de 20% nos últimos dois anos, e essa alta tem impacto direto no dia a dia do brasileiro.
Este artigo não é um desabafo contra o governo, mas uma análise realista da situação.
Passamos boa parte deste governo sem uma grande guerra ou uma crise internacional desestabilizadora. Agora, porém, temos um conflito crescente entre Israel e Irã, com risco de escalada para uma guerra de maiores proporções. Há ainda uma rusga ideológica com Trump nos Estados Unidos e uma China — maior compradora de nossas commodities — dando sinais de desaceleração.
Além disso, o tão esperado acordo Mercosul-União Europeia, que poderia dar algum alívio às exportações brasileiras, segue travado. Agricultores europeus pressionam seus governos a rejeitar o tratado, com o argumento de que ele traria prejuízos à indústria agrícola local. As barreiras protecionistas da Europa continuam sendo um entrave significativo.
A comunicação ajuda, mas a economia é preponderante.