A gestão de risco cambial deixou de ser uma preocupação secundária para empresas brasileiras com exposição ao comércio internacional. A volatilidade da moeda nacional, agravada por incertezas internas e externas, impõe desafios significativos ao planejamento financeiro, especialmente para pequenas e médias empresas.
Comparamos a oscilação do real e do yuan frente ao dólar, com base na série histórica no primeiro trimestre de 2025, observamos um contraste marcante: a volatilidade anualizada do real é de 11,84%, enquanto a do yuan é de 3,89%. Em termos práticos, isso significa que o real apresenta uma instabilidade quase três vezes maior do que a moeda chinesa. A comparação ilustra com clareza o diferencial de risco enfrentado por empresas brasileiras ao operar em dólar.
Fonte: Bloomberg
Essa disparidade tem implicações diretas sobre a competitividade das empresas nacionais. Oscilações bruscas no câmbio afetam o custo de importações, a formação de preços e as margens comerciais de contratos firmados em moeda estrangeira. Para empresas com margens reduzidas ou compromissos de longo prazo, como ocorre nos setores industrial, têxtil e alimentício, a imprevisibilidade cambial representa uma vulnerabilidade real.
Em economias mais estáveis, a exposição ao risco cambial tende a ser mais administrável. No Brasil, porém, a volatilidade estrutural da moeda exige uma abordagem mais sistemática e institucionalizada de proteção. Ainda assim, grande parte das pequenas e médias empresas permanece desprotegida, muitas vezes por falta de informação ou acesso a instrumentos financeiros adequados.
A questão cambial, nesse contexto, vai além da conjuntura e se insere na agenda de produtividade. Reduzir os impactos da volatilidade sobre as PMEs não depende apenas de políticas macroeconômicas, mas também da difusão de práticas de gestão de risco no nível microeconômico. Dada a persistência do cenário de instabilidade, trata-se de uma agenda que deve ganhar prioridade.