A reforma tributária brasileira, sancionada em 2025, promove mudanças profundas no sistema de arrecadação de impostos, destacando-se a eliminação do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e a introdução do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS). Essas alterações afetaram diretamente o ambiente empresarial, especialmente no que tange aos incentivos fiscais que muitas empresas utilizaram para reduzir sua carga tributária e fomentar investimentos regionais.
O ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), tradicionalmente, é vum imposto estadual que permitia a concessão de incentivos fiscais, como isenções e reduções de alíquotas, para atrair investimentos e promover o desenvolvimento econômico regional. A proposta de reforma tributária que prevê a eliminação do ICMS traz impactos significativos para o ambiente empresarial brasileiro. Um dos efeitos mais relevantes é a redução de incentivos fiscais que diversos setores utilizam para reduzir seus custos operacionais. Sem eles, as empresas precisarão buscar novas formas de otimizar seus processos e reduzir custos.
Com a eliminação do ICMS e a consequente perda de relevância dos incentivos fiscais regionais, a lógica tradicional de desenho da malha logística — historicamente orientada por alavancas tributárias — perde seu fundamento. O que antes se justificava pelo ganho fiscal, mesmo com aumento de custos operacionais, agora exige uma abordagem mais racional e estratégica. Nesse novo cenário, o planejamento logístico passa a se basear em critérios objetivos como distância, tempo de entrega, custo por quilômetro e emissões de carbono. Isso impõe um redesenho estrutural da cadeia de distribuição, com decisões cada vez mais orientadas por dados e apoiadas por modelos multicritério que equilibram eficiência operacional e impacto ambiental. A transição de uma malha fiscal para uma malha operacional-ambiental marca uma mudança profunda na forma como as empresas estruturam sua logística, abrindo espaço para soluções mais eficientes, sustentáveis e alinhadas com os desafios contemporâneos do país.
Tabela Comparativa “Pré e Pós-reforma”
Fonte: Peers Consulting + Technology
A incorporação das emissões de carbono como variável central na revisão da malha logística desponta como uma tendência estratégica para empresas que buscam alinhar eficiência operacional e sustentabilidade. Ao integrar critérios ambientais aos modelos de otimização logística, as organizações não apenas reduzem custos e aumentam a eficiência, mas também se posicionam de forma mais competitiva em um mercado global cada vez mais orientado por exigências ambientais. Essa convergência entre performance econômica e responsabilidade climática torna-se ainda mais relevante no contexto do novo regime tributário, que exige maior racionalidade nas decisões logísticas e amplia o protagonismo da sustentabilidade como vetor de valor e diferenciação
Além da busca tradicional por rotas mais curtas e de menor custo, a crescente preocupação ambiental e as metas globais de redução de emissões de gases de efeito estufa reforçam a necessidade de incorporar a variável de carbono como critério na otimização da malha logística. Em 2023, o setor de transportes foi responsável por 223,8 milhões de toneladas de CO₂ equivalente — 44% das emissões do setor de energia no Brasil — com destaque para o modal rodoviário. Esse aumento de 3,2% em relação a 2022 evidencia o papel central do transporte na pegada de carbono nacional.
A redução das emissões é uma prioridade global, e o Brasil precisa cortar 92% de suas emissões até 2035 para cumprir as metas do Acordo de Paris. Nesse contexto, as empresas assumem um papel fundamental na transição para uma logística de baixo carbono. Ao incluir as emissões como variável decisiva no planejamento de rotas, é possível equilibrar eficiência operacional com responsabilidade ambiental.
Essa abordagem integrada permite redesenhar a malha logística com foco na redução do impacto ambiental, mesmo que isso implique optar por rotas que não sejam as mais curtas. Em muitos casos, essas alternativas podem representar menor consumo de combustível e, consequentemente, menores emissões. Diante da forte dependência do transporte rodoviário por combustíveis fósseis — com consumo recorde de diesel e gasolina em 2023 — torna-se urgente adotar veículos mais eficientes e tecnologias avançadas de monitoramento em tempo real, reforçando o compromisso com a descarbonização do setor logístico.
Dados recentes do SEEG mostram que, para que o Brasil cumpra as metas do Acordo de Paris, será necessário um esforço contínuo e articulado, especialmente em setores como transporte e logística, que respondem por parcela expressiva das emissões nacionais. Nesse contexto, a reforma tributária de 2025 representa um ponto de inflexão para o ambiente empresarial ao extinguir o ICMS e simplificar o sistema com a criação do IBS e da CBS, reduzindo incentivos fiscais regionais e exigindo maior adaptação por parte das empresas. Diante desse novo cenário, a reestruturação da malha logística, com apoio de tecnologias avançadas e foco na redução de emissões de carbono, deixa de ser apenas desejável e passa a ser estratégica. Empresas que souberem alinhar eficiência operacional à sustentabilidade estarão mais preparadas para se manter competitivas, cumprir obrigações regulatórias e contribuir ativamente para um modelo de desenvolvimento mais justo, moderno e ambientalmente responsável.
Fontes:
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SEEG - Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa. Relatório Analítico 2024
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Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Atlas da Eficiência Energética Brasil 2023 – Relatório de Indicadores.
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Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. Brasil entrega à ONU nova NDC alinhada ao Acordo de Paris.
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Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. Plano Clima: Governo federal lança consulta pública da Estratégia Nacional de Mitigação.