Desde a semana de 29 de julho a 2 de agosto os investidores precisam de uma boa dose de Rivotril para acalmar a tensão e nervosismo que passou a imperar. O motivo principal é a decisão inesperada de Trump que passa a cobrar tarifa de 10% (e pode ampliar até 25%) sobre produtos chineses. Decisão inesperada já que as notícias indicavam que os negociadores americanos e chineses tinham classificado o encontro em Xangai como eficiente, aprofundando discussões e já com encontro agendado para o início de setembro. O mundo chegou a respirar aliviado, entendendo que poderia significar acomodação das disputas. Com os EUA mais benevolente com as empresas chinesas, basicamente a gigante de tecnologia chinesa saindo da lista de restrições americanas, e a China passando a comprar mais produtos agrícolas dos americanos.
Tudo desmoronou com a nova tarifação anunciada e a nova leitura foi em direção diametralmente oposta. Agora americanos e chineses fazem “piquenique na beira do vulcão” e voltam a colocar a economia global em risco de desaceleração. Foi o que bastou para os mercados reajustarem rapidamente. O mercado americano que vinha acumulando novos recordes históricos de pontuação nos principais índices, transformaram a semana de 29 de julho a 2 de agosto, na pior queda semanal do ano de 2019. O Dow Jones perdeu 2,60% e o Nasdaq fechou em -3,91%. A Bovespa fechou até com queda pequena de 0,16%. Mas os piores transtornos estariam por vir.
O processo de aversão ao risco tomou conta dos investidores em todo o mundo, e claro, o desequilíbrio aconteceu no câmbio. A moeda yuan (China) chegou a ser cotada em sete unidades por dólar, na maior desvalorização desde o ano de 2008. Trump acusou novamente os chineses de manipulação e “violação importante”, enquanto a China declarou que muitas moedas se desvalorizaram em relação ao dólar, que não fazem desvalorização competitiva de sua moeda e que mantém certa paridade em relação à cesta de moedas comparativas. Alegam ainda que está difícil comprar produtos agrícolas dos americanos dado os preços pouco competitivos.
O que parecia quase improvável de acontecer parece surgir. O mundo pode entrar em guerra comercial e o protecionismo certamente surgirá. Diante disso, as commodities petróleo e minério de ferro registraram fortes quedas. O minério de ferro negociado na China que chegou a ser negociado acima de US$ 122 por tonelada, no início da semana voltou para a casa de US$ 100. O petróleo WTI negociado em NY observou queda de 10%. Enquanto isso, como sempre ocorre, ouro e prata passaram a mostrar altas na Comex e outras commodities em quedas na bolsa de Chicago.
Mas não foi só isso. A taxa de juros dos títulos americanos de dez anos despencou para 1,76%, o mesmo acontecendo com os títulos do Japão (JGBs) e da Alemanha (Bunds). Mercados desequilibrados com os juros e dólar em altas, e a Bovespa mostrando forte queda, seguindo mercados no exterior. Cabe ressaltar que somente no mês de julho os investidores estrangeiros sacaram liquidamente da Bovespa R$ 6,5 bilhões, engrossando a saída do ano para R$ 11,3 bilhões (até 1 de agosto de 2019).
No cenário local, além de absorvermos os efeitos externos da guerra comercial, teremos que: 1) conviver com ruídos decorrentes da volta do recesso do parlamento com expectativas sobre a segunda votação na Câmara da reforma da Previdência. Haverá o encaminhamento para votação no Senado e alguma possibilidade de desidratação 2) conviver com ruídos da reforma Tributária, que segundo nossa percepção poderá conter mais problemas do que a reforma da Previdência.
A semana será certamente de muita tensão mas a destruição de riquezas está sendo muito pesada e reduz o potencial de consumo (a sensação de riqueza acaba). Potencial importante na época de consumo baixo no Brasil e exterior. Seguimos recomendando prudência na assunção de riscos de curto prazo, apesar de encararmos o momento como oportuno para formação progressiva de carteiras com retornos de mais longo prazo.